sexta-feira, dezembro 17, 2021

Um pouco mais da história perdida de Sepetiba


Os tubarões da Osa Imobiliária querem roubar as terras dos lavradores. Dezenas de famílias camponesas ameaçadas de esbulho ganharam as terras ao mar, preparam-na para a lavoura e agora a OSA quer expulsá-los das plantações queimadas e lavouras destruídas. 

Nas proximidades de Santa Cruz, Campo Grande e Sepetiba, distante mais de três horas de viagem do centro urbano do Rio de Janeiro, fica localizada a Fazenda do Piaí. E uma vasta extensão de terras antigamente imprestáveis, mas que o trabalho abnegado dos que para lá se deslocaram transformou em terrenos aproveitáveis para a lavoura. 

Segundo informações dos lavradores que estiveram em contato com a nossa reportagem a fazenda dividida em vários lotes, mede mais ou menos, oito léguas quadradas e é habitada por dezenas de famílias camponesas.

NEM AQUI SE TEM SOSSEGO

Há uns vinte anos passados, aquelas terras situadas em grande parte a beira d'água apresentavam brejos imensos que constituíam focos de doenças. A custa de muito sacrificio, os lavradors conseguiram semear as terras e tranforma-las em lavouras, que abastecem em grande parte o mercado do Distrito Federal. Mas os camponeses vivem no mais completo abandono por parte do governo e como isso não bastasse, os terrenos já saneados, despertaram a cobiça das companhias imobiliárias, entre as quais a OSA, que passaram a atormentar a existência dos lavradores, tentando roubar-lhes as terras. Isso fez com que um deles revoltado com essa situação, dissesse ao repórter:

-Veja o senhor que ninguém fez nada pela gente e agora que estas terras melhoraram todos ficam de olho grande em cima delas.

E arrematou: -Nem aqui se tem sossego.

ONDE ENTRA A OSA

E o camponês tem toda a razão, pois a OSA, Companhia Imobiliária com sede na rua do Rosário 011, 4º andar, vem lançando mão de todos os recursos para abocanhar as terras da Fazenda Piaí. Os métodos de que se serve a empresa, em nada diferem dos usados por tantas outras: intimidação, violências, invasão de terras, as quais os camponeses vem resistindo heroicamente. De início, um comissário da OSA, andou por lá, procurando ludibriar os lavradores, propondo-lhes a compra das terras a preços ínfimos. Mas o pau mandado da companhia não conseguiu seu intento. Daí por diante, a Companhia Imobiliária passou a lançar mão de outros métodos, inclusive queima de plantações e de abertura de estradas no meio das lavouras. 

Isto aconteceu por exemplo nos terrenos do camponês Eduardo Valverde, que teve grandes prejuízos causados pelo fogo, sem receber qualquer tipo de indenização.

Abaixo da foto: TEMEROSOS ante a possibilidade de serem expulsos de suas terras de vez que a OSA tem a polícia a seu serviço, os camponeses se queixam a nossa reportagem.

Transcrição do Jornal Imprensa Popular, 14 de Agosto de 1952.

Um povo que não preocupa em preservar sua memória perde-se na história e se aniquila a curto prazo, na sua cultura. 

Por Paulo José de Oliveira.

2 comentários:

Sérgio Martins dos Santos disse...

Um episódio muito pouco lembrado!

Adinalzir disse...

Pior que é verdade.
Valeu Sérgio Martins dos Santos pela visita!