quarta-feira, setembro 25, 2024

Santo Antônio de Sá: A vila que sucumbiu às febres de Macacu

A fachada principal do antigo Convento de São Boaventura: área conservada atualmente pela Petrobrás. Foto: Custódio Coimbra. Agência: O Globo.

“Em 1829 a mais horrível peste assolou quase todo o município, e despovoou a considerável e rica vila tornada vasto cemitério em poucas semanas (...). Muitos proprietários mandaram demolir suas casas para recolher o desesperado produto da venda das madeiras, das telhas e das pedras”. O relato é do escritor e jornalista Joaquim Manuel de Macedo sobre a epidemia chamada de “febres de Macacu”, que foi o golpe para início da derrocada de Santo Antônio de Sá, próspero núcleo urbano do Recôncavo da Baía de Guanabara que hoje desapareceu do mapa. O lugar se tornou uma das cidades perdidas do Rio, das quais só sobraram as ruínas. Mas que, em seus vestígios, revelam-se ensinamentos para o presente.

Sant’Anna das Palmeiras, Iguaçu Velha e São João Marcos são outros desses baús de história, que viveram apogeus em diferentes épocas. Santo Antônio de Sá, que reluzia entre os rios Macacu e Caceribu (a pouco mais de 15 quilômetros da Guanabara, atualmente no município de Itaboraí), foi fruto de uma ocupação que remonta ao século XVI. Em 1697, o povoamento decorrente desse processo (o quarto mais antigo do Rio, depois apenas da capital, de Cabo Frio e de Angra dos Reis) é elevado à condição de vila, o que corresponde atualmente a um município. E terá como marco o Convento de São Boaventura, onde foi noviço o Frei Galvão, primeiro santo brasileiro.

O historiador Deivid Antunes da Silva Pacheco, do Instituto Histórico e Geográfico Itaborahyense, lembra que a vila se tornou um importante entreposto comercial, com portos que escoavam a produção agrícola dos sertões fluminenses. Na região, foi instalada a primeira moenda de cana-de-açúcar a vapor do país, que mereceu a visita de Dom João VI. Mas Pacheco ressalta: atreladas à pujança, as condições naturais do lugar, que favoreciam a formação de brejos e alagados, décadas de desmatamento (a exploração de madeira foi um dos pilares da economia local) e o assoreamento dos rios constribuíram para o surgimento das febres de Macacu, que aponta-se ter sido malária, cólera ou febre amarela.

- Em 1829, a epidemia foi tão forte que a sede da vila foi transferida, temporariamente, para outra freguesia, a de São João de Itaborahy, o que perdurou até 1832. Isso foi decisivo para que, no ano seguinte, o que hoje é Itaboraí se emancipasse de Santo Antônio de Sá - conta Pacheco.

A antiga Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá. Foto cedida pelo IHGI.

Quando o poder central retorna ao núcleo original, a decadência já estava instaurada. Data de 1841 o último inventário das alfaias do Convento de São Boaventura. Nas décadas seguintes , o território do velho município sofre vários desmembramentos - o primeiro deles é, inclusive, anterior, de 1772, quando o aldeamento indígena jesuítico de São Barnabé vira a Vila Nova de São José d’el Rei. A pá de cal para enterrar de vez o auge de Santo Antônio de Sá, diz Pacheco, veio em 1860, com a inauguração da Estrada de Ferro Cantagalo:

- Em vez dos rios, a produção passa a ser escoada pela ferrovia. Não por acaso, a sede da vila vai mudar para locais ao longo da via férrea, até chegar, em 1929, a Cachoeiras de Macacu, município que é o que restou de Santo Antônio de Sá.

Como os Sete Povos das Missões fluminenses: ruínas do Convento São Boaventura. Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo.

Daquele auge, ficaram as ruínas do convento franciscano e a torre do sino da Igreja Matriz, imponentes no que hoje é o Pólo GasLub (nome atual do Comperj). Parte do acervo do convento povoam igrejas da cidade do Rio. Os retábulos, por exemplo, estão na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado. Já na última década, em contrapartida da construção do complexo industrial, a Petrobras passou a conservar o espaço, e trabalhos arqueológicos resgataram centenas de itens levados para o Museu Nacional - e que se salvaram do incêndio que lambeu a instituição em 2018. Não há previsão, porém, de abertura do sítio histórico à visitação pública, segundo a Petrobras, por se tratar de área “de grande sensibilidade à segurança de pessoas e instalações”.

Texto de Rafael Galdo e Fotos de Custódio Coimbra. (16/01/2022)

Fonte: https://oglobo.globo.com/

AOS PREZADOS VISITANTES DESTE BLOG

No dia 25/09/2024, o Instituto Histórico e Geográfico de Itaboraí (IHGI) realizou em  25/09/2024, a 3ª visita técnica da instituição às ruínas do Convento São Boaventura, localizado em Porto das Caixas, como parte da missão institucional do instituto no campo da história, memória, arqueologia, patrimônio cultural e turismo. As ruínas são patrimônio cultural de reconhecimento federal, estadual e municipal, e foram objeto de uma importante obra de consolidação, patrocinada pela Petrobrás, entre 2013 e 2015. Sua inauguração ocorreu no dia 13 de setembro pelo Presidente da República. 

Créditos das imagens: @deivid.antunes

Acesse as fotos dessa visita acessando o link abaixo: 

https://drive.google.com/drive/folders/1rjcdEodOrLwDq1jmwR00w61HnX9eQg_p?usp=sharing

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