sexta-feira, maio 16, 2025

A arrogância da Caneta e a humildade da Enxada

A Caneta, dourada e cheia de si, proclamou: “Eu sou a rainha dos tribunais, dou diplomas, faço reis. Sem mim, ninguém sobe na vida. Sou fina, nunca toquei no chão. Enquanto escrevo o futuro, você só cava no sertão.” 

A Enxada escutou calada, mas a terra no seu cabo já dizia: ali só existe esforço, suor e sabedoria. Quando respondeu, foi certeira:

“Você mora no luxo, mas nunca sentiu o peso de uma mão calejada. Seus papéis enchem estantes, mas da minha terra vem a vida. Você forma doutores, mas por trás de cada um há uma Enxada quebrando o chão para dar valor à sua tinta.”

“Você escreve destinos, mas sou eu quem os sustenta.”

A Caneta tremeu e se calou. Percebeu que sem a Enxada, nem tinta teria.

Lição: Não é o diploma que sustenta a vida, mas o suor de quem trabalha de verdade.

Observação: Não sei a fonte. Mas o texto é muito importante para a nossa reflexão.

terça-feira, maio 13, 2025

A antiga Fazenda dos Jesuítas em Santa Cruz

O bairro de Santa Cruz, Rio de Janeiro , foi criado ao redor da Igreja de Santa Bárbara, residência dos Jesuítas que vieram administrar a Fazenda de Santa Cruz, o maior complexo agropastoril do Brasil durante o século XVIII.

A Fazenda dos Jesuítas foi fundada por Cristóvão Monteiro em 1556 nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Cristóvão ganhou a sesmaria como recompensa aos serviços prestados durante o combate aos invasores franceses da Guanabara. A sesmaria foi destinada à produção de açúcar e compreendia uma larga área desde a orla marítima da atual Sepetiba até as proximidades de Itacuruçá. Ao morrer Cristóvão Monteiro, sua esposa, dona Marquesa Ferreira, doou aos padres da Companhia de Jesus a sua parte das terras.



 


Os religiosos agregaram estas terras a outras sesmarias, constituindo um imenso latifúndio assinalado por uma grande cruz de madeira: a Santa Cruz. Em poucas décadas, a região compreendida entre a barra de Guaratiba, o atual município de Mangaratiba, até Vassouras, no sul do atual Estado do Rio de Janeiro, integrava a poderosa Fazenda de Santa Cruz, o maior complexo agropastoril do Brasil durante o século XVIII, contando com milhares de escravos, cabeças de gado, e diversos tipos de cultivos, como arroz, milho, feijão, batata e mais tarde o café.






Entre as edificações, hoje com valor histórico, contam-se igreja e um convento, ambos ricamente decorados. A primeira igreja que se tem registro nas terras de Santa Cruz data de 1751, quando ficou pronta a residência dos Jesuítas que vieram administrar a fazenda. A igreja tinha convento, com dois pavimentos e 36 celas, sendo o maior do Brasil. Inicialmente a padroeira de Santa Cruz era Santa Bárbara.

Em 1759 o Marquês de Pombal expulsa os Jesuítas do Brasil e a Fazenda de Santa Cruz passa a pertencer ao domínio da Coroa portugesa, ficando como responsável por ela, o Vice-Rei Antônio Álvares da Cunha.

Em 24 de julho de 1760, a igreja recebeu, do Vice-Rei Marquês de Lavradio, o título de Paróquia de Santa Cruz, tendo como padroeira Nossa Senhora da Conceição, utilizando ainda a matriz Jesuítica.

Em 1808, a Família Real Portuguesa chega ao Brasil, onde encontram na Fazenda de Santa Cruz um refugio no verão. Em 1889 a Família Imperial é deportada e a Sede da Fazenda passa a ser ocupada pelos militares do Exército.




Outra das iniciativas dos dirigentes da Fazenda de Santa Cruz, no plano da cultura, foi a fundação de uma Escola de Música, de uma Orquestra e de um Coral, integrados por escravos, que tocavam e cantavam nas missas e nas festividades quer na Fazenda, quer na Capital da Capitania. Considera-se por essa razão, que Santa Cruz foi o berço da organização instrumental e coral do primeiro Conservatório de Música no Brasil. No período republicano ela foi incorporada ao patrimônio da União e passou a se chamar Fazenda Nacional de Santa Cruz. Neste período também foi acrescentado um novo pavimento à sua sede, onde hoje está estabelecido o Batalhão Escola de Engenharia.

Repostado do perfil @brazilis_regnum

sexta-feira, maio 09, 2025

40 anos dos CIEPs: um modelo revolucionário

Quando Leonel Brizola, contrariando toda a lógica política da época, venceu as eleições para o governo do estado do Rio de Janeiro em 1982 — enfrentando o conluio das Organizações Globo e a tentativa de fraude eleitoral articulada pela ­Proconsult, com apoio do regime militar de João Batista Figueiredo — iniciou ao lado de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, a implantação do mais avançado e revolucionário projeto educacional da história do Brasil: os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs).

A concepção dos CIEPs representou uma das mais arrojadas e visionárias iniciativas educacionais já realizadas no país, fruto do olhar estadista de Brizola e da genialidade intelectual de Darcy Ribeiro. Tratava-se de uma escola pública de excelência, popular e comunitária, que compreendia a educação como um processo integrado — unindo profissionais qualificados, infraestrutura adequada e práticas pedagógicas inovadoras. Em resposta concreta à necessidade de democratizar o acesso ao conhecimento no Brasil pós-ditadura, os CIEPs foram criados como escolas de tempo integral voltadas as classes populares, com o objetivo de formar cidadãos plenos. Eram centros vivos de cultura, convivência e lazer, abertos à comunidade e enraizados nas realidades locais, onde os saberes populares eram respeitados e incorporados ao cotidiano escolar. Ao unir educação e cultura como pilares indissociáveis da cidadania, os CIEPs apontavam para um futuro promissor, sem romper com as raízes do povo brasileiro.

O projeto trouxe inovações profundas à educação pública. Com funcionamento das 8h às 17h, os CIEPs ofereciam muito mais do que ensino formal: garantiam alimentação adequada, higiene, atendimento de saúde, atividades esportivas, culturais e artísticas, reconhecendo que todas essas experiências fazem parte do processo educativo. Voltados prioritariamente às periferias urbanas, evidenciavam a escola como um espaço público plural — gratuito, laico, inclusivo e sustentado pelo Estado — onde a comunidade tinha voz e vez. A estrutura pedagógica rompia com o modelo tradicional: equipes multiprofissionais, currículo integrado e atividades interdisciplinares valorizavam a diversidade e os saberes locais. A presença dos animadores culturais, a participação ativa da comunidade e o combate aos currículos excludentes revelavam a intenção clara de formar sujeitos críticos, conscientes e emancipados.

A genialidade dos CIEPs residia justamente na simplicidade poderosa de sua proposta: nenhuma criança pode aprender com fome, sem saúde, sem acesso à cultura, ao esporte, ao lazer e ao afeto. Brizola e Darcy entenderam, como poucos, que cidadania se constrói desde a infância, com dignidade e oportunidades reais. Os países desenvolvidos já haviam provado essa lógica — e os CIEPs a materializaram em solo brasileiro. A proposta integrava escola, cuidado e cultura em um mesmo espaço, mostrando que o saber floresce quando a vida da criança é respeitada em sua totalidade. Alimentação, saúde, arte e conhecimento andavam juntos — e isso, no Brasil, chamava-se CIEPs.

No entanto, o projeto foi duramente atacado pelas elites retrógradas e por setores de uma esquerda desinformada — a chamada “esquerda que a direita gosta” — que combateram os CIEPs com argumentos mesquinhos e reducionistas, como a ideia de que “escola não é pensão”, ou que o projeto era caro demais. Acusavam Brizola de populista educacional, sem compreender — ou sem querer aceitar — a dimensão transformadora da proposta.

Desmontaram o projeto mais inovador e humanizador que o Brasil já conheceu. Em seu lugar, restaram as velhas escolas burocráticas e desonestas, que reproduzem um modelo fracassado, útil apenas à manutenção das desigualdades e das elites que se opõem ao desenvolvimento, ao povo e à emancipação social.

Quarenta anos depois, os CIEPs continuam atuais, necessários e profundamente inovadores. Em seu terceiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva chegou a reconhecer publicamente o erro — seu e de setores de seu partido — ao não apoiarem os CIEPs no passado. No entanto, ainda não implantou a concepção plena desse modelo em sua gestão.

Cabe a reflexão: até quando o Brasil negligenciará sua educação, ou seja, seu próprio futuro?

E cabe também o registro histórico da grandeza e da visão revolucionária de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro que ousaram construir não apenas escolas, mas um projeto de nação.

Texto de Henrique MattiHiesen

Formado em Direito e Pós-Graduado em Sociologia

Fonte: https://oestadoce.com.br/