domingo, dezembro 05, 2021

O Sertão do Macacu e sua Estrada Real do Ouro


A vila de Santo Antônio de Sá ou vila de Macacu, que deu origem ao nosso Município, foi criada em 1697, próxima ao encontro do rios Macacu e Guapiaçu pelo governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Menezes. Um fato interessante é que na mesma época foi encontrado ouro em Minas Gerais. Por causa disso, Artur de Sá se dirigiu para São Paulo, já que na época ele governava as duas capitanias, de São Paulo e do Rio de Janeiro, para acompanhar os conflitos que começavam a surgir por causa da descoberta. Antes porém, de viajar, ele deixou criada a vila de Macacu, como local de controle contra contrabandistas de ouro, que poderiam vir de Minas, atravessar o sertão e usar os rios Macacu e Guapiaçu como vias de acesso à baía da Guanabara.

Anos depois, já na segunda metade do século XVIII, por volta do ano 1765, quando o ouro de Minas Gerais já havia começado a dar sinais de crise pela diminuição da quantidade extraída, surgiu a notícia de que no sertão do rio Macacu, a área que hoje abrangeria cerca 15 municípios da região serrana fluminense, havia sido encontrado ouro. As notícias foram dadas por um homem chamado Maurício José Portugal, que teria recebido a informação de um índio no interior do sertão. As autoridades logo se mobilizaram para conter os possíveis contrabandos: o vice-rei conde da Cunha, a mando do rei de Portugal, mandou demolir casas, fazendas e expulsar a todos que fossem encontrados no interior do sertão do Macacu. Para controlar os contrabandistas, construíram depois uma estrada para o trânsito das tropas militares coloniais, estabelecendo guardas na vila de Macacu, na Cachoeira, no meio e também no alto da serra, já virando para onde hoje é Nova Friburgo, que naquela época ainda não existia.

As autoridades consideraram na época que esse caminho de Macacu era muito bom para o acesso a Minas Gerais e portanto, podemos dizer que se tornou a "estrada real" de Cachoeiras de Macacu, juntamente com o Caminho Velho, que começava em Parati e o Caminho Novo, já na região de Magé. Todos esses caminhos começando no litoral e adentrando o sertão até o rio Paraíba do Sul e daí a Minas Gerais.

Hoje, as ruínas dessa antiga estrada ainda podem ser vistas em trechos no meio da serra de Cachoeiras e inclusive atravessando a localidade de Boca do Mato, chamada no século XVIII de "Entrada do Mato", onde havia sido instalada uma das guardas militares e um paiol de mantimentos para abastecer essas tropas com farinha, feijão, carne-seca e vários apetrechos para os soldados.

Nas imagens, vemos um trecho ainda sobrevivente dessa antiga estrada do ouro, um mapa do viajante inglês John Mawe onde aparece o caminho de Macacu e um exemplo de uniforme de Oficial de Ordenança da Vila de Macacu.

A Estrada Real de Macacu e sua história podem ser um grande atrativo turístico e cultural em meio à Mata Atlântica.

Fonte: Biblioteca Nacional.

Compartilhado de História Pública - Cachoeiras De Macacu

2 comentários:

Rainer Pfeiffer Novelli disse...

... E assim o Brasil foi se interiorizando cada vez mais...
Parabéns pelo artigo. É sempre impressionante ver como o governo português agia inescrupolosamente quando percebia que poderia haver contrabando. Reaçâo cada vez mais dramática à medida que a receita com a extraçâo do ouro estava começando a diminuir.
Muito interessante o traje do fiscal. Demostra bem a vestuária barroca usada pelos oficiais nas Minas coloniais. Eu só fico revoltado por ver um carimbo horrível numa gravura destas. O Brasil infelizmente nunca soube lidar com seu legado histórico com respeito.
Rainer

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Tive a oportunidade de caminhar muito por Cachoeiras de Macacu na época em que morei na cidade serrana de Nova Friburgo na companhia de um amigo muito conhecido na cidade, seu Jorge "Passarinho". Guardo boas lembranças e umas das trilhas pelas quais caminhávamos era o trajeto até o Guapiaçu por dentro da floresta. Há muita história ali para ser redescoberta, além de lendas e ruínas de várias épocas.