domingo, junho 07, 2020

Área preserva remanescente de Mata Atlântica de baixada



Regua, em Cachoeiras de Macacu, é lar de espécies raras de animais e plantas

Florestas saudáveis abrigam biodiversidade, produzem água e distribuem saúde. E, ainda que raramente, elas podem ser encontradas junto a centros urbanos. É o caso da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), em Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio, que protege um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica de baixada do país, com árvores seculares e colossais cobertas por orquídeas e áreas onde a floresta restaurada voltou. 

Laboratório a céu aberto para estudos de universidades e da Fiocruz sobre fauna, flora e saúde, a Regua é lar de raridades, como muriquis-do-sul, onças pardas, macucos e antas, estas últimas reintroduzidas lá em 2017 após mais de um século extintas no estado. Também é procurada por humanos em busca de saúde física e mental, diante de mais de 450 espécies de aves e cerca de 800 de borboletas. 

Pessoas que vão lá praticam um conceito que pesquisadores japoneses chamam de shinrinyoku ,ou banho de floresta, e dizem prevenir ansiedade, depressão, estresse, estimular a cognição e até aumentar a imunidade. 

Proprietários da Regua, o casal Nicholas e Raquel Locke diz que “vivem no paraíso”. 

Paraíso que só foi possível porque o casal devolveu à Mata Atlântica, como diz Nicholas, a dignidade. Os Locke moram lá desde os anos 1980, em terras que pertenciam à família de Nicholas há gerações e são ocupadas pelo menos desde o século XVIII.

São 6.500 hectares de áreas próprias, 5.500 dos quais em sobreposição com o Parque Estadual dos Três Picos. Lá podem ser admiradas aquase extinta braúna, jequitibá-rosa, pau-brasil e vinhático. 

A convivência saudável entre humanos e floresta é possível porque esta última está em equilíbrio. Há mosquitos, mas não há doença porque predadores como as libélulas se encarregam do controle. 

É a materialização do conceito de Saúde Única. Lilian Catenacci, professora da Universidade Federal do Piauí e especialista em Saúde Única, investigou em seu doutorado a relação entre animais e a saúde em comunidades da Mata Atlântica do sul da Bahia. O trabalho mostrou que a floresta tem um efeito de diluição de doenças infecciosas. Isso acontece porque quanto mais hospedeiros naturais para vírus há na mata, meno ré a chance desses patógenos afetarem seres humanos.

— A biodiversidade é uma barreira natural entre os vírus potencialmente perigosos e os humanos. Tudo na mata importa, inclusive os fragmentos, os parques urbanos e os sistemas agroflorestais — diz. 

O conceito de Saúde Única migra o princípio individual de mente sã em corpo são para o coletivo de população com saúde na natureza saudável. 

— A maioria das pessoas ainda não entende que sua saúde é indissociável do meio ambiente. Os estudos de impacto ambiental deveriam considerar também os danos potenciais à saúde. A Covid-19 nos alerta que passou do tempo de compreendermos isso. A doença começou com a interferência do ser humano no ambiente selvagem. O risco somos nós. Saber lidar com a natureza é a nossa salvação — conclui a professora. 

Texto: Ana Lucia Azevedo   Foto: Márcia Foletto


Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

2 comentários:

Eduardo Morales disse...

Parabéns pelas publicações sempre excelentes!

Adinalzir disse...

Muito obrigado, Eduardo Morales
Volte sempre a este blog!
Grande abraço.