Rio Piraquê. Foto - olhoverdemoscatelli
Um dos principais sintomas da degradação ambiental de uma cidade ocorre quando seus rios passam a ser chamados de valões. Aqui no Rio de Janeiro, isso ocorre em todos os bairros e o mais irônico é que a cidade carrega um rio no nome, consequência do equívoco dos primeiros navegantes, que, ao chegarem aqui em 1º de janeiro de 1502, confundiram a Baía de Guanabara com a foz de um grande rio. Como estávamos em janeiro, Rio de Janeiro.
Já o rio que deu nome aos nascidos na cidade, o Carioca, é hoje quase totalmente canalizado. Tem apenas um pequeno trecho visível no Largo do Boticário, no Cosme Velho, e desemboca de forma muito malcheirosa na Praia do Flamengo. Era às margens dele que o fidalgo português Martim Afonso de Souza morava, em 1531, numa casa de pedra, origem do termo cari-oca, dado pelos indígenas e que significa “casa de branco”.
Nascente do Rio da Carioca
Apesar da lastimável situação atual, os rios antigos já foram o principal meio de transporte desta cidade, já que as poucas trilhas que existiam eram perigosas e cheias de obstáculos. Assim, rios como o Maracanã, o Comprido, o Carioca, o Andaraí, o Piraquê, o Meriti, o Piraquara, o Guandu, o Rio Sarapui, que nasce no maciço da Pedra Branca (pelo lado de Senador Câmara) e corta vários bairros e cidades da baixada até desaguar na baía de Guanabara (Duque de Caxias) e tantos outros que foram responsáveis pela maior parte da movimentação de cargas e passageiros da cidade por muito tempo, sempre atrelados a ancoradouros e portos que já não existem, como os de Irajá e Maria Angu, fundamentais para o escoamento de boa parte da produção agrícola do subúrbio carioca.
Destes tempos de grande importância para o desenvolvimento da cidade, só ficaram mesmo os nomes dos rios - boa parte, subterrâneos - e os que não passaram por este processo ficam expostos a todo tipo de degradação, não apenas do esgoto jogado in natura nas suas águas, que nascem limpas e cristalinas nas serras, mas também à falta de educação dos moradores próximos, que jogam todo tipo de porcaria em suas águas, de sacos plásticos a cadeiras, sofás e até geladeiras velhas.
Destes tempos de grande importância para o desenvolvimento da cidade, só ficaram mesmo os nomes dos rios - boa parte, subterrâneos - e os que não passaram por este processo ficam expostos a todo tipo de degradação, não apenas do esgoto jogado in natura nas suas águas, que nascem limpas e cristalinas nas serras, mas também à falta de educação dos moradores próximos, que jogam todo tipo de porcaria em suas águas, de sacos plásticos a cadeiras, sofás e até geladeiras velhas.
Rio Maracanã. Foto- O Globo
Mas fica aqui uma sugestão: por que não chamar o rio pelo nome? Nos mapas da prefeitura, é fácil identificá-los e alguns têm até plaquinhas. Não que isso vá lá mudar muita coisa, mas só de não chamá-los de valão, nome que simboliza sujeira e podridão, quem sabe eles não passem a ser mais respeitados? Afinal, não dizem que o sujeito só passa a existir quando é batizado?
Eu não sei não, mas depois que passamos a chamar alguns rios pelos seus verdadeiros nomes, como o Cabuçu-mirim, afluente do Cabuçu, que desemboca no Piraquê e deságua na Baía de Sepetiba, já percebi que duas garças aparecem por lá todas as manhãs e ficam se refestelando num banco de areia que surgiu milagrosamente no meio do rio.
Texto de André Luis Mansur, jornalista e escritor.
Eu não sei não, mas depois que passamos a chamar alguns rios pelos seus verdadeiros nomes, como o Cabuçu-mirim, afluente do Cabuçu, que desemboca no Piraquê e deságua na Baía de Sepetiba, já percebi que duas garças aparecem por lá todas as manhãs e ficam se refestelando num banco de areia que surgiu milagrosamente no meio do rio.
Texto de André Luis Mansur, jornalista e escritor.
2 comentários:
Boa tarde, meu amigo!
Sonho com o dia em que os rios da "Cidade Maravilhosa" e de outros municípios da Grande Rio começarão a ser recuperados. Realmente, evitarmos chamá-los de "valão" já é um começo para que tenhamos a consciência de uma identidade natural infelizmente perdida com um processo não ecológico de urbanização pelo qual temos passado há mais de 100 anos. E, se não tivesse sido o desenvolvimento desordenado, teríamos ainda muitos desses cursos d'água melhor preservados.
Já que o autor falou no texto sobre o rio Andaraí, lembro de uma amiga que é uma das maiores cuidadoras do rio Joana e há anos luta pela sua conservação e a memória do bairro. Cheguei a conhecer o seu trabalho pessoalmente nos breves meses em que cheguei a morar na cidade em 2012, no bairro Grajaú, no qual pude também conhecer uma cachoeira situada nas proximidades esquecidas do Parque Nacional de Tijuca, subindo pela entrada que há na rua Borda do Mato.
Felizmente, o rio Carioca foi tombado este ano pelo governo estadual. Aliás, foi o primeiro do RJ a ter esse reconhecimento e espero que vários outros também sejam.
Um abraço e ótimo final de sábado!
Prezado Rodrigo Phanardzis
Muito bom saber sobre o seu conhecimento dos rios da nossa cidade. Inclusive sobre o belo trabalho de preservação da memória do bairro do Andaraí e do rio Joana.
Volte sempre e um excelente feriado!
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