Banhado pela baía de mesmo nome, o bairro de Sepetiba, no extremo oeste do Rio de Janeiro, possui cerca de 40 mil habitantes e um dos piores índices de desenvolvimento social – IDS – do município, segundo o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. O IDS leva em conta o acesso dos moradores a saneamento básico, qualidade habitacional, grau de escolaridade e renda.
Lugar privilegiado pela natureza, de beleza ímpar, separado do Oceano Atlântico pela delgada Restinga da Marambaia, sofre atualmente - tanto pelo aspecto social quanto pelo econômico - com a poluição de suas praias, já que a pesca e o turismo, atividades básicas de sobrevivência local, estão comprometidas.
O bairro possui grande relevância histórica. Estudos de pesquisadores da Uerj e da UFRRJ atestam que há registros pré-históricos de ocupação indígena no litoral da Baía de Sepetiba. Foram encontrados 34 sambaquis, ou seja, depósitos de materiais orgânicos e calcários empilhados ao longo do tempo, que serviam, entre outras finalidades, para identificar o grupo indígena que habitava a região. Os sambaquis continham conchas, lâminas de quartzo, pedras de amolar, machado e fragmentos de ossos.
Os índios tamoios deram nome à localidade ao notarem que havia muito sapê na região, e a chamaram de çape-tyba, ou sítio dos sapês – vegetação nativa. A palavra tupi foi aportuguesada pelos jesuítas, tornando-se Sepetiba.
Companhia de Jesus
No período colonial, Sepetiba fazia parte da gigantesca Fazenda de Santa Cruz, pertencente aos jesuítas e conhecida como a Joia da Capitania. A propriedade, de 1.167 km², estendia-se até Vassouras. Havia pecuária, produção de açúcar, arroz, feijão, mandioca, anil, fumo, algodão, legumes, frutas, cacau e café, entre outros. E também manufaturas: olaria, ferraria, carpintaria, serraria, fábricas de cerâmica, de canoas, de móveis e de artigos de couro, estaleiro, ourivesaria, prateiros, tecelagem, forno de cal, casa de farinha, engenhos. A propriedade ainda possuía hospital, botica (espécie de farmácia), senzalas e armazéns. Ou seja, era um grande centro agrário-fabril, autônomo, cujo excedente de produtos era escoado tanto em direção à corte quanto para outros engenhos próximos.
A porção da fazenda onde hoje se situa o bairro de Sepetiba, junto à faixa litorânea, era dividida em arrendamentos. Em 1729, contava-se 26 arrendatários. Entre eles, os índios, que pagavam a título de foro, anualmente, três galinhas, e os demais foreiros, quatro. Posteriormente, esse valor foi substituído por meia dobra (antiga moeda portuguesa). Deste modo, os jesuítas garantiam o controle da região do porto que havia em frente à Ilha da Madeira.
Do porto da Fazenda de Santa Cruz seguiam víveres para a Companhia de Jesus – 500 bois anuais, verduras, legumes e açúcar –, cujo ancoradouro ficava na Praia Dom Manuel (que não existe mais), no canto da Praça Quinze.
Palácio de veraneio Real
Em 31 de agosto de 1808, o então príncipe regente Dom João, por meio de decreto, subordinou a administração da Fazenda de Santa Cruz à Casa Real. A partir daí, a residência dos jesuítas transformou-se em palácio de veraneio real, houve melhoramentos na estrada que a ligava à Quinta da Boa Vista e foram construídas as pontes de Piraquara, Bangu e Cabuçu.
Ergueram-se três fortes equipados com baterias de canhões para garantir a segurança da família real: o de São Pedro (guardava as praias de Sepetiba e as ilhas da Pescaria e do Tatu), o de São Paulo (praias de Sepetiba e Piahy) e o de São Leopoldo (no Morro de Sepetiba). Nenhum deles sobreviveu ao tempo.
Em 26 de julho de 1813, Dom João VI, novamente por meio de decreto, fez de Sepetiba um povoado, delimitando sua área e doando as terras aos pescadores e lavradores, inicialmente, formando oito sítios. Durante a República, chegaram habitantes de outras localidades para se fixar nas praias da região, em casas rústicas de telhados de sapê. Desde então, a principal atividade econômica do local é a pesca.
Sepetiba hoje
Atualmente, os pescadores precisam se afastar cada vez mais do litoral para garantir o produto, pois as praias do bairro – Sepetiba (2,6 km), do Cardo (pouco mais de 2 km) e de Dona Luiza ou do Recôncavo (1km) – estão poluídas, justamente por estarem localizadas no fundo da baía, a parte mais assoreada. E não é qualquer tipo de sedimento. Segundo estudo de Julio Cesar Wasserman, coordenador da Rede de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da UFF, há elevada concentração de zinco e cádmio, metais pesados, potencialmente maléficos à saúde humana.
A poluição da Baía de Sepetiba está diretamente relacionada com a água dos rios que deságuam nela, como é o caso do Rio Guandu, trazendo em grande escala esgotos sanitários, resíduos sólidos e despejos industriais sem tratamento adequado.
O Movimento Ecomuseu de Sepetiba busca unir a comunidade local para resistir à degradação do bairro frente às dificuldades. Além da poluição, os moradores convivem com poucas linhas de ônibus, que funcionam em horários espaçados. O transporte é feito predominantemente por vans e kombis, que seguem em direção a Santa Cruz, Campo Grande e Bangu.
Em relação a saúde e educação, a Rua José Fernandes é fundamental, pois concentra o pronto-socorro, a Casa de Saúde República da Croácia, o posto de saúde e dois cieps: Deputado Ulysses Guimarães e Ministro Marcos Freire. Saindo dali, o bairro possui também quatro escolas municipais: Nair da Fonseca, Nelson Romero, Felipe Camarão e Júlio Cesário de Melo, além de um colégio estadual: Carlos Arnoldo Abruzzini da Fonseca.
O comércio é formado por padarias, farmácias, minimercados, um único supermercado, algumas academias de ginástica, muitos quiosques e bares. São destaques a Capela de São Pedro, de 1895, o Sepetiba Iate Clube, fundado em 1947, e o coreto de ferro com base de alvenaria da Praça Washington Luiz, tombado desde 1985, que serviu de cenário para a novela O Bem-Amado, de Dias Gomes, local onde o prefeito Odorico Paraguaçu, interpretado por Paulo Gracindo, fazia seus discursos.
Texto de Larissa Altoé
Originalmente postado na página multirio.rj.gov.br
Lugar privilegiado pela natureza, de beleza ímpar, separado do Oceano Atlântico pela delgada Restinga da Marambaia, sofre atualmente - tanto pelo aspecto social quanto pelo econômico - com a poluição de suas praias, já que a pesca e o turismo, atividades básicas de sobrevivência local, estão comprometidas.
O bairro possui grande relevância histórica. Estudos de pesquisadores da Uerj e da UFRRJ atestam que há registros pré-históricos de ocupação indígena no litoral da Baía de Sepetiba. Foram encontrados 34 sambaquis, ou seja, depósitos de materiais orgânicos e calcários empilhados ao longo do tempo, que serviam, entre outras finalidades, para identificar o grupo indígena que habitava a região. Os sambaquis continham conchas, lâminas de quartzo, pedras de amolar, machado e fragmentos de ossos.
Os índios tamoios deram nome à localidade ao notarem que havia muito sapê na região, e a chamaram de çape-tyba, ou sítio dos sapês – vegetação nativa. A palavra tupi foi aportuguesada pelos jesuítas, tornando-se Sepetiba.
Companhia de Jesus
No período colonial, Sepetiba fazia parte da gigantesca Fazenda de Santa Cruz, pertencente aos jesuítas e conhecida como a Joia da Capitania. A propriedade, de 1.167 km², estendia-se até Vassouras. Havia pecuária, produção de açúcar, arroz, feijão, mandioca, anil, fumo, algodão, legumes, frutas, cacau e café, entre outros. E também manufaturas: olaria, ferraria, carpintaria, serraria, fábricas de cerâmica, de canoas, de móveis e de artigos de couro, estaleiro, ourivesaria, prateiros, tecelagem, forno de cal, casa de farinha, engenhos. A propriedade ainda possuía hospital, botica (espécie de farmácia), senzalas e armazéns. Ou seja, era um grande centro agrário-fabril, autônomo, cujo excedente de produtos era escoado tanto em direção à corte quanto para outros engenhos próximos.
A porção da fazenda onde hoje se situa o bairro de Sepetiba, junto à faixa litorânea, era dividida em arrendamentos. Em 1729, contava-se 26 arrendatários. Entre eles, os índios, que pagavam a título de foro, anualmente, três galinhas, e os demais foreiros, quatro. Posteriormente, esse valor foi substituído por meia dobra (antiga moeda portuguesa). Deste modo, os jesuítas garantiam o controle da região do porto que havia em frente à Ilha da Madeira.
Do porto da Fazenda de Santa Cruz seguiam víveres para a Companhia de Jesus – 500 bois anuais, verduras, legumes e açúcar –, cujo ancoradouro ficava na Praia Dom Manuel (que não existe mais), no canto da Praça Quinze.
Palácio de veraneio Real
Em 31 de agosto de 1808, o então príncipe regente Dom João, por meio de decreto, subordinou a administração da Fazenda de Santa Cruz à Casa Real. A partir daí, a residência dos jesuítas transformou-se em palácio de veraneio real, houve melhoramentos na estrada que a ligava à Quinta da Boa Vista e foram construídas as pontes de Piraquara, Bangu e Cabuçu.
Ergueram-se três fortes equipados com baterias de canhões para garantir a segurança da família real: o de São Pedro (guardava as praias de Sepetiba e as ilhas da Pescaria e do Tatu), o de São Paulo (praias de Sepetiba e Piahy) e o de São Leopoldo (no Morro de Sepetiba). Nenhum deles sobreviveu ao tempo.
Em 26 de julho de 1813, Dom João VI, novamente por meio de decreto, fez de Sepetiba um povoado, delimitando sua área e doando as terras aos pescadores e lavradores, inicialmente, formando oito sítios. Durante a República, chegaram habitantes de outras localidades para se fixar nas praias da região, em casas rústicas de telhados de sapê. Desde então, a principal atividade econômica do local é a pesca.
Sepetiba hoje
Atualmente, os pescadores precisam se afastar cada vez mais do litoral para garantir o produto, pois as praias do bairro – Sepetiba (2,6 km), do Cardo (pouco mais de 2 km) e de Dona Luiza ou do Recôncavo (1km) – estão poluídas, justamente por estarem localizadas no fundo da baía, a parte mais assoreada. E não é qualquer tipo de sedimento. Segundo estudo de Julio Cesar Wasserman, coordenador da Rede de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da UFF, há elevada concentração de zinco e cádmio, metais pesados, potencialmente maléficos à saúde humana.
A poluição da Baía de Sepetiba está diretamente relacionada com a água dos rios que deságuam nela, como é o caso do Rio Guandu, trazendo em grande escala esgotos sanitários, resíduos sólidos e despejos industriais sem tratamento adequado.
O Movimento Ecomuseu de Sepetiba busca unir a comunidade local para resistir à degradação do bairro frente às dificuldades. Além da poluição, os moradores convivem com poucas linhas de ônibus, que funcionam em horários espaçados. O transporte é feito predominantemente por vans e kombis, que seguem em direção a Santa Cruz, Campo Grande e Bangu.
Em relação a saúde e educação, a Rua José Fernandes é fundamental, pois concentra o pronto-socorro, a Casa de Saúde República da Croácia, o posto de saúde e dois cieps: Deputado Ulysses Guimarães e Ministro Marcos Freire. Saindo dali, o bairro possui também quatro escolas municipais: Nair da Fonseca, Nelson Romero, Felipe Camarão e Júlio Cesário de Melo, além de um colégio estadual: Carlos Arnoldo Abruzzini da Fonseca.
O comércio é formado por padarias, farmácias, minimercados, um único supermercado, algumas academias de ginástica, muitos quiosques e bares. São destaques a Capela de São Pedro, de 1895, o Sepetiba Iate Clube, fundado em 1947, e o coreto de ferro com base de alvenaria da Praça Washington Luiz, tombado desde 1985, que serviu de cenário para a novela O Bem-Amado, de Dias Gomes, local onde o prefeito Odorico Paraguaçu, interpretado por Paulo Gracindo, fazia seus discursos.
Texto de Larissa Altoé
Originalmente postado na página multirio.rj.gov.br
Postado nesta página por Adinalzir Pereira Lamego - Professor e Pesquisador do NOPH
2 comentários:
Um texto excelente!
Parabéns!
Prezada Helena Brasiliana
Que bom que você gostou.
Muito obrigada!
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