Quantos Brasis cabem em Barra de Guaratiba?

Se retornamos há uns 150 anos atrás, o bairro pertencia a um traficante de escravizados africanos, Joaquim de Souza Breves, que utilizou a marambaia como uma fazenda de engorda para recuperar os africanos sequestrados. Mesmo após a proibição do tráfico negreiro em 1850, a família Breves seguiu traficando pessoas, utilizando a Marambaia como ponto para desembarque. Com a abolição, a família parasitária entra em ruína.

As forças armadas ocupam desde 1905 a Marambaia e utilizaram o território com distintas finalidades. A Marambaia foi um espaço estratégico de defesa na Segunda Guerra Mundial. Após o golpe de 1964, a região foi utilizada como ponto de desova de corpos. O caso mais conhecido talvez seja o do deputado Rubens Paiva, morto sob tortura, desaparecido político, enterrado pelo torturador e militar Paulo Magalhães na ponta da Marambaia. Uma prática comum da ditadura no território, mencionada inclusive com orgulho por Bolsonaro em uma visita à região. As forças armadas na década de 1990 processaram famílias quilombolas da Marambaia, expulsando algumas delas, além de utilizar a região constantemente como um campo para explosão de bombas. A praia hoje é restrita para o uso de oficiais de alta patente.

Existe também outro Brasil nesse mesmo bairro. Burle Marx, adquiriu em 1973 uma propriedade de 400 mil metros quadrados em Barra de Guaratiba. Criou nesse espaço umas das maiores coleções de plantas tropicais e subtropicais do mundo, um enorme jardim com lagos. Criou um museu com uma coleção de mais de 3 mil itens incluindo imagens sacras barrocas, cerâmicas primitivas pré-colombianas, esculturas em madeira e cerâmica e do Vale do Jequitinhonha (MG), dentre outros. Considerado patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o sítio foi doado ao IPHAN por Burle Marx e é livre para visitação. Burle Marx foi pioneiro ao criar um estilo moderno e brasileiro, revolucionando o paisagismo, realizando obras de arte no mundo inteiro.

A moral da história é: militares de bem com hectares de terra fazem campos de desova. Um botânico, gay e esquerdista constrói um patrimônio para a humanidade.

Por @flaviojose.moraes