sexta-feira, novembro 15, 2024

Breve histórico sobre a "Linha de Austin"


A “Ligação Carlos Sampaio - Austin - Santa Cruz” foi uma ferrovia construída interligando três linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil, na época: a Linha Auxiliar (antiga Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil), a Linha do Centro e o ramal de Mangaratiba.

Mapa de azulejos na Escola Municipal Sarmiento, no bairro do Engenho Novo, mostrando a posição das estações da ferrovia - Imagem: Melekh

Esta ligação transversal funcionou plenamente entre 1929 e 1932 tendo como pontos de conexão as estações Carlos Sampaio (Linha Auxiliar), Austin (Linha do Centro) e Santa Cruz (Ramal de Mangaratiba), tendo 34 km de extensão. Parte de seu trajeto era paralelo à atual Avenida Abílio Augusto Távora e a antiga Rio-São Paulo, no qual na altura do KM 32 tivemos uma ponte metálica de 130 metros sobre o Rio Guandu. As obras desta ferrovia foram iniciadas em 1926 e concluídas em 1929. Esta linha funcionava às segundas, quartas e sextas.

Extinto leito ferroviário descoberto durante pesquisas, antes de chegar na Rodovia Presidente Dutra (que não existia na época) Imagem: Melekh 

Entre Austin e Santa Cruz tivemos em bitola larga as estações Cabuçu, Marapicu (projetada, mas aparentemente não concluída), Engenheiro Araripe e Engenheiro Heitor Lira, (idem, aparentemente projetada mas não concluída ou inaugurada). Oficialmente o objetivo deste ramal era escoar de forma mais rápida e eficaz os carregamentos bovinos até o Matadouro de Santa Cruz, sem a necessidade de conexão em Deodoro e o compartilhamento de tráfego entre trens de carga e outros que circulavam no trecho, além de dar assistência aos inúmeros pequenos produtores  de da outrora região de Maxambomba, depois renomeada para Nova Iguassú, por fim, e com as mudanças gramaticais, Nova Iguaçu, cidade esta que entre outros, era um grande pólo no cultivo de laranjas. 

Estação de Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem: Melekh

Estação de Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem: Melekh

Estação de Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem: Melekh

Há atualmente, inclusive, entre Paciência e Santa Cruz, o logradouro Estrada Linha de Austin.

Segundo inúmeras descrições da época, e confirmada por pesquisas, o objetivo principal da construção desta linha não era para melhorar o escoamento de produtos num tempo menor, além de não atrapalhar o tráfego das composições de passageiros, mas sim para valorizar  inúmeras propriedades da região, que eram de políticos e de pessoas influentes da época, que num forte lobby junto à Estrada de Ferro Central do Brasil, conseguiram colocar, mesmo que num curto período, esta linha férrea em atividade. Pode-se notar o quão efêmera foi esta ferrovia, funcionando por pouquíssimo tempo.

Estação de Artur Araripe, ainda de pé e atualmente utilizada como residência - Imagem: Melekh

Até o início da década de 1970 ainda era possível visualizar com clareza por onde a ferrovia passava, visto que curiosamente o trecho estava sendo preservado. Estudos posteriores projetavam uma reativação do trecho, o que seria interessante por ligar importantes ferrovias de forma transversal, mas infelizmente estes estudos não passaram de apenas uma proposta, não executada.

Próxima à rodovia BR-465 (antiga Rio-São Paulo) ainda resiste um pontilhão ferroviário - Imagem: Melekh

Em 2011, e talvez de forma inédita e única até hoje, foi realizada por membros do fórum TGVBR/Trilhos do Rio uma expedição de reconhecimento do trecho, em duas etapas. Importantes registros, como os vistos neste texto, foram produzidos e, atualmente, é bastante difícil realizar novamente esta atividade devido a ocupações que descaracterizaram o trecho, além da insegurança pública que aflige muitas regiões do Rio de janeiro, em geral.

Cabeceira de ponte na Estrada do Tinguí, em Campo Grande, por onde a ferrovia passava - Imagem: Melekh

Texto escrito em 12 de  de 2021 em horário desconhecido. 

Última atualização em 14 de novembro de 2024 às 20h20.

Imagem de capa: Estação Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem Melekh (fugindo de um cachorro, por isso algumas imagens estão um pouco deslocadas)

Autor: Felippe Ribeiro

Graduado em Administração - MBA em Logística/Transporte - MBA em Finanças Empresariais - Especialista de Investimentos CEAr Ambima - Graduando em Ciências Contábeis (UFRJ). Experiência de 8 anos como Supervisor de Logística e hã 13 anos no mercado financeiro. Desde 2017 participa da AF Trilhos do Rio em debates e pesquisas sobre mobilidade urbana, além do foco em manter viva a preservação da história ferroviária.

Fonte: https://www.trilhosdorio.com.br/

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