domingo, junho 09, 2019

Mangue de São Diogo



No governo do príncipe regente D. João iniciaram-se com maior solicitude os aterros no mangue, abrangendo um caminho em direção à Rua Conde, da Cidade Nova à Praia Formosa[1] e o Saco do Alferes. Aterrou-se a estrada do Aterrado, dissecando-se parte do pântano que se tornara extenso foco de infecção, de mosquitos e exalações desagradáveis. Construiu-se uma ponte para facilitar a passagem do príncipe, de sua real família e para os fidalgos. Quanto ao povo que continuasse a cheirar o lodo do mangue, a adoecer e a morrer…

A portaria do ministro João Severiano Maciel da Costa, de 10 de janeiro de 1824, dispôs sobre as edificações contíguas às estradas de Mataporcos e do Aterrado, ampliando o alvará régio que isentara do pagamento da décima urbana, por 10 anos, os prédios de um sobrado e por 20 anos os de mais de dois sobrados.

Intensificou-se em 1838 o aterro, com o auxílio de trinta e seis presos da Cadeia do Aljube. Construiu-se antes desse ano uma ponte para despejos. Novos aterros se fizeram de 1840 a 1857, tendo, neste último ano, a Câmara Municipal mandado organizar um plano de arruamento e levantar a planta do mangue da Cidade Nova, que foi traçada pelo engenheiro Manuel da Cunha Galvão. Da atual Rua Visconde de Itaúna [2] até as ruas que vão ter a de Frei Caneca, compreendendo a área que se chamou – Campo de Marte, procedeu em 1876 o Barão de Pirassinunga, por interesse próprio, o aterro de terrenos pantanosos, sem auferir nenhuma vantagem pecuniária dos cofres públicos.

Com os aterros feitos pela Empresa de Melhoramentos do Brasil, cessionária da concessão de Possidônio de Carvalho Moreira, engenheiro Luiz Rafael Vieira Souto e outros (concessão de 24 de maio de 1879), aproveitando as terras do Morro do Senado, saneou-se extensa zona da cidade, que constituía verdadeiro laboratório de infecções.

Notas do editor
 

↑ Atual Rua Pedro Alves em Santo Cristo. Fonte: Cruls, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro:Notícia histórica e descritiva da cidade. Edição do IV Centenário. Rio de Janeiro:Livraria José Olympio Editora, 1965.

↑ Incorporada à Av. Presidente Vargas.

Fonte
 

Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil

Imagem destacada
 

Planta do Rio de Janeiro em 1831, por E. de La Michellerie, via Biblioteca Nacional.

Mapa – Delimitação do bairro Cidade Nova



Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

4 comentários:

Laura Diniz de Aguiar disse...

Mais uma história fantástica da nossa cidade que eu não conhecia.
Muito bacana!

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Fato é que a nossa convivência com os manguezais é péssima. Talvez se trate do ecossistema terrestre no qual pior nos ambientamos, sendo que o "laboratório de infecções" também pode ser de curas através das plantas e da lama, desde que não se polua o local. Por sua vez, o texto nos mostra também a demora com que as obras são concluídas no Brasil. No caso, foram décadas para que o aterramento fosse concluído.

Adinalzir disse...

Prezada Laura Diniz de Aguiar
Realmente a cidade do Rio de Janeiro é cheia de histórias fantásticas!
Fico grato pela visita.

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis
Você está corretíssimo. Infelizmente falta a nossa população conhecimento e educação. Inclusive para saber escolher melhor os seus governantes.
Uma excelente noite!