terça-feira, agosto 30, 2022

História da Colônia Juliano Moreira


O território da Colônia Juliano Moreira originou-se a partir de um dos mais antigos engenhos de cana de açúcar de Jacarepaguá, integrando inicialmente as terras do Engenho da Taquara. Foi então desmembrado em 1664 e denominado Fazenda Nossa Senhora dos Remédios.

Já em 1778 recebeu o nome de Engenho Novo da Taquara. Nos anos de 1660 iniciou-se a construção do engenho e da capela de Nossa Senhora dos Remédios. Ainda existem reminiscências da época e o núcleo original, que hoje faz parte do Núcleo Histórico Rodrigues Caldas.

A partir de 1920, foram construídas as edificações do Núcleo Psiquiátrico da Colônia Juliano Moreira (até então denominada Colônia de Psicopatas de Jacarepaguá).

Havendo, assim, a transição de uma arquitetura colonial, que no Brasil misturava traços arquitetônicos renascentistas, maneiristas, barrocos, rococós e neoclássicos, para uma arquitetura pavilhonar e hospitalar, portanto, fundamentada nas teorias higienistas que vigoravam no período.

Já na década de 1930, com as reformulações da Colônia e a construção de novas unidades, o sítio da Colônia Juliano Moreira apresenta uma série de registros contemporâneos à época de funcionamento do engenho de açúcar, dos anos setecentistas, o que o torna um importante fragmento comprobatório da evolução urbana da cidade e da história deste ciclo econômico.

Em 1919 se iniciou nas terras do Engenho de Nossa Senhora dos Remédios a construção da Colônia de Psicopatas Homens de Jacarepaguá, projeto do psiquiatra Juliano Moreira.

Da época do antigo Engenho ainda existe o aqueduto, a sede da fazenda e a capela de Nossa Senhora dos Remédios.

Foto de Halley Pacheco de Oliveira / INEPAC

A colônia foi inaugurada em 1924 e em 1935 com a morte de seu idealizador a colônia passa a se chamar Colônia Juliano Moreira, em sua homenagem.

A Colônia Juliano Moreira foi gerido pela União até o ano de 2000 quando foi repassado para o município do Rio de Janeiro.

O núcleo histórico inclui além do edifício sede da antiga fazenda, dois casarões, a igreja de Nossa Senhora dos Remédios que foram tombados pelo Inepac em 1990, o aqueduto construído no século XVIII que foi tombado em 1938 e sete pavilhões hospitalares do século passado.

Infelizmente, hoje o núcleo histórico está em estado de abandono.

O Centro Histórico

Atualmente, estão concentradas no Núcleo Histórico Rodrigues Caldas as construções mais antigas da Colônia Juliano Moreira, reminiscências da época do engenho: a sede, a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, algumas ruínas de outras construções, além do conjunto de canaletas e o sistema de aqueduto, tombados pelos órgãos públicos de patrimônio.

O lugar é rota para os visitantes que queiram compreender a relação entre patrimônio, paisagem e história que permeiam o território da Colônia e delineiam os traços que configuram seu espaço até os dias de hoje. O Núcleo Histórico Rodrigues Caldas pode ser visitado e compõe o Circuito Cultural Colônia.

A Cela

O Núcleo Ulisses Vianna, originalmente cercado por um extenso e alto muro, era formado por 11 pavilhões destinados a receber os pacientes homens, violentos e agitados da Colônia. Esses pavilhões eram compostos por enfermarias, cada uma com cerca de 40 camas justapostas uma ao lado da outra, onde os não tinham nenhuma privacidade. Em cada um dos 11 pavilhões, havia uma ala sem camas chamada de “bolo”.Nessas alas, os pacientes ficavam amontoados no chão e, ao seu redor, 10 celas-fortes – pequenos cubículos com portas de ferro – mantinham os mais agitados contidos ou isolados por punição. Pareciam verdadeiras solitárias no estilo prisional: recebiam alimentação pela fresta da porta e utilizavam um buraco no chão como sanitário.

Bispo era um dos “agitados”. Diagnosticado como esquizofrênico-paranóico, foi alojado no pavilhão 10 do núcleo. Forte e sisudo, o ex-boxeador tornou-se um “xerife”, posição que lhe assegurou privilégios e permitiu a recusa de eletrochoques e medicações. Nunca se interessou em participar dos ateliês de arteterapia, mas estava sempre produzindo objetos num processo criativo incessante e solitário.

Ele tomou posse das demais celas que compunham esse “panóptico” para vigiar e punir, como descreveu Focault, e as transforma em seu espaço expositivo. Para ter acesso ao local, era necessário desvendar o enigma apresentado por Bispo que consistia em responder qual era a cor de sua aura. Participar desse jogo proposto por pelo artista permitia experienciar a subversão que esse homem fez no hospício, de dentro de sua cela-atelier-galeria.

O pavilhão 10 foi o único que restou do conjunto arquitetônico do Núcleo Ulisses Vianna que mantém a ambiência original. Na cela onde Bispo viveu foram encontrados vestígios de desenhos do artista que o Museu está somando esforços para recuperar.

O mBrac em parceria com a Fundação Marcos Amaro irá iniciar a partir de 2020 as obras de recuperação do telhado e demais estruturas do Pavilhão 10 do Núcleo Ulisses Vianna para se tornar um espaço expositivo e de memória do passado asilar da Colônia Juliano Moreira e do contexto de criação das obras de Bispo Odo Rosário.

O Pavilhão e o Núcleo Histórico Rodrigues Caldas podem ser visitados mediante agendamento. 

Tudo isso faz parte do Circuito Cultural Colônia Juliano Moreira.

Estr. Rodrigues Caldas, 3400 – Taquara, Rio de Janeiro/RJ - CEP: 22713-375

E-mail: agendamento@museubispodorosario.com

Dias e horário de funcionamento: Terça-feira a sexta-feira 10h às 17h.   

Referências de Pesquisa: amafreguesia.org e Museu Bispo do Rosário.

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