domingo, novembro 23, 2025

Arquitetura da destruição - Um diário da era Bolsonaro, do palanque à condenação


Era véspera de feriado e tinha Fla-Flu no Maracanã, mas a Travessa de Botafogo ficou pequena para a multidão que prestigiou o lançamento de “Arquitetura da destruição – Um diário da era Bolsonaro, do palanque à condenação”, novo livro de Bernardo Mello Franco, que compila colunas publicadas no Globo. 

Antes dos autógrafos, Bernardo e o cientista político Celso Rocha de Barros apontaram ações e omissões que “empurraram o país até a beira do abismo”.


Mostraram como Bolsonaro sempre foi transparente e revelador em suas intenções. Nunca escondeu o que ia fazer. Em sete mandatos, defendeu a ditadura, disse que daria um golpe se eleito, pregou a morte dos adversários, desprezou direitos humanos, meio ambiente e liberdade de imprensa, notabilizou-se por insultar mulheres, negros, indígenas e homossexuais, elogiou torturadores, milicianos e pistoleiros de aluguel. Nunca fingiu ser moderado ou democrata. Mas teve gente que minimizou as declarações, dizendo que não se devia interpretar literalmente as falas, que ele era “autêntico”, “polêmico”. 

Os dois contaram como o léxico foi transformado, incorporando palavras como “motociata”, “mimimi”, “imbrochável”, “olavismo”, “negacionismo”, “globalismo”. 

O deputado federal Chico Alencar, que conviveu com Bolsonaro desde que era vereador, brincou que merecia adicional de insalubridade por escutar tantas agressões (ao bom senso, à democracia, à civilidade etc) durante décadas. Ele lembrou que o próprio Bolsonaro conhecia suas limitações, a ponto de ter dito, já eleito: “Como é que eu vou governar essa merda?”. 

Um político de baixo clero, acostumado à roubalheira miúda, que iria expandir o crime em escala nacional. 

O livro, lançado pela editora Autêntica, mostra como, eleito pelo voto, ele passou a corroer a democracia por dentro. Militarizou o governo, tentou sufocar imprensa e oposição, atacou a cultura e as universidades, afrontou a ciência, mostrou desdém pelas famílias enlutadas, incitou seus radicais contra o Congresso e o judiciário. 

Sobre a tentativa de golpe, eles citaram Eugênio Bucci: “Foi por um triz.” Ou seja, bateu na trave.

As colunas explicitam como o projeto do golpe estava claro desde sempre. Não viu quem não quis, mostra Bernardo.

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