domingo, junho 18, 2023

Necrotour no Cemitério de Santa Cruz


Cumprindo mais uma etapa da sua programação mensal de junho de 2023, os integrantes da Casa-Museu e Centro de Resistência da Mulher Augusta Candiani realizaram o primeiro “Necrotour” pelo Cemitério de Santa Cruz.

O evento contou inicialmente com uma entrevista feita pelos professores Sinvaldo Souza e João Landeiro, com a funcionária Suzana, do setor administrativo do Cemitério, quando entregamos cópias dos manuscritos originais dos atestados de óbito de Augusta Candiani e do seu terceiro marido, Bartolomeu Magalhães, além da reportagem publicada pelo Jornal “O Dia”, edição de 7 de junho de 2023, assinada pela jornalista Anna Clara Sancho, com fotos de Cleber Mendes, contendo diversas informações sobre o projeto da Casa-Museu e do Centro de Resistência da Mulher.

Todo o material e outras informações documentais, serão repassadas à Srª. Jorgiane, administradora do Cemitério de Santa Cruz, com o propósito de contribuir para a localização do ponto exato onde foram sepultados os corpos da Augusta Candiani e do Bartolomeu Magalhães.

Ao iniciar o “Necrotour”, o professor Sinvaldo fez um breve relato histórico, se reportando ao primeiro cemitério existente em Santa Cruz, localizado nas proximidades do antigo convento dos padres jesuítas, depois palácio real e imperial de Santa Cruz, hoje quartel do Primeiro Batalhão de Engenharia de Combate (Escola), Batalhão Villagran Cabrita, lembrando ainda que também era usual que ocorressem sepultamentos dos sacerdotes, pessoas ligadas à igreja e membros da nobreza, da aristocracia, e da elite econômica, no subsolo da nave principal da capela.

Destacou-se a atual localização do cemitério, em um dos pontos de maior altitude do bairro, no chamado Morro da Conceição, de onde pode se ver todo o contraforte das serras de Itaguaí, o distrito industrial, o hangar do Zeppelin, o morro do Mirante Imperial, o palacete do Matadouro e o antigo palácio imperial, hoje quartel do exército.

Coube ao professor Adinalzir Pereira Lamego mostrar cópia da foto de 1885, da coleção Dom Pedro II,da Biblioteca Nacional, do palacete do Matadouro de Santa Cruz, onde aparece em destaque o pórtico do antigo cemitério.

Com relação aos túmulos, jazigos e sepulturas, o professor Sinvaldo relacionou pelo menos quatro categorias diferentes, pretendendo demonstrar que, mesmo após o falecimento, ainda prevalece a divisão das classes sociais. Foram enumeradas e exemplificadas, as capelas mortuárias, jazigos, tumbas e covas, tanto aquelas classificadas como rasas, ou às destinadas ao enterro de indigentes.



Durante o “Necrotour” propriamente dito, os participantes conheceram algumas capelas mortuárias, como a da Família Cesário de Melo e túmulos perpétuos, entre os quais o dos sacerdotes da Congregação dos Sagrados Estigmas, ou Estigmatinos, com destaque para os jazigos dos padres Guilherme  Decaminada e Luciano Dal’Zoppo; diversas lápides de famílias japonesas, como Togashi, Hida, Tiba; além de alguns personagens bastante conhecidos, como o ator André Villon e sua esposa Elza Gomes; Nicolau Jorge, José Antônio Ciraudo, Benedito Antônio  José (Maru),  Itagoré Barreto, entre muitos outros.











Percorrendo o trecho do cemitério com os jazigos mais antigos, onde certamente devem ter sido sepultados os restos mortais da cantora lírica italiana Augusta Candiani e do seu terceiro marido Bartolomeu Magalhães, os participantes do “Necrotour” puderam localizar e fotografar o túmulo do médico e político Felipe Basílio Cardoso Pires, atualmente emprestando o seu nome para a designação da principal rua da parte central do Bairro Imperial de Santa Cruz.

A pesquisa de campo que os membros da Casa-Museu e do Centro de Resistência da Mulher Augusta Candiani puderam realizar neste final de semana, contou com a inestimável parceria e colaboração do escritor, professor e historiador Guaraci Rosa, que obteve cópias de importantes documentos relacionados aos óbitos, casamentos e nascimentos de pessoas ligadas à genealogia de Augusta Candiani.

Participaram do “Necrotour” os professores Adinalzir Pereira, João Lindeiro, Denis Lourenço e Sinvaldo Souza.

Agradecemos à funcionária Rita, da Secretaria de Conservação da Prefeitura do Rio, senhor Carlos Suevo, coordenador da Coordenadoria de Cemitérios, Anderson e Suzana, do atendimento administrativo do cemitério de Santa Cruz, pela simpatia, atenção e ajuda, tornando possível que o “Necrotour” fosse realizado com total sucesso.

Postagem compartilhada de @augustacandiani

4 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Fazer um "tur" em cemitérios, por opção, não é para muitos (rsrsrs), embora seja uma grande oportunidade de aprendizado. Um dia, porém, tudo cai no esquecimento e, com exceção dos contemporâneos dos nossos tataravós que entraram para a história, dificilmente haverá lembrança sobre essas pessoas. Hoje a tecnologia já permite preservar melhor a memória dos antepassados conforme as informações que nos sobraram. Aliás, não vai demorar para que coloquem um código QR nos túmulos e nas placas de rua capaz de permitir ao internauta acessar um arquivo que fale sobre a pessoa homenageada.

Adinalzir disse...

Realmente Rodrigo. Torço para que os cemitérios sejam vistos não só como um espaço de lembranças. Mas também vistos como um centro de pesquisa da memória dos nossos antepassados. E que o turismo cemiterial seja cada vez mais valorizado em todos os lugares. Um abraço e uma excelente sexta-feira!

CLAUDIO RANGEL disse...


Augusta Candiani
Cantora
Augusta Candiani foi uma cantora lírica italiana que se apresentou com grande sucesso nos palcos brasileiros, especialmente nos do Rio de Janeiro, então cidade da corte. Seu nome de batismo era Carlotta Augusta Angeolina Candiani.Estrela da Ópera Italiana em Santa Cruz
a Prima-Dona da Companhia Italiana de Ópera tem a ver com Santa Cruz?

Augusta Candiani, Prima-Dona da Companhia Italiana de Ópera
Augusta Candiani veio para o Brasil para estrear no Teatro São Pedro de Alcântara na primeira montagem da Norma; aqui se apaixonou pelas terras tupiniquins e nunca mais regressou a seu país de origem.

Cantora Lírica erudita, foi musa de Machado de Assis e tantos outros; aqui se encantou com a miscigenação da cultura brasileira
Nascimento: 3 de abril de 1820
Falecimento: 28 de fevereiro de 1890

Adinalzir disse...

Suas contribuições são sempre muito importantes!
Muito obrigado, Claudio Rangel !