segunda-feira, julho 20, 2020

Capela de Santo Antônio do Pobres ou Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro?



Tenho toda a certeza que essa igreja vista por Maria Graham, que eu cito no meu livro Viajantes Estrangeiros na Zona Oeste Carioca no Século XIX durante a sua viagem para Santa Cruz pode ter sido mesmo a Capela de Santo Antônio dos Pobres. Capela essa que teve seu início em 1725, na Fazenda de Inhoaíba, mais tarde denominada Fazenda Cafezal, do Capitão Luis Barata. Em cujas terras estava localizada essa Capela. 

Em 1893 o governo republicano adquiriu do Alferes Manuel Fernandes Barata, um terreno para a construção de um novo cemitério público para Campo Grande. É bom lembrar que nessa época o cemitério de Campo Grande estava situado em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro.

Correio da Manhã - RJ 

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Mas devido ao avanço demográfico e a necessidade de aumentar a área do novo cemitério. A Capela de Santo Antônio que havia nas terras adquiridas foi demolida. Restando em seu lugar o hoje cemitério de Santo Antônio, que a população local chama de Cemitério de Campo Grande. Nem mesmo a destruição do Santuário foi capaz de diminuir o fervor religioso do povo local que assumiu o compromisso de reconstruí-la em outro lugar o mais rápido possível. O que levou a criação da Irmandade do Glorioso Santo Antônio dos Pobres.

Foto: Deca Serejo - Agosto 2018

Foto: Rio Pax - Internet

Na época, o Presidente da Irmandade, o Sr. Manoel Montes Trancoso, doou um terreno localizado na Estrada Real de Santa Cruz (atual Avenida Cesário de Melo), número 355, na então chamada curva do Matoso para a construção daquele que seria o novo templo. E que se encontra lá até hoje.

A pedra fundamental foi lançada no dia 13 de junho de 1931, data em que se comemorou o sétimo centenário de morte do padroeiro. Estiveram presentes o Núncio Apostólico, Sua Excelência Dom Aloisi Masella, Padre Felício Magaldi (Vigário de Campo Grande), Padre Olympio de Mello (Vigário de Santa Cruz) e uma grande parcela do povo campo-grandense. Por toda a noite daquele dia houve uma grande festa no local com queima de fogos, leilão e diversas brincadeiras típicas.

A festa de Santo Antonio dos Pobres, também conhecida como Festa da Curva, passou então a integrar durante muitas décadas o calendário religioso e cultural daquela região. Com o decorrer do tempo e devido ao processo de urbanização do local, a comunidade religiosa foi reduzindo. O que fez com que muitas das atividades religiosas fossem transferidas para a Matriz de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande. No local, além do templo, foi criado o prédio da extinta creche Santo Antônio que prestava assistência a muitas crianças carentes. Cujos pais precisavam trabalhar e não tinham como pagar uma creche ou uma babá.

A Igreja ou Capela de Santo Antônio dos Pobres é a segunda mais antiga de Campo Grande, sendo apenas mais recente que a Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande datada do século XIX.

Igreja de N.Sª do Desterro, 1673. Campo Grande. Desenho de Maria Graham, 1823 Museu Britânico

"A viajante inglesa Maria Graham provavelmente desenhou a Matriz da Freguesia de N. S. do Desterro de Campo Grande e a assinalou como sendo a "Freguesia de Santo Antônio", por engano. E tem mais um detalhe. Observando o desenho feito por ela, a Matriz ainda não possuía as torres sineiras em 1821. Que foi o ano que Maria Graham esteve no Rio de Janeiro". Segundo observações feitas pelo amigo Paulo Clarindo.

Fontes utilizadas: 
Maria Graham. Diário de uma viagem ao Brasil. Editora Itatiaia, 1990.
Viajantes Estrangeiros na Zona Oeste Carioca no Século XIX. Letra Capital, 2019.
https://riodecoracaotour.com.br/a-historia-do-cemiterio-de-campo-grande/ Acesso em 20 jul 2020.

Pesquisa feita por Adinalzir Pereira Lamego. Com a colaboração de José Luiz Teixeira e Paulo Clarindo do IAPAC e IHGI.

10 comentários:

Carlos Eduardo de Souza disse...

Belo resgate de nossa história, meu amigo. Parabéns.

Adinalzir disse...

Valeu Carlos Eduardo!
Fico muito honrado pela visita e comentário. Abraço!

José Luiz Teixeira disse...

Caro Prof. Adinalzir, fico sensibilizado por dividir os créditos de sua pesquisa com nossas pessoas, daquilo que foi um pequeno mergulho que fizemos na rica história da região da Mata de Paciência durante a pandemia, motivados inicialmente por sua própria pesquisa. Nosso desejo de aprofundar esses conhecimentos nos levarão com certeza a conhecer ainda mais esta região a qual gostaríamos de visitar em breve. Parabéns por ter retomado a pesquisa e publicado aqui no blog.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Aí um fato bem curioso e pesquisar sobre o assunto enriquece a nossa cultura histórica, criando uma agradável polêmica. Sem dúvida, é um assunto que pode render até valiosas teses.

Anônimo disse...

Muito bom conhecer uma pouco mais sobre a história. Parabéns Professor Adinalzir!

Adinalzir disse...

Prezado José Luiz Teixeira
Eu que lhe agradeço. Inclusive por haver comprado os livros "Viajantes Estrangeiros na Zona Oeste Carioca" e "Os Dois Engenhos de Paciência" e ter mergulhado com carinho na leitura de tão preciosas obras. Que continuemos assim com a História em nossos horizontes.
Deixo aqui a minha eterna gratidão!

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis
Muito honrado com a sua visita e considerações sempre valiosas.
Fico muito grato!

Adinalzir disse...

Prezado Anônimo (Aldair)
Conhecer História é tudo de bom.
Muito obrigado e volte sempre!

Unknown disse...

Graças a Deus por tua vida,Prof.Adinalzir...sim! Conhecer a nossa história é tudo de bom!Obrigada por nos trazer tão preciosas informações.Parabéns pelo trabalho nobríssimo e por compartilhá-lo conosco.Graça e Paz em Jesus Cristo,Nosso Senhor,Redentor e Rei!

Marcus Vinícius - Observando Direito disse...

Muito bom!
História enriquece,parabéns!