terça-feira, dezembro 13, 2022

História da Freguesia de Inhaúma


A Freguesia de Inhaúma, criada em 1743, passou a se destacar com a instalação da fazenda da Rainha Carlota Joaquina, que além do engenho de cana-de-açúcar (Engenho da Rainha), produzia café. A região compreendia as terras onde hoje estão os bairros de Pilares, Engenho de Dentro, Engenho da Rainha, Thomas Coelho, Del Castilho, Higienópolis, Olaria, Bonsucesso, e se estendia até a Penha.

O nome “Inhaúma” possui origem indígena (Tamoios) e é derivado do nome de um pássaro muito comum na região chamado "inhaúma" – ave de cor preta com uma espécie de chifre pontiagudo sobre a cabeça que habita lugares pantanosos.

Segundo Brasil Gerson, no livro História das ruas do Rio (1965), já no fim do Segundo Reinado, o Coronel Antônio Joaquim de Souza Botafogo, republicano e florianista, chefe de Gabinete de Rui Barbosa na Fazenda e Diretor Geral do tesouro e Inspetor Geral da Alfândega, com a decadência da atividade agrícola, desmembrou a região em pequenas propriedades pela venda de lotes a prestação, estimulando o comércio e fornecendo, ele próprio, o material de construção. O Coronel doou também o terreno para a construção do cemitério.

Ainda Segundo Gerson, entre a Lei do Ventre Livre e a Abolição, a região só contava com um colégio, o do Professor Cintra Vidal, no Caminho dos Pilares (Hoje rua Álvaro de Miranda). No largo perto da escola ficava a Venda dos Pilares, cuja denominação é atribuída aos adornos de pedra que decoravam a casa do vendeiro.

No trecho entre Manguinhos e Maria Angú, até a Estrada da Pavuna, tudo era Inhaúma, Engenho da Pedra ou Engenho da Rainha. De Bonsucesso não se falava até que D. Cecília Vieira de Bonsucesso reformasse em 1754 uma capela – erguida em 1728 por um devoto de Santo Antônio –, e que os canaviais da época passassem a se chamar “os campos de Bonsucesso”. O Engenho da Pedra passou a ser conhecido como “Engenho da Pedra e Bonsucesso”.    

A região de Bonsucesso era considerada a “passagem de Inhaúma para o mar”, e lá, em 1896, em terras doadas por Adriano da Costa Rocha, foi construída uma capela, no alto da rua Olga, onde foi colocada a imagem francesa de sua Santa padroeira, juntamente com a imagem de N. S. dos Navegantes – por devoção, transportada pelos pescadores para perto do mar com a inauguração da Avenida Brasil.

Com a deflagração da Primeira Guerra Mundial e por influência do engenheiro Guilherme Maxwell, responsável pela reurbanização e loteamento das terras do antigo Engenho da Pedra, a região de Bonsucesso passou a ser conhecida como “Cidade dos Aliados”, com praças e ruas de traçado perfeito e nomes conhecidos que homenageiam os países envolvidos nos combates, tais como as avenidas Londres, Paris, Bruxelas, Roma e Nova York, assim como a Praça das Nações.


Próximo à Praia Pequena de Benfica, no Morro do Amorim, ou Fazenda de Manguinhos, de propriedade do João Dias Amorim – dono de uma grande carvoaria numa parada da Leopoldina, futura estação Carlos Chagas –, estava localizado o crematório da Limpeza Pública com sua altíssima chaminé, onde, já no Governo Campos Sales, o Barão Pedro Afonso montou o Instituto Soroterápico, posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz.

Sobre a Penha, Nelson Costa, em seu livro Rio de ontem e de hoje (1958), afirma que a primeira capelinha erguida ali datava de 1635, contrariando alguns estudiosos que defendiam a data de 1613.

Para Nelson, a construção da ermida, atribuída ao capitão português Baltazar de Abreu Cardoso, está associada a uma lenda urbana, segundo a qual, no início do século XVII, o capitão Baltazar, ao subir o penhasco, foi atacado por uma cobra venenosa. Assustado, Baltazar apelou para Nossa Senhora, gritando: “Minha Nossa Senhora, valei-me!” Imediatamente, um lagarto teria surgido e devorado a serpente.  Por gratidão, o capitão mandou construir a igreja que ficou pronta em 1635. 

Outra versão sobre a construção da igreja é defendida por Gastão Cruls no livro Aparência do Rio de Janeiro:

Um caçador, já estafado por marchas e contra-marchas, no fim do dia improfícuo, se dispunha a descansar junto à penha onde hoje é a igreja. Quase nenhum lhe foi o sono reparador. Acorda a qualquer ruído e logo vê à sua frente, pronta a ataca-lo, monstruosa e hedionda serpente. Apela então para Nossa senhora, uma vez que lhe falta ânimo para qualquer movimento de defesa ou fuga. É quando aparece um lagarto que, ás rabanadas, maltrata e escorraça a cobra, e depois, calmamente, como a dizer-lhe que o acompanhe, sobe pelo morro acima. O homem, vai-lhe na trilha e, já quase no viso do penedo, apraz-lhe certo sítio, onde poderá repousar com mais segurança. Dorme, sim, mas não tanto como desejava. Assalta-o agora a sede e água não há por ali. Apela outra vez para Nossa Senhora. É quando lhe aparece um coelhinho branco, que o conduz até uma fonte. A Virgem, porém, já não lhe era apenas oráculo. Se o atendia nas aflições, pedia-lhe também alguma coisa. Que o seu protegido fosse até a lomba da penha, onde há muito jazia ao abandono a própria imagem dela que não podia continuar assim, exposta ao tempo. Urgia dar-lhe uma capelinha. E novamente o guia-coelhinho saiu à sua frente, agora para mostrar-lhe onde estava a imagem. E foi desta imagem e da capelinha logo levantada pelo caçador, que nasceu o culto a Nossa Senhora da Penha.

Localize a Freguesia de Inhaúma na Carta corographica da capitania do Ryo de Janeyro, capital dos estados do Brasil / Por Francisco João Roscio, 1777. Coleção: Benedicto Ottoni.

Saiba mais sobre a região consultando a BNDigital ou a Hemeroteca Digital Brasileira.

Texto e pesquisa: Histórias de Inhaúma.

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