sexta-feira, fevereiro 16, 2018

Os mistérios de Candiani


Musa de Machado de Assis, a atriz e cantora lírica Augusta Candiani causou furor na vida da Corte do Rio de Janeiro imperial. Mas um mistério permanece sobre o final da vida de Candiani, que chegou ao Rio em 1843, aos 23 anos, como prima dona da Companhia Italiana de Ópera.

Nascida em Milão, em 1820, Carlotta Augusta Candiani estreou na capital do Império brasileiro em 17 de janeiro de 1844, no principal palco da Corte, o Teatro São Pedro de Alcântara (localizado no então Largo do Rocio, hoje Praça Tiradentes, exatamente onde fica o João Caetano). No programa, a primeira montagem no Brasil da ópera “Norma”, de Vicenzo Bellini.

A partir do sucesso estrondoso desta primeira apresentação, Candiani, que veio acompanhada do marido italiano, vai se identificar com a capital e o povo carioca de tal forma que nunca vai sair em definitivo da cidade, incentivando os músicos brasileiros a iniciarem o movimento da Ópera Nacional e rompendo barreiras entre o erudito e o popular ao cantar modinhas, gênero tipicamente brasileiro e mal visto pela elite da época.

Candiani não se tornou musa apenas de Machado de Assis, que a reverenciou em algumas passagens de sua obra, mas também de escritores como Joaquim Manoel de Macedo Martins Penna e do próprio D. Pedro II. O imperador, aliás, e sua esposa D. Teresa Cristina seriam padrinhos de sua filha, em 1844. Dois anos depois, ela se separou do marido e passou a viver com o compositor de modinhas José de Almeida Cabral. Nem é preciso dizer que foi um escândalo para a época. Com o divórcio, Candiani perdeu todos os bens e a guarda da filha.

Ela passa então a viajar por todo o Brasil pela Companhia Dramática Cabral, sempre misturando o erudito com o popular. Chega a morar no Rio Grande do Sul, onde atua no desenvolvimento do teatro e da ópera na província, e volta ao seu amado Rio de Janeiro em 1877. Continua a atuar até 1880, quando se retira para o bairro de Santa Cruz, na atual zona oeste carioca e na época zona rural da Corte. Morre aos 69 anos, em 28 de fevereiro de 1890, logo após o fim do Império.

Não se sabe até hoje em que casa Candiani teria morado em Santa Cruz. O que se sabe é que foi na atual rua Senador Camará. Alguns elegantes sobrados da época ainda existem no bairro e o boato é que D. Pedro II teria doado uma casa para ela em Santa Cruz. Após a morte do marido ela teria vivido com, ou próxima de, Bartholomeu Guimarães, um ator cômico português que também morreu em Santa Cruz um ano depois de Candiani. O grande desafio para os historiadores da vida da cantora é saber o que ela fez em Santa Cruz durante os dez últimos anos de vida e onde teria morado.

Mais informações no excelente blog http://agrinalda.blogspot.com/, da pesquisadora Andréa Carvalho, que está concluindo um livro sobre Candiani.

Texto de André Luís Mansur 

4 comentários:

Emanuele Santos disse...

Que história fantástica!

Adinalzir disse...

Muito grato pela visita, Emanuele Santos.
Grande abraço!

Roxcha disse...

Linda história...

Anônimo disse...

Estou lendo o livro Um Defeito de Cor e essa artista é citada, por isso procurei mais informações. Que bela história de vida a dessa italiana! Grata pelo texto, abraços.