Karl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix eram da Baviera, região que hoje pertence à Alemanha (país que ainda não existia na época), e chegaram ao Rio de Janeiro em 1817, junto com a Comissão Científica que acompanhou D. Leopoldina de Habsburgo, a arquiduquesa que chegava da poderosa Corte de Viena para se casar com o príncipe D. Pedro I e se tornar a primeira Imperatriz do Brasil. Casamento acertado entre as duas Cortes, sem que os noivos se conhecessem pessoalmente, um arranjo político muito comum naqueles tempos de cabeças coroadas.
Leopoldina era apaixonada por ciência e, sabendo que iria morar no Brasil, um lugar que despertava a imaginação dos europeus há muito tempo, graças às narrativas, muitas delas delirantes, de animais exóticos e florestas exuberantes, homens primitivos e animais marinhos, logo tratou de reunir um grupo de amigos cientistas para acompanhá-la na viagem. Entre eles, Spix e Martius, como eram mais conhecidos.
Os dois cientistas, que na verdade eram naturalistas, termo que com o tempo caiu em desuso e designava aqueles que faziam observações científicas (inclusive desenhando) sobre espécies de flora e da fauna, viajariam por todo o Brasil até 1820, quando regressaram para a Europa, e puderam realizar amplas pesquisas por diversas regiões, sempre enfrentando problemas comuns aos viajantes europeus que chegavam para ficar, como o calor excessivo, mosquitos, cobras, onças, hostilidades em geral etc. Já mencionei neste livro duas passagens deles pela região, quando se depararam com a costumeira rebeldia das mulas antes de seguirem viagem, derrubando inclusive os incautos viajantes. Desta vez, farei o relato completo da passagem dos dois naturalistas europeus por estas terras, relato este incluído em "Viagem pelo Brasil", o livro que eles lançariam com todas as observações feitas sobre as terras brasileiras.
A viagem começou no dia 8 de dezembro de 1817, quando Spix e Martius pernoitaram na tradicional Venda de Santíssimo, propriedade de um italiano e que ficava no atual bairro de Santíssimo. Dali seguiram viagem e chegaram à Fazenda de Santa Cruz no dia 10, onde foram recebidos pelos administrador, o tenente-coronel Feldner, e ficaram impressionados com o estado de abandono da sede da fazenda, com as casinhas de barro miseráveis e também com a extensão da planície cercada de pântanos. Também impressionou os europeus a quantidade de escravos, mais de mil.
Spix e Martius perguntaram pelos colonos chineses que o Conde de Linhares mandara trazer para a fazenda a fim de iniciarem uma plantação de chá, mas que não deu certo. Segundo o relato, havia poucos chineses por lá, a maioria tinha ido para a cidade, "a fim de andar pelas ruas como vendedores ambulantes, oferecendo pequenas bugigangas chinesas, especialmente estofos de algodão e foguetes, doenças e saudades da terra já haviam arrebatado a muitos; desgostos já haviam liquidado outros chins das redondezas".
Os visitantes também foram bem críticos em relação ao pequeno Jardim Botânico criado por D. João VI, abandonado numa colina, assim como o Jardim da Quinta, perto da Casa Real. E mesmo o administrador, segundo eles, "tinha que se contentar, todavia, com uma miserável cabana de barro para morada e com frugal sustento".
Na partida da fazenda, confusão entre as mulas, inclusive com a destruição do barômetro, e o encontro com um fazendeiro holandês, Dufler, que plantava cana e café. Mais à frente, após outra confusão com as mulas, "que se achavam em completa desordem num terreno argiloso, profundamente esburacado", os viajantes chegam à Granja Real, propriedade da Fazenda de Santa Cruz, onde "o viajante não encontra nada que lhe faça lembrar a intervenção do homem nestas selvas majestosas".
Em seguida, após descerem uma encosta bastante escarpada, "fora da profunda escuridão da mata virgem", avistaram a Vila de São João Marcos, que seria inundada light ////. "Quando descemos pela encostas escarpada, fora da grave escuridão da mata virgem, avistamos o pequeno lugarejo formado pela Vila de São João Marcos, e mais tarde uma solitária, porém importante, fazenda no vale". Dormiram ao relento, na Fazenda do Retiro, e no prosseguimento da viagem, um dos componentes da expedição foi mordido por uma aranha caranguejeira, mas conseguiu se recuperar. Daí em diante, Spix e Martius e sua comitiva seguiram para São Paulo enfrentando fortes chuvaradas, deixando para trás as terras que ainda seriam muito visitada por naturalistas, pintores e curiosos vindos de outros continentes.
Por André Mansur (Jornalista e Escritor)
Imagem- Artocarpus integrifolia (jaqueira), de cuja sombra se vê a baía e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, c. 1847. Carl Friedrich Phillipp von Martius / Acervo IMS.
Leopoldina era apaixonada por ciência e, sabendo que iria morar no Brasil, um lugar que despertava a imaginação dos europeus há muito tempo, graças às narrativas, muitas delas delirantes, de animais exóticos e florestas exuberantes, homens primitivos e animais marinhos, logo tratou de reunir um grupo de amigos cientistas para acompanhá-la na viagem. Entre eles, Spix e Martius, como eram mais conhecidos.
Os dois cientistas, que na verdade eram naturalistas, termo que com o tempo caiu em desuso e designava aqueles que faziam observações científicas (inclusive desenhando) sobre espécies de flora e da fauna, viajariam por todo o Brasil até 1820, quando regressaram para a Europa, e puderam realizar amplas pesquisas por diversas regiões, sempre enfrentando problemas comuns aos viajantes europeus que chegavam para ficar, como o calor excessivo, mosquitos, cobras, onças, hostilidades em geral etc. Já mencionei neste livro duas passagens deles pela região, quando se depararam com a costumeira rebeldia das mulas antes de seguirem viagem, derrubando inclusive os incautos viajantes. Desta vez, farei o relato completo da passagem dos dois naturalistas europeus por estas terras, relato este incluído em "Viagem pelo Brasil", o livro que eles lançariam com todas as observações feitas sobre as terras brasileiras.
A viagem começou no dia 8 de dezembro de 1817, quando Spix e Martius pernoitaram na tradicional Venda de Santíssimo, propriedade de um italiano e que ficava no atual bairro de Santíssimo. Dali seguiram viagem e chegaram à Fazenda de Santa Cruz no dia 10, onde foram recebidos pelos administrador, o tenente-coronel Feldner, e ficaram impressionados com o estado de abandono da sede da fazenda, com as casinhas de barro miseráveis e também com a extensão da planície cercada de pântanos. Também impressionou os europeus a quantidade de escravos, mais de mil.
Spix e Martius perguntaram pelos colonos chineses que o Conde de Linhares mandara trazer para a fazenda a fim de iniciarem uma plantação de chá, mas que não deu certo. Segundo o relato, havia poucos chineses por lá, a maioria tinha ido para a cidade, "a fim de andar pelas ruas como vendedores ambulantes, oferecendo pequenas bugigangas chinesas, especialmente estofos de algodão e foguetes, doenças e saudades da terra já haviam arrebatado a muitos; desgostos já haviam liquidado outros chins das redondezas".
Os visitantes também foram bem críticos em relação ao pequeno Jardim Botânico criado por D. João VI, abandonado numa colina, assim como o Jardim da Quinta, perto da Casa Real. E mesmo o administrador, segundo eles, "tinha que se contentar, todavia, com uma miserável cabana de barro para morada e com frugal sustento".
Na partida da fazenda, confusão entre as mulas, inclusive com a destruição do barômetro, e o encontro com um fazendeiro holandês, Dufler, que plantava cana e café. Mais à frente, após outra confusão com as mulas, "que se achavam em completa desordem num terreno argiloso, profundamente esburacado", os viajantes chegam à Granja Real, propriedade da Fazenda de Santa Cruz, onde "o viajante não encontra nada que lhe faça lembrar a intervenção do homem nestas selvas majestosas".
Em seguida, após descerem uma encosta bastante escarpada, "fora da profunda escuridão da mata virgem", avistaram a Vila de São João Marcos, que seria inundada light ////. "Quando descemos pela encostas escarpada, fora da grave escuridão da mata virgem, avistamos o pequeno lugarejo formado pela Vila de São João Marcos, e mais tarde uma solitária, porém importante, fazenda no vale". Dormiram ao relento, na Fazenda do Retiro, e no prosseguimento da viagem, um dos componentes da expedição foi mordido por uma aranha caranguejeira, mas conseguiu se recuperar. Daí em diante, Spix e Martius e sua comitiva seguiram para São Paulo enfrentando fortes chuvaradas, deixando para trás as terras que ainda seriam muito visitada por naturalistas, pintores e curiosos vindos de outros continentes.
Por André Mansur (Jornalista e Escritor)
Imagem- Artocarpus integrifolia (jaqueira), de cuja sombra se vê a baía e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, c. 1847. Carl Friedrich Phillipp von Martius / Acervo IMS.
2 comentários:
Texto muito interessante. Os relatos dos viajantes estrangeiros sempre me fascinaram.
Muito grata pela postagem!
Caríssima Helena Brasiliana
Fico muito honrado pela sua vista e comentário.
Sempre é muito bom tê-la por aqui.
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