quarta-feira, outubro 24, 2018

A morte da livraria



A megafilial carioca da Livraria Cultura fechou as portas. Ficava na Cinelândia e ocupava o prédio do antigo Cinema Vitória, uma das maravilhas do art déco no Rio, inaugurado em 1942 com “O Grande Ditador”, de Chaplin. Assisti a grandes filmes no Vitória. Nos anos 80, com a decadência dos cinemas de rua, o proprietário dedicou-se a degradá-lo, reduzindo-o a filmes pornô, até finalmente fechá-lo. Sua transformação na Cultura em 2012, mantidos muitos traços originais do prédio, era a esperança de sua conservação.

As livrarias sempre foram pontos de encontro entre os escritores e seus leitores, para benefício de ambos. No Rio, a primeira foi a do editor e tipógrafo Paula Brito, na hoje praça Tiradentes, pouso em 1860 de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antonio de Almeida e Machado de Assis. Sucedeu-a, rumo a 1900, o longo reinado da Garnier, na rua do Ouvidor, também com Machado, mas já na companhia da turma de Coelho Netto e Olavo Bilac.


Veio então a Leite Ribeiro, no largo da Carioca, com suas vitrines iluminadas e onde Théo-Filho e Gilka Machado davam as ordens em 1922. Nos anos 30 e 40, a José Olympio, também na Ouvidor, era o território de Zé Lins do Rego e Graciliano Ramos. Em seguida, a querida São José, na rua idem, onde Drummond batia o ponto todos os dias. E a Leonardo da Vinci, reduto em 1968 dos cientistas sociais, dos estruturalistas e dos leitores do Cahiers du Cinéma.

De 1990 para cá, diversas livrarias foram palco de encontros: a Timbre, até hoje no Shopping da Gávea; sua pranteada vizinha, a Bookmakers; a Dantes, no Leblon, também morta; e as várias Travessas, cada vez mais acolhedoras e, graças, firmes.

A crise e outros problemas não deram tempo à Cultura para criar aquele ambiente mágico em que autores e leitores se espelham - estes, sonhando escrever, e, aqueles, ansiando pelo dia em que poderão se dedicar simplesmente a ler.

Por Ruy Castro, jornalista e escritor - Folha de S.Paulo.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2018/10/a-morte-da-livraria.shtml

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

6 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Boa tarde! Sempre gostei de frequentar as livrarias. Nem que fosse para passar horas do dia namorando os livros e levar para casa um exemplar ou nenhum. E, de uns tempos para cá, com a deliciosa combinação de cafés com a venda de livros, tais ambientes tornaram-se ainda mais convidativos, virando locais bem propícios para a convivência social. Cá em Mangaratiba falta um lugar assim e desconheço onde poderia ir na cidade vizinha de Itaguaí. Porém, pelo Centro do Rio e em Nova Friburgo, município onde morei até 2011, tive boas opções de livrarias com agradáveis cafés.

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis

Também sempre gostei de frequentar livrarias. Chegando ao ponto de me tornar um verdadeiro viciado por livros. Aqui em Campo Grande, no Park Shopping, temos a Livraria Leitura, que não fica nada a dever as melhores do Centro e da Zona sul do Rio.

Bom dia e muito obrigado pela visita e comentário.

Adinalzir disse...

Acabei de saber que a Saraiva fechou mais 20 lojas da sua rede de uma só vez, e a grande maioria dos funcionários foi dispensada. Essas unidades estavam localizadas no Rio de Janeiro, Natal, Salvador, Recife, Goiânia e Vitória. Será que estamos vivendo o fim das grandes livrarias? Torço que esse espaço seja ocupado pelas pequenas livrarias. Com preços muito mais competitivos e consumidores mais interessados.

Heráclito Domingues disse...

Curioso esse nosso país. Todo mundo tem opinião sobre quase tudo, mas as livrarias fecham por queda nas vendas. Vai entender uma coisa dessas.

Adinalzir disse...

Caro Heráclito Domingues
Infelizmente é difícil de entender tudo isso. Vivemos tempos difíceis.
Grande abraço!

Adinalzir disse...

ÚLTIMA NOTÍCIA! Editores se reúnem para discutir futuro de Saraiva e Livraria Cultura
Situação de duas das maiores redes de livrarias do país é retrato de dificuldades do mercado livreiro. Medo dos editores é ficar na mão da Amazon. Leia o texto abaixo:

Está marcada para esta quarta-feira uma reunião que pode determinar o futuro da venda de livros em lojas físicas no Brasil. O Sindicato Nacional das Editoras de Livros (Snel) se reúne para discutir maneiras de evitar que a Saraiva e a Livraria Cultura, duas das mais tradicionais redes de livrarias do país, vão para o buraco. A medida é uma forma das editoras de evitar que o mercado de venda de livros em lojas físicas entre em colapso, uma vez que a Saraiva é a maior livraria do país e está em recuperação extrajudicial e a livraria Cultura vai iniciar sua recuperação judicial em dezembro.

Estima-se que a Saraiva tenha uma dívida de mais de 485 milhões de reais, além de 120 milhões de reais em linhas de créditos com bancos como Banco do Brasil, BNDES e Itaú. Com isso, a companhia fechou 20 lojas na semana passada. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, há um consenso por parte das editoras em evitar que a empresa entre em Recuperação Judicial, uma vez que a rede é considerada “grande demais para quebrar”.

A Justiça já aceitou o pedido de Recuperação Judicial da livraria Cultura, que deve ter início em no mês que vem. Dona da Fnac – que fechou todas as suas 15 lojas nos últimos 15 meses – a Cultura afirma ter uma dívida vencida de 92 milhões de reais, além de somar 285 milhões de reais em dívidas ainda vigentes.

Juntas, Saraiva e Cultura têm 95 lojas em pontos estratégicos das grandes capitais brasileiras, sendo canais fundamentais de vendas, que chegam a representar quase 40% do faturamento de algumas editoras.

Perder as lojas físicas é um problema para as editoras. Grandes varejistas no e-commerce não têm garantido o lucro desejado. Segundo o portal Terra, as editoras se preocupam especialmente com a Amazon, conhecida por comprar grandes lotes de livros no lugar de pegar consignados, mas de negociar descontos agressivos com as editoras.

O consumo de livros no país voltou a crescer em 2018, registrando um aumento de 3,65%, com livros vendidos a preço médio de 43,24 reais (aumento de 5,37%). Mas é apenas uma pequena alta que não compensa, segundo os editores, anos de queda.

Durante o encontro de hoje, será proposta uma Assembleia Geral Extraordinária para os associados do SNEL, em que o Sindicato emitirá um pronunciamento com a posição do setor sobre quais deverão ser os rumos das negociações com a Cultura e com a Saraiva durante os próximos meses. “Nenhuma decisão individual das editoras conseguirá salvar as empresas. Mais do que nunca, as editoras devem agir em conjunto para conseguirmos reverter este quadro”, afirmou em nota Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato.

Fonte:
https://exame.abril.com.br/negocios/editores-se-reunem-para-discutir-futuro-de-saraiva-e-livraria-cultura/?fbclid=IwAR0RVnz8cO_G3A48v3AREgJPEUih9VduCkcpxduRw_LV4UG1Vz5WbVhGAKw