quarta-feira, outubro 07, 2020

Livro destaca a importância do subúrbio e mostra riqueza de histórias a serem contadas



Rafael Mattoso, um dos organizadores do livro "Diálogos Suburbanos". Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo.

Já parou para pensar de onde vieram os nomes de bairros como Todos os Santos, Água Santa e Encantado? Curiosidades como essas sobre a história dos subúrbios cariocas e passagens divertidas sobre a região estão no livro "Diálogos suburbanos" (editora Mórula), conta o professor e historiador Rafael Mattoso, um dos organizadores da obra. Com textos de geógrafos, historiadores e cientistas sobre a formação de bairros como Irajá, Olaria, Penha e Bonsucesso e muitas imagens antigas, o leitor faz uma viagem ao passado.

- Os escravos fugidos ocupavam a base dos morros da região (de Irajá), que eram de difícil acesso. E os bairros ao redor tem os nomes ligados a isso: era lá onde os escravos podiam cultuar "todos os santos", com "água santa", considerado um "líquido encantado". Além disso, essa água passava na divisa entre Engenho de Dentro e Piedade, por onde é hoje a rua Dois de Fevereiro. Piedade, por exemplo, foi o primeiro bairro a ter luz elétrica e abastecimento regular de gás. Era uma região muito valorizada - conta Mattoso.

O professor estudou a transição entre o Império, quando toda a administração das freguesias e dos engenhos era feita pela igreja católica, e a República, quando foi criada a Lei Orgânica Municipal, que determina as novas circunscrições dos bairros como os conhecemos atualmente.

- A Igreja de Nossa Senhora da Apresentação é uma edificação de 1613, uma das mais antigas do Brasil, e está ligada diretamente à origem do subúrbio, Foi a partir dela, que ficava na freguesia rural de Irajá, de 1644, que surgiram as subdivisões, como as de Inhaúma, de 1743, e do Engenho Novo, décadas depois - conta o historiador, morador do Engenho Novo, que organiza encontros mensais com estudiosos da região e já planeja uma segunda edição do livro.

Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, em Irajá: importância histórica Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo.

Segundo ele, muitas histórias e pontos históricos do subúrbio são pouco conhecidos dos cariocas. Ele cita o Capão do Bispo, imóvel colonial que foi moradia do primeiro bispo do Brasil, dom José Joaquim Justiniano Mascarenhas de Castelo Branco, até o início do século XIX. 

Casa do primeiro bispo do Brasil, em Del Castilho Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo.

Do imóvel na atual Avenida Dom Helder Câmara, partiram as primeiras mudas de café em direção ao Vale do Paraíba e à Floresta da Tijuca.

Historicamente, a palavra subúrbio não tem nenhuma carga depreciativa. Os subúrbios eram os limites da cidade, as ligações entre os espaços rurais e as áreas que estavam se urbanizando. E essas áreas vão mudando e se deslocando conforme a ocupação do espaço. No entanto, no Rio de Janeiro, se estabeleceu uma área específica para se chamar de subúrbio: terras que pertenciam à aristocracia e que foram loteadas e vendidas para grupos mais humildes. Isso acabou estigmatizando a região - explica Mattoso.

Mattoso já prepara uma segunda edição do livro com dez novos autores Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo.

Por Diego Amorim

diego.amorim@infoglobo.com.br

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

4 comentários:

Unknown disse...

Adorei o texto. Parabéns é muito bom conhecer.

Adinalzir disse...

Que bom que você gostou! Volte sempre ao blog!

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

É muito bom saber que, de umas décadas para cá, o carioca passou a redescobrir o subúrbio de sua cidade, com uma rica história para contar. Há que se definir os pontos a serem preservados para fins de memória urbana e criação de roteiros turísticos, o que, certamente, irá gerar oportunidades de trabalho e renda para muitos moradores da Zona Norte.

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis

Concordo plenamente com você quanto a definição dos pontos a serem preservados. O maior problema é justamente o marasmo dos nossos políticos que nada fazem em prol da cultura e da educação. Por isso essa nossa luta não tem que continuar.