João da Fonseca, foi veterano das duas batalhas dos Guararapes e também combateu o Quilombo dos Palmares. Talvez foi um dos homens de maior influência na governança de Alagoas do Sul na segunda metade do século XVII.
Foi Juiz dos Órfãos de Alagoas do Sul, dentre os postos e ofícios que ocupou estão: Escrivão da Câmara, Capitão Mor de Alagoas do Sul (1672-1681), Capitão de Infantaria em Alagoas do Sul (1651-1672), Capitão da Infantaria da Ordenança (provido em 1664), Indicado a Juiz Ordinário (1673), Alcaide da Câmara de Olinda (1690) Provido na serventia dos ofícios de Escrivão dos Órfãos, Inquiridor, Contador e Distribuidor do Juízo Ordinário da Vila de Porto Calvo (1692).
Por seu prestígio e influência política, João da Fonseca foi acusado por desafetos de ser um cripto judeu. Assim como muitos membros da família Fonseca, era sabido que João era um Cristão Novo, descendente dos judeus portugueses batizados pela igreja no século XVI. Foi investigado pela Inquisicão. Porém nada incriminador foi evidenciado contra o Capitão que dedicou boa parte de sua vida servindo a Coroa Portuguesa protegendo Pernambuco de seus inimigos. Porém por ser Cristão Novo, João da Fonseca não foi visto como digno de receber títulos nobiliárquicos, como o posto de Cavaleiro da Ordem de Cristo ou de Avis. Uma de suas netas, Maria da Fonseca, se casou com o português Bartolomeu de Oliveira Pinto, ancestral do Primeiro Presidente do Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca, nascido nas terras de Alagoas do Sul, atual município de Marechal Deodoro.
De acordo com Israel Blajberg, Integrante da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, D. Rosa Maria Paulina da Fonseca (1802-1873) Descendia de índios e escravos, sendo mais conhecida como D. Rosa da Fonseca. Nasceu na antiga capital de Alagoas, atual município de Marechal Deodoro, casando-se com Manuel Mendes da Fonseca em setembro de 1824, o qual, como descendente de cristãos-novos, transferiu por linhagem paterna essa condição aos filhos.
Segundo Walter Fonseca em seu livro "Uma família e uma história" (1982). O Tenente- Coronel Manuel Mendes Fonseca tem raízes genealógicas em comum com o primeiro rabino do Brasil, Isaac Aboab da Fonseca (1605- 1693), nascido em Castro Daire, Distrito de Viseu, vila hoje com cerca de 4.600 habitantes, a cerca de 300km ao NE de Lisboa, na tradicional Província de Beira Alta, em Portugal.
Aboab da Fonseca, além de rabino Chefe do Brasil Holandês de 1642 a 1654, era escritor e deixou uma bagagem literária em que se destacam obras em latim: Escreveu uma gramática hebraica e em 1655 publicou a tradução hebraica da obra cabalística Casa de Dios e Puerta del Cielo, de Abraham Cohen Herrera. Em 1681, publicou um comentário espanhol sobre os cinco rolos ou livros. Escreveu em seu famoso poema histórico em hebraico. Zecher Asiti leNiflaot El. (Ergui um Memorial aos Milagres de Deus), composto no Recife em 1646: “Há muitos combatentes em meio a minha Nação”. As referências a judeus portugueses de nomes Mendes e Fonseca ocorrem às centenas nos livros especializados, como nos de Anita Novinski, eminente professora da USP, considerada a maior especialista em marranismo do Brasil.
Os Sete filhos de D. Rosa da Fonseca eram chamados por ela como os Macabeus, por terem combatido na Guerra do Paraguai. E ela própria, como “A Macabeia”; são eles: Afonso Aurélio da Fonseca, Eduardo Emiliano da Fonseca e Hipólito Mendes da Fonseca, os três heróis que tombaram em combate, e os quatro que atingiram o generalato, Manoel Deodoro da Fonseca, Marechal e Presidente da Republica, João Severiano da Fonseca, general médico, patrono do Serviço de Saúde do Exército, Hermes Ernesto da Fonseca, Marechal do Exército e Severiano Martins da Fonseca, Marechal de Campo. A palavra macabeu deriva do hebraico macabi -martelo. Era a denominação dos cinco filhos do sacerdote Matatiau, dos quais o mais ilustre foi Yehuda haMacabi, Judas Martelo, pela sua força e determinação na luta contra os gregos.
Ao contemplar em antigas gravuras os rostos dos sete Macabeus. Revela-se o amálgama em que se constitui o povo brasileiro, resultado da junção, ao longo dos séculos, dos índios e tantos outros imigrantes, identificando em alguns os traços dos guerreiros caetés e tabajaras; em outros, dos negros que ajudaram a fazer deste país uma grande nação e sem dúvida os antigos traços judaicos sefaradim (Sefarad = Espanha em hebraico).
Fonte: "Fonseca uma Família e uma História", de Walter Fonseca. "O Senado da Câmara de Alagoas do Sul, Governança e Poder Local no Sul de Pernambuco (1654-1751)". "Nas Malhas da Consciência: Igreja e Inquisição no Brasil: Nordeste 1640-1750."
Originalmente postado em A Terra de Santa Cruz
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4 comentários:
Possivelmente Deodoro, sua mãe e irmãos já fossem católicos desde o nascimento, mas preservando um pouco da cultura de seus ancestrais. Afinal, do falecimento do rabino até o nascimento de D. Rosa, temos uma distância que não chega a 110 anos. Ou seja, o espaço de tempo para umas três gerações se sucederem e, obviamente, conviverem. Isto é, D. Rosa pode ter tido contato com alguns que ainda fossem ou tivessem sido praticantes discretos da religião ou dos costumes de seus ancestrais. Mas se ela teve identificação judaica, suponho não haver provas suficientes. Afinal, mesmo nascida após o fim da Inquisição, ela vivia num país de religião oficial católica apostólica romana, como declarado na constituição imperial de 1824 e era mais forte ainda sob a vigência das Ordenações Filipinas.
Prezado Rodrigo Phanardzis. Fico muito honrado com sua visita e comentários que ajudam a enriquecer ainda os textos deste blog. Minha gratidão amigo!
Que conteudo maravilhoso, aprendi muito com isso.
Deus abençõe
Valeu Diego Santos Silva! Que bom que você gostou. Volte sempre!
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