segunda-feira, agosto 20, 2018

NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz: sua história e importância

Logo criado pelo artista plástico Lui Fer em 1984.

O bairro de Santa Cruz conta com o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, associação civil sem fins lucrativos, sem vínculos político-partidários, criada com o objetivo de realizar pesquisas, divulgar a História Local, dinamizar a cultura e desenvolver campanhas visando a preservação dos bens culturais de Santa Cruz e da Zona Oeste carioca. Esse objetivo teve início a partir de 1983 através de um extenso levantamento do acervo documental existente sobre Santa Cruz em poder das famílias tradicionais do lugar, em bibliotecas e institutos históricos. Sendo então todo esse trabalho divulgado através de boletins, que apesar das dificuldades encontradas, foram sendo distribuídos em escolas e universidades. Mesmo sentindo que ainda existe uma falta de vontade política na dinamização da cultura e apoio a história local, o trabalho de seus membros e fundadores continua vivo até os dias de hoje.

O NOPH é reconhecido de Utilidade Pública pelas Leis nº 590, de 15 de agosto de 1984 (Município) e Lei Estadual nº 1207, de 22 de outubro de 1987. Registrado no Ministério da Cultura como Pessoa Jurídica de Natureza Cultural, no Ministério da Fazenda CNPJ 30.031.223/0001-87 e no Município do Rio de Janeiro (ISS), com a Inscrição nº 02 107.368.

Mesmo assim, nunca se desvalorizou nada do que já foi produzido. Pelo contrário, foi preciso continuar a trabalhar cada vez mais, conscientizando até hoje a comunidade local no sentido de mostrar que o conhecimento histórico é um instrumento fundamental para o entendimento do presente e do futuro.

Através de projetos e atividades, a atuação do NOPH conseguiu ultrapassar os limites geográficos da região, contribuindo para o estímulo da memória coletiva e da pesquisa histórica. Em sua biblioteca encontramos um excelente acervo bibliográfico e museológico, com grande parte da história de Santa Cruz, que precisa ser organizado e digitalizado para que possa ser consultado por estudantes e pessoas interessadas na história local, inclusive pesquisadores.

A publicação dos boletins do NOPH foi outro elemento importante que propiciou o interesse pela história local nesse período de fundação do NOPH. Esses impressos, num total de 33 unidades, em formato tablóide, foram distribuídos em bibliotecas, museus, arquivos, centros culturais, escolas e universidades, e muitas vezes entregues até nas próprias ruas do bairro. A importância desses boletins ultrapassou os próprios limites da região de Santa Cruz e sua distribuição alcançou outros Estados, o Distrito Federal. Chegando até em outros países.

Esses boletins irão contribuir para o crescimento do NOPH e vários fatores irão justificar a sua importância. Entre eles podemos destacar as facilidades que esses pequenos tablóides ofereceram em termos de espaço para a divulgação de imagens, numa época em que ainda não haviam os recursos tecnológicos de hoje. Além de contribuírem para uma maior aproximação do leitor com a história do bairro.

Outra contribuição importante para a história de Santa Cruz foi a criação de um Ecomuseu, cujo marco inicial surgiu a partir da realização do I Encontro Internacional de Ecomuseus, realizado no Rio de Janeiro em maio de 1992. Cuja finalidade era discutir um novo pensamento que começava a surgir na Museologia, entre as décadas de 1960 e 1970. Essas experiências começaram a surgir no México e foram concretizadas na França, com o desenvolvimento de diversas experiências ecomuseológicas voltadas para o trabalho comunitário, em busca de respostas e soluções para seus problemas. Propondo que a partir daí a Museologia atuasse como um elo entre o passado e o presente. Neste Encontro, vários membros do NOPH, entre eles Odalice Priosti, se fizeram presentes constatando que as experiências e o trabalho desenvolvido pelo grupo do NOPH desde 1983, eram de certa forma muito semelhantes com aquelas questões que eram colocadas pelos participantes.

A partir do reconhecimento por parte desses especialistas, Santa Cruz passou a sediar aquele que seria o primeiro Ecomuseu Comunitário do Rio de Janeiro, denominado Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro, localizado ao lado de inúmeras unidades escolares e outros prédios históricos.

Em 1° de setembro de 1995 a Lei do Ecomuseu foi sancionada pela Prefeitura do Rio, após ser votada e aprovada pela Câmara Municipal, passando a fazer parte da estrutura da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro. A Lei Municipal recebeu o número 2.354. Com a criação do Ecomuseu, a comunidade de Santa Cruz iniciou então uma nova fase em sua história e tenta até hoje desbravar os obstáculos na luta por melhores condições de vida. O Ecomuseu se tornou então um espaço livre, vivo, sem donos ou dogmas, amplamente independente de políticos, governo ou partidos e somente a vontade e a luta da comunidade serão capazes de levar adiante este projeto, com a presença de todos aqueles que têm interesse em construir a nossa história e a história de Santa Cruz e arredores.

O Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro atualmente tem sua sede administrativa no Centro Cultural Dr. Antônio Nicolau Jorge, Rua das Palmeiras Imperiais, s/nº, Santa Cruz. Neste local encontra-se todo o acervo do NOPH e podem ser dadas todas as informações sobre a História de Santa Cruz, de outros bairros da Zona Oeste, da Costa Verde e da própria cidade do Rio de Janeiro. A partir da sua criação e da distribuição dos seus novos boletins, editados pelo NOPH a partir de 1993, denominados de “Quarteirão”, muito se contribuiu para a divulgação da história local e o reconhecimento da importância do bairro e da antiga Fazenda de Santa Cruz entre estudantes e pesquisadores das mais diversas áreas.

Assinado no último dia 12 de julho, pelo Prefeito Eduardo Paes, a lei municipal nº 7.459/2022, de autoria do vereador Carlo Caiado, torna o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica (NOPH), do bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade, fundado em 1983 por moradores locais para pesquisa e preservação dos patrimônios culturais santacruzenses, o mais novo ponto turístico da Cidade Maravilhosa.

Ocupando desde o ano 2000 parte do Palacete Princesa Isabel , onde funciona o Centro Cultural Municipal Dr. Antônio Nicolau Jorge, o NOPH, que possui mais de 5 mil itens em seu centro de documentação, abre caminho para a internação maior da história local com a atividade turística , na promoção da valorização desse importante e histórico bairro do subúrbio carioca e no aumento real da possibilidade do turismo cultural para a região.

O NOPH como produtor e guardião da história de Santa Cruz

O novo logo criado em 2019.

Os novos tempos: 2019/2021/2022/2024.

Momento em que todas as ações e eventos da instituição vão procurar buscar uma maior aproximação com a comunidade. Fazendo com que ela entenda que cultura, produção cultural e a história de Santa Cruz são importantes. Mostrando que ela também faz parte dessa história e que seja capaz de perceber que o NOPH tem a função social de guardião e mantenedor de toda essa produção. Inclusive com o uso das novas tecnologias atraves das diversas redes sociais.


Na foto acima vemos o Palacete Princesa Isabel, na área da Antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz (Avenida do Matadouro) construído para ser a sede administrativa do antigo Matadouro Público. Foi inaugurado em 1881, com a presença do Imperador Pedro II. Em estilo arquitetônico neoclássico. O prédio abrigou em 1886 o Colégio Princesa Isabel, depois denominado Escola Estados Unidos, Escola Politécnica e Ginásio Princesa Isabel. Hoje funciona como Centro Cultural Municipal de Santa Cruz. Onde se localiza também a Biblioteca Municipal do bairro.

Hoje instalado na nova sede, o NOPH – Ecomuseu de Santa Cruz tem despertado o interesse de inúmeros pesquisadores interessados na história da Fazenda de Santa Cruz. Recebendo pessoas dos mais diversos bairros do Rio de Janeiro para conhecer a região que um dia foi a sede da Fazenda, frequentada pelo poder real e depois pelos imperadores.

As relíquias patrimoniais existentes no território do antigo bairro nos remetem a um tempo em que viajantes estrangeiros acompanhando a Corte, fizeram importantes registros de uma época. Através de aquarelas, pinturas, diários de viagem, crônicas, e mais tarde fotografias como as de Augusto Malta. Documentos muito valorizados por pesquisadores e curiosos e que hoje são muito importantes para interpretar o passado e abrir olhos e mentes para o futuro. Inclusive através das próprias redes sociais.

Observamos, que junto com as pessoas que vem de outras regiões da cidade, os que vivem em Santa Cruz, tem se voltado cada vez mais para a construção da memória e assim, novos espaços de lazer e entretenimento foram sendo criados no bairro e no Centro de Documentação do NOPH através de informações culturais e imagens que estavam quase perdidas no tempo.

O que será que poderemos esperar no futuro por parte desses pesquisadores e estudiosos? Quem sabe conhecer um pequeno pedaço da história que não viveram e sequer conheceram na cidade partida do Rio de Janeiro que ignorou por décadas essa parte da Zona Oeste Carioca? De um lugar que um dia já foi sede do governo nas temporadas de veraneio de D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II e que serviu de rota de toda a nobreza que ia para São Paulo. Inclusive passando pelas terras da Mata da Paciência, de propriedade de D. Mariana Carneiro de Castro. O que é ainda uma história a ser contada e que muitos desconhecem.

Texto de Adinalzir Pereira Lamego

Bibliografia utilizada:

Boletim NOPH-20, julho de 1985, p. 14. Boletim NOPH-18, maio de 1985, p. 14.
Boletim NOPH-17, abril de 1985, p. 12. Boletim NOPH-15, fevereiro de 1985, p.12.
Boletim NOPH-13, dezembro de 1984, p. 12. Boletim NOPH-12, novembro de 1984, p. 8.
Boletim NOPH-10, agosto de 1984, p.l1. Boletim NOPH-9, junho/julho de 1984, p. 4.
Boletim NOPH-8, maio de 1984, p. 2. Boletim NOPH-7, abril de 1984, p. 2.
Boletim NOPH-32, setembro/outubro de 1986, p. 15.
Jornal Quarteirão 105, novembro/dezembro de 2013, p. 2

LAMEGO, Adinalzir Pereira.
"Santa Cruz, a Fazenda e o Bairro: Fontes para o Estudo de sua História". Ano 2014.

6 comentários:

Claudemiro Diniz disse...

Como morador sinto muito orgulho de saber de tudo isso.

Adinalzir disse...

Beleza Claudemiro Diniz
Sempre é um prazer a sua visita.

Carlos Eduardo de Souza disse...

Muito bom a existência desses espaços que conservam a memória local. Belo texto.

CLAUDIO SILVA RANGEL disse...

Boa Noite.
Sou morador da cidade do Rio de Janeiro, nascido na zona oeste, tenho 63 anos,apaixonado por historia do Brasil e quando se fala da história desde o período pre-colonial, colonial, imperial e republicano, por sediar a sede da capital do Brasil,nossa Cidade tem muitas histórias e estorias que ainda precisam ser contadas e muitas descobertas esquecida que fazem parte da história do Brasil que precisamos revelar,faço parte de um grupo de pesquisadores e em breve traremos mais fatos para somar relacionado a grande fazenda Jejuitica Santa Cruz, espero também que no acervo do NUCLEO,tenham copia da revista de 1961 da PGE,que deternina os limites do antigo Distrito federal e a criação do Estado da Guanabara aonde oficialmente cita por um periodo parte de SANTA CRUZ E TODA SEPETIDA como não fazendo parte do estado da Guanabara, relatos que me deixou curioso, formatei parte dessa revista e posso esta enviando para somar a essa brilhante instituição. meu zap 21997560051.

Adinalzir disse...

Valeu Carlos Eduardo! Minha gratidão pela visita e comentário.

Adinalzir disse...

Agradeço pela sua contribuição!