quinta-feira, junho 22, 2023

Dr. Antonio Nicolau Jorge: Cavaleiro Antônio. Seguiremos os seus passos


Não foi um dia qualquer. Apesar da perda irreparável Santa Cruz amanheceu bonita para receber nas suas entranhas o filho que tanto a amou. Ali estavam desde os emocionados pracinhas, no adeus ao "Pracinha Sem Farda" que ele foi em vida, como também parentes, amigos e seus fiéis escudeiros. Não faltaram o toque de silêncio da corneta embargada do Batalhão Vilagran Cabrita, as flores depositárias das honras, nem os discursos impecáveis dos seus pares. Não foi uma página virada. Antes, uma página de uma história que ele, apenas começou. Era uma vez "Todos Nós"... Seguiremos os seus passos, Cavaleiro Antônio!

"Elo entre a Colônia Japonesa e a Comunidade de Santa Cruz, Antonio Nicolau sabia, como ninguém, servir e harmonizar o convívio entre todos. Era um trabalho constante, de uma grandiosidade sem limites. Era um amigo na acepção da palavra, que a qualquer hora podia ser acionado e nunca dizia não. Na Colônia deixou sua marca indelével, participando de batizados, casamentos, festas, solenidades, comemorações cívicas: seus afilhados são muitos. A Colônia sempre terá um lugar de destaque para o Dr. Antônio. Um amigo que nunca morre." Shozi Tiba - Colônia Japonesa de Santa Cruz.

"Ontem plantamos uma semente de raro valor o nosso companheiro de jornadas cívicas Dr. Antonio Nicolou Jorge; hoje estamos vendo renascer daquela semente o mesmo ideal do Prof. Francisco José Antônio. no Prof. Sinvaldo N. Souza, no Sr Newton da Costa. no casal Walter e Odalice e César Cristine Tenuto. o que nos dá a esperança de que o trabalho profícuo do nosso saudoso amigo Nicolau não sofrerá solução de continuidade. Realmente, não queríamos escolher o seu substituto, por nos parecer polêmico demais. senão quase impossível; vamos, então, deixar que o tempo se encarregue de nos sugerir alguém com aquelas qualidades." Eurico Pereira - Grupo dos Veteranos da Zona Oeste.

"Este ano, no dia 25 de novembro próximo passado o Grêmio Procópio Ferreira completou 60 anos de sua fundação e, no dia 08/10/94 falecia o Dr. Antônio Nicolau Jorge. Com sua morte o Grêmio perdia um dos maiores gremistas de sua história, apesar de não ter sido sócio fundador do Clube. Ele era gremista de coração. Conforme comprovam os cargos que ocupou em todos os poderes da entidade. Foi seu Presidente mais de uma vez, presidiu o Conselho Deliberativo por vários mandatos, presidiu também o Conselho de Beneméritos e o Conselho Fiscal. Fazia parte do atual Conselho Deliberativo e do Conselho de Beneméritos. Ultimamente ele não andava bem de saúde. mas fazia questão de comparecer as reuniões dos dois Conselhos”. Dr. Lourenço Camelo de Moura - Sócio Benemérito e Conselheiro do Grémio Procópio Ferreira.

Acima Dr. Antônio Nicolau entre seus amigos em solenidade realizada no Batalhão Vilagran Cabrita (Santa Cruz, 1992).

"Homem grande, coração maior. Grande homem. Bairrismo à flor da pele. Cidadão pleno. Digno. Inigualável no amor à terra natal. Pai e esposo extremado. Profissional competente. Integro. Dedicado. Mais de meio século na vanguarda da odontologia Exemplo o ser seguido. Memória a ser preservada nos corações e mentes de todos quantos o conheceram. Assim foi-e, para nós, continuará sendo - o Dr. Antônio Nicolau Jorge. Em tudo por que lutou deixou a marca indelével de ardoroso defensor das causas públicas. Sempre visando aos Interesses da coletividade. Jamais por aspirações pessoais. Desde a vitoriosa campanha contra a mudança do nome de Santa Cruz para Canhanga, até a árdua - e ainda - luta pela implantação do Centro Cultural de Santa Cruz. Levou consigo essa frustração. E, com ela, a decepção com os nossos governantes. Seu passamento representou perda irreparável para a comunidade. No entanto, o lembrança do que foi é o estímulo de que precisamos para continuar reivindicando o atendimento justo para os anseios, necessidades e aspirações da região. De onde quer que esteja, ele nos estará aplaudindo. E orgulhando-se dos seus seguidores." Prof. Nélson Cunha Mello - Diretor do Colégio Cunha Melo.

Hasteamento da bandeira em cerimônia realizada em Bangu em 25/09/92.

"No dia 9 de outubro de 1994, um domingo quente e ensolarado o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz, a AMASC, a Colônia Japonesa, a AFASC, a Associação dos Ex-Combatentes da Zona Oeste, a Associação Odontológica do Triângulo Carioca, o Grêmio Procópio Ferreira, colégios, autoridades civis e militares, empresários e representantes políticos, se despediram daquele que foi e será um eterno defensor de Santa Cruz."

"Desde moço, Antônio Nicolau Jorge se transformou num caudaloso rio na produção de energias inesgotáveis - moral, física e social - defendendo e engrandecendo, permanentemente, nossa Região. Dr. Nicolau era e continuará sendo o símbolo da honestidade, da lealdade, do amor à natureza. do patriotismo. Santa Cruz se orgulha deste filho, de generoso sangue libanês". Prof. Francisco José Antônio - Diretor do Colégio Dom Oton Mota e AFASC.

Dr. Antônio recebe a Medalha do Pescador. Outorgada pelo Instituto Cultural de Sepetiba.

"Dr. Antônio foi o primeiro comunitário de Santa Cruz. Seu amor ao Bairro o fez abraçar as causas mais nobres e a combater aqueles que, de alguma forma, tentavam prejudicar a Comunidade. Sua luta nunca visou tirar vantagem de caráter pessoal ou benesses governamentais. Era fruto do amor à Santa Cruz. Mesmo nas horas mais difíceis, quando a maioria encontrou no abandono do Bairro a solução para os seus problemas com a perda de sua identidade, Antonio Nicolau aqui permaneceu e redobrou as suas forças, buscando novas cabeças e novos pensamentos de uma nova Santa Cruz". Walter Vieira Priosti -  AMASC / NOPH / ECOMUSEU.

"Dr. Antônio Nicolau Jorge foi um líder nato a quem a comunidade santa-cruzense muito deve, principalmente pelo que fez peio Bairro e como soube criar seus filhos, encaminhando-os pelo caminho cedo, dando-lhes, desse modo, chances de se tornarem pessoas de expressão dentro da nossa sociedade." Dr. Wires Felix de Souza, Advogado e Contador.

"Dr. Antônio simbolizará sempre um ícone isolado na história e na cultura santa-cruzense, ficou uma lacuna profunda e irreparável, mas esse D. Quixote comprometido com seu tempo deixou não só sementes e sonhos porém árvores frondosas, frutos e muita sombra." Oswaldo E. Lioi - Arquiteto / NOPH / ECOMUSEU.

Uma casa sem muros 

Quando comecei a andar pelas ruas de Santa Cruz, fazendo uma espécie de "reconhecimento" do local, reparei que havia uma casa sem muros. Essa casa chamou minha atenção justamente por esse motivo. Como poderia haver ainda, no Rio de Janeiro, alguma casa que não estivesse protegida como uma fortaleza? Além disso, em bairros onde "o desenvolvimento desordenado trouxe o progresso não planejado”. Onde eu vira, não se vêem casas, somente muros, cada vez maiores e aparentemente intransponíveis. Passando outra vez pelo local, minha atenção sempre atraída pela casa sem muros. Vi que muitos jovens se reuniam ali. "É o "Baixo Santa Cruz", disseram-me brincando. Perguntei quem morava ali, pois deveria ser alguém bastante corajoso. Responderam-me que era o Dr. Antônio, dentista de muitas gerações, grande entusiasta de Santa Cruz. Mais tarde, numa das reuniões do NOPH, conheci o Dr. António e explicando-me "forasteira" perguntei se ele não tinha receio de viver numa casa sem proteção. Ele respondeu-me que havia construído a casa há tempos daquela maneira, numa Santa Cruz igualmente sem muros. Não via ainda (mesmo em tempos tão tenebrosos) necessidade de esconder-se atrás de enormes paredes, e que gostava de ver a movimentação dos jovens. O Dr. Antônio também era uma pessoa sem muros, sem fronteiras e amava Santa Cruz. A luta que travou durante décadas para que o Bairro fosse tratado com o respeito que merece também não tinha. Ele brigava pela cidadania. Agora, apaixonada por Santa Cruz, reconheço seus pontos típicos e um deles é a casa do Dr. Antônio e da Dona Lourdes. A casa sem muros em que bem caberia um pedaço da história deste lugar. 

Texto de Cris Tenuto - NOPH /AMASC /COMUSEU.

Paradoxal figura Estátua nua Adormecido vulcão Sob cãs maduras... 

Nunca esta santa terra Te deveu tanto Antônio E não foi em vão Que defendeste o nome Santa Cruz fez jus Ao cidadão matriz 

Tua ira explode Erupção latente Lavas incandescentes Das entranhas jorram Filho da terra és Esbravejas, vociferas Estrépitos clamores Defendem a memória No fazer a História

Te chamaram Antônio Nicolau entre Vulcão desperto Seguirei teus passos Presa no laço Da castiça luz Doce Santa Cruz. 

Poema de Odalice Miranda Priosti - AMASC / NOPH/ ECOMUSEU.

Fonte de consulta: 

Jornal Quarteirão / Ecomuseu Comunitário / NOPH / Edição Bimestral: Novembro / Dezembro  1994. Rio de Janeiro - RJ.

Um comentário:

Gervásio Pimentel disse...

Um homem do seu tempo que fez a diferença!