Origens e ocupação
O Morro da Providência, entre os bairros da Gamboa e Santo Cristo no centro do Rio de Janeiro, ganhou seu nome definitivo na década de 1920, mas torna-se conhecido como Morro da Favela a partir de 1897. Foi o primeiro assentamento espontâneo da cidade, formado por soldados veteranos da Guerra de Canudos e por ex-escravos e moradores de cortiços, sem moradia nem promessas cumpridas pelo Estado.
Esses soldados vindos da Bahia ocuparam terrenos baldios próximos à Central do Brasil e à pedreira local, construindo os primeiros casebres. A planta espinhosa “favela”, comum em Canudos, inspirou o nome dado ao lugar, que se tornou símbolo da habitação por necessidade.
Crescimento e contexto urbano
No início do século XX, a política de “bota-abaixo” comandada pelo prefeito Pereira Passos demoliu cortiços no centro, como o famoso “Cabeça de Porco”, e empurrou milhares de pessoas para os morros vizinhos. O Morro da Providência, então com estrutura improvisada, se expandiu rapidamente com barracos de madeira, caiadas e telhados precários.
As condições de vida eram extremamente difíceis: sem água encanada, eletricidade, saneamento ou coleta de lixo, a favela sofria com doenças, deslizamentos e despejos constantes. Ainda assim, sua população criava formas de sociabilidade e convivência apesar do abandono estatal.
Cultura e legado
A Providência se firmou como roteiro cultural significativo. Nasceu ali o samba — com rodas musicais que misturavam heranças africanas e europeias, marcando o espaço como berço da identidade cultural urbana negra no Rio.
O célebre escritor Machado de Assis nasceu em 1839 em uma das casas da Providência, e o morro inspirou obras artísticas e cinematográficas como o filme Favela dos Meus Amores (1935) e composições como a música “Morro da Favela” (1916).
Desafios acumulados
Ao longo do século XX, enfrentou diversas tentativas de remoção, especialmente em 1904 (suspensa pela Revolta da Vacina), 1948 e especialmente uma grave explosão de dinamite em 1968 que matou dezenas e deixou centenas sem moradia. Ainda assim resistiu às demolições que atingiram outras favelas do Rio.
Em 2010 foi instalada uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e, em 2014, inaugurado um teleférico no contexto do projeto Porto Maravilha — melhorias simbólicas que contrastam com a permanência da falta de infraestrutura básica para muitos moradores.
Considerações finais
O Morro da Providência é mais que um espaço geográfico: é marca fundadora da política urbana brasileira, porta de entrada da favela no imaginário nacional e espaço simbólico de resistência cultural. Dos primeiros casebres aos batuques das rodas de samba, passando pelos cortes urbanísticos e violências estatais, ele mantém a memória viva de quem construiu seu próprio abrigo — mesmo sem ser reconhecido como cidadão com direitos.
As imagens revelam um morro que se verticaliza desordenado e carregado de densidade humana, um núcleo inicial que abriria caminho para milhares de comunidades semelhantes. Sua história ainda ecoa hoje como chamada por justiça urbana, cultura soberana e reconhecimento.
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Repostado de Carlos A Coelho
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