A República era identificada com um projeto de modernização do País: rejeitava-se tudo que era relacionado ao regime anterior como sendo arcaico e retrógrado.
O Rio de Janeiro era o centro da nova ordem econômica e política: a capital era o maior núcleo da rede ferroviária nacional, ligando-se ao centro produtor de café do Oeste Paulista e outros importantes estados fornecedores de produtos agropecuários, além de manter o comércio de cabotagem com os estados do Norte e Nordeste.
O Rio de Janeiro era o centro da nova ordem econômica e política: a capital era o maior núcleo da rede ferroviária nacional, ligando-se ao centro produtor de café do Oeste Paulista e outros importantes estados fornecedores de produtos agropecuários, além de manter o comércio de cabotagem com os estados do Norte e Nordeste.
Em “Literatura como Missão”, Nicolau Sevcenko descreve o ambiente efervescente da capital, que passava por um processo de remodelagem urbana e social. Era preciso varrer para longe das vistas tudo o que fosse feio, velho, sujo e pobre. Grandes avenidas, edificações e monumentos foram erguidos. Os moradores dos cortiços eram escorraçados para a periferia. O Rio de Janeiro deveria se modernizar a qualquer custo, seguindo o modelo de Paris. A Campanha da Regeneração da cidade, levada à frente pelo prefeito Pereira Passos, e a campanha de vacinação de Oswaldo Cruz, que resultou na Revolta da Vacina (1904), mostram bem a essência deste novo projeto civilizador.
Os novos donos do poder queriam deixar suas marcas na cidade, destruindo tudo que lembrasse a cultura popular e os hábitos considerados antiquados. A campanha para tornar a cidade mais civilizada chegou a excessos que beiram o absurdo, como a criação de uma lei que obrigava os cidadãos a usar paletó e a vestir sapatos para circular pela região central da cidade. Quem fosse pego descalço ou “em mangas-de-camisa” poderia ser preso, o que, de fato, chegou a ocorrer, já que o projeto passou em segunda discussão no Conselho Municipal.
O consumismo, segundo o historiador, tornou-se parte do cotidiano das camadas mais abastadas, para as quais era fundamental adquirir as últimas novidades vindas da Europa. No início do século XX, a moda era uma obsessão entre a elite carioca. Todos sonhavam em ser chic ou smart, ou seja, desfilar com as vestimentas e os acessórios da última moda. As colunas sociais começavam a ditar as normas de vestuário e de comportamento para a mais fina sociedade. A Rua do Ouvidor era o maior centro do comércio sofisticado, oferecendo os artigos importados mais cobiçados. Logo, as tradicionais sobrecasaca e cartola pretas, símbolos da sociedade patriarcal e aristocrática do Império, foram substituídas pelo paletó de casimira clara e o chapéu de palha.
A mentalidade que dominava certas parcelas da população na época caracterizava-se pelo “desejo de ser estrangeiro”. O gosto do brasileiro deveria ser melhorado tendo como modelo a Europa, portanto, tudo o que fosse tipicamente brasileiro e popular era considerado de mau gosto. Até o Carnaval deveria deixar de lado as fantasias de índio e de cobra viva, para ser povoado por pierrôs, colombinas e arlequins. De acordo com Sevcenko, a moda foi a única tentativa de aprimoramento dos hábitos sociais do brasileiro que realmente foi consolidada com sucesso. Para o historiador, isto é explicado pela formação de um mercado de tecidos, roupas e acessórios na Belle Époque, que se baseava no aproveitamento dos estoques europeus no fim das estações para os consumidores do hemisfério sul. – Márcia Pinna Raspanti.
Obras de Nicolau Sevcenko:
“A Revolta da Vacina” (1983, ed. Brasiliense)
“Orfeu Extático na Metrópole” (1992, ed. Companhia das Letras)
“Literatura como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural na 1ª República” (1995, ed. Brasiliense)
“História da Vida Privada no Brasil (Volume 3)” (1998, ed. Companhia das Letras, organizador)
“A Corrida para o Século 21″ (2001, ed. Companhia das Letras)
2 comentários:
Oi Professor! Adoro Historia e achei muito legal o texto. Sempre é bom saber. Beijos.
Muito boa postagem. Bela homenagem ao Prof. Nicolau, e divulgação do seu trabalho. Grande abraço,
ELIAS
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