A Região de Irajá, com seus atuais oito bairros, teve origem na mais extensa das sesmarias doadas pela Coroa Portuguesa aos primeiros colonizadores. Em 1568, as terras, mais tarde transformadas em fazendas, foram doadas a Antonio de França, que ali fundou o Engenho de Nossa Senhora da Ajuda, marco histórico inicial de todos os bairros da Região e também dos subúrbios cariocas.
Entre seus primeiros proprietários está o padre Antonio Martins Loureiro, que recebeu uma grande porção das terras em 02 de abril de 1613. Mas foi o jesuíta Gaspar da Costa, primeiro donatário da Região, que ergueu a então Capela Barroca de Irajá, no período compreendido entre abril e dezembro de 1613.
Em 1625, a Sesmaria de Irajá ou, como era chamada na época, o Campo de Irajá, cobrindo uma vasta área que ia desde os bairros que hoje pertencem à Região Centro até os da Região Campo Grande, foi reconhecido como pertencente à Câmara Municipal.
Em dezembro de 1644, o filho de Gaspar da Costa iniciou as transformações necessárias à Capela Barroca de Irajá, criando a Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, confirmada por alvará de D. João IV em 10 de fevereiro de 1647, tornando-se seu primeiro vigário.
Irajá, que em tupi-guarani significa o mel brota ou se produz, foi a primeira grande região produtora da Cidade. Possuía um clima agradável, sítios de beleza incomum e como se situava numa planície, era propícia ao plantio de cana-de-açúcar e à criação de gado. O desmatamento foi o ponto de partida da atividade produtiva, para atender à construção das edificações coloniais e para o posterior cultivo da cana-de-açúcar. Com o passar do tempo, a Região revelou-se uma grande fonte abastecedora da Cidade - de frutas, hortaliças, aguardente e produtos básicos para construção, estes oriundos de suas olarias e caieiras.
Menos de cem anos depois da fundação da Cidade, foi instituída como Freguesia, tornando-se a segunda da Cidade e a maior de todas em extensão de terra, dando mostras da importância que já tinha para a administração do governo colonial. Embora o Rio de Janeiro ainda não passasse de um pequeno núcleo urbano, o território da Freguesia de Irajá estendia-se de São Cristóvão à Santa Cruz. Os terrenos de Jacarepaguá, Campo Grande e Engenho Velho pertenceram ao território da Freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá até 1792.
O prédio da Igreja de N. S. da Apresentação tinha originalmente sete altares. Entretanto, sofreu modificações no século XVIII, ganhando suas feições atuais. Era a Matriz de toda a zona rural carioca. Essa igreja e a do Santuário Mariano de Nossa Senhora da Penha de França, do século XIX, conhecida como Igreja da Penha, são as construções com maior peso histórico, pois foi a partir delas que a Região se desenvolveu e se consolidou com características puramente urbanas.
Existem também amplas referências a respeito das velhas fortificações que defenderam a Fazenda Irajá, em pontos estrategicamente situados de modo a evitar possíveis incursões de índios, escravos de outras terras ou aventureiros e estrangeiros que ali surgissem em busca de conquista fáceis. Na Penha, um desses fortes se mantinha alerta diante das possíveis surpresas vindas do mar.
Em Campinho e Jacarepaguá, fortificações guardavam as estradas que vinham de Guaratiba, onde mais tarde o francês Duclerc conseguiu desembarcar, invadindo a Cidade de surpresa no início do século XVIII. Fracassando em sua incursão, ele foi sucedido por Duguay-Trouin, que invadiu a Cidade trazendo inúmeros navios e considerável poder de fogo.
Ambos defrontaram-se com um herói nacional, Bento de Amaral, brasileiro que repeliu vitoriosamente a invasão do primeiro - Jean François Duclerc, corsário francês que, à frente de uma expedição, atacou o Rio de Janeiro em 1710, conseguindo penetrar na Cidade. Encontrou, porém, corajosa e determinada resistência da parte dos estudantes e paisanos armados, capitaneados pelo professor Bento de Amaral, terminando por refugiar-se no trapiche [armazém onde eram guardadas mercadorias desembarcadas ou para embarque, junto ao cais] da Cidade, onde foi encurralado e obrigado a render-se.
Todavia, Bento de Amaral não obteve o mesmo êxito no ano seguinte, sucumbindo no combate contra as poderosas forças de Duguay-Trouin, que em 1711 invadiu o Rio de Janeiro com 17 navios e 5.764 marinheiros e soldados. Em 1970, quando das escavações para a construção da Usina de Reciclagem, em área localizada na XIV Região Administrativa de Irajá, foram descobertos dois canhões utilizados no século XVIII para guarnecer a retaguarda da Cidade, após as invasões francesas.
No século XVIII, a área já possuía grande número de fazendas, e entre 1775 e 1779, o Campo de Irajá abrigava 13 engenhos de açúcar. A Região era grande produtora de aguardente, frutas e hortaliças, além de tijolos e telhas produzidos pelas olarias. Abastecia a Cidade através do Portinho de Irajá, na foz do então navegável rio do mesmo nome, pelo canal do rio Meriti e por inúmeros canais secundários que levavam à Baía de Guanabara.
Irajá nunca produziu café, apenas cana-de-açúcar e produtos hortigranjeiros como banana, laranja, manga, amora, couve, alface, agrião, chicória, cebolinha, entre outros. Também possuía, ao longo da atual avenida Monsenhor Félix, inúmeras árvores de pau-brasil. Essa foi, portanto, a sua primeira vocação: produtora de gêneros alimentícios e materiais de construção para o abastecimento da Cidade e simultaneamente, o centro do transporte e escoamento da produção da Região.
A partir de 1661, pouco depois de se institucionalizar como Freguesia, Irajá começou a ser desmembrada, dando origem a inúmeras freguesias rurais que, mais tarde, antes mesmo da divisão em distritos de 1867, se transformaram em bairros: Jacarepaguá, desmembrado em 06 de março de 1661; Campo Grande, desmembrado em 1673; Inhaúma, em 27 de janeiro de 1743, e Engenho Velho, em 1795. Muito mais tarde, já no século XX, Realengo e Anchieta, em 1926, e Penha, Pavuna e Piedade, em 1932. Mais recentemente, Vista Alegre, bairro atualmente integrado à Região. Desse modo, a Região Irajá pode ser considerada o berço dos subúrbios cariocas.
Com a proclamação da Independência do Brasil, em 1822, os rumores de uma esquadra partindo de Lisboa com destino ao Brasil fizeram recear ataques contra o Rio de Janeiro. Confiante quanto às defesas da barra, o governo tinha entretanto viva a memória do desembarque de Duclerc em 1710 em Guaratiba, ponto de vital importância logística por sua proximidade com a fazenda de Santa Cruz.
Aconselhado a proceder à fortificação dos pontos de comunicação entre a Corte e o litoral sul, o Imperador realizou inúmeras obras de defesa nas praias, estendendo-se as mesmas de Copacabana à Ilha de São Sebastião, sendo a principal o Forte de Nossa Senhora da Glória do Campinho, armado com nove canhões e em excelente posição no chamado Desfiladeiro de Irajá, pois dominava, com o auxílio de baterias nas montanhas fronteiras, a estrada da Pavuna e a junção de Santa Cruz e de Jacarepaguá, caminho direto de Guaratiba. O forte e suas baterias auxiliares só foram desativados em 1831.
No século XIX, a área começou a se modificar. Os núcleos sub-urbanos, que desde o século XVI se formavam no entorno das igrejas e nas proximidades das fazendas, começaram a se adensar, devido principalmente ao comércio de mercadorias, que utilizava as vias fluvial e marítima e, posteriormente, as estradas de ferro. O processo de urbanização ampliou-se, firmando-se nos subúrbios cariocas com a promulgação da Lei de Terras de 1850, que permitia a aquisição de pequenos lotes por parte dos posseiros, possibilitando o fracionamento das grandes fazendas coloniais.
Em 1867 foi concretizada uma divisão, muito contestada na época, visando criar melhores condições de administração dos povoados que iam surgindo. Conforme dados de então, a população total da Freguesia de Irajá somava 4.500 indivíduos: "1200 nacionais de sexo masculino de todas as idades; 1000 do sexo feminino de todas as idades; 1700 escravos e 600 estrangeiros". Vinte e três anos depois, em 1890, a Freguesia já contava com aproximadamente 14.000 habitantes.
Historicamente, a Região Irajá foi marcada por três épocas distintas. A primeira -tipicamente rural - vai do século XVI até princípios do século XIX, quando é o primeiro celeiro abastecedor de produtos agrícolas da Cidade, tendo como vetor de crescimento o transporte por via fluvial e marítima. A segunda - marcada pela formação de núcleos sub-urbanos - vai do início até meados do século XIX, em função das igrejas e dos locais de comércio surgidos por força da intensificação do transporte das mercadorias. Na terceira - quando assume feições urbanas - vai da segunda metade do século XIX em diante, tendo como vetor o transporte ferroviário, principalmente as estradas auxiliares Rio D'Ouro e Northern, posteriormente incorporadas à malha ferroviária da Central do Brasil.
Com a implantação das linhas das estradas de ferro Northern, em 1886, e Rio D'Ouro, na época da Proclamação da República, braços estendidos do eixo principal da atual Central do Brasil, os núcleos sub-urbanos ganham população e formam-se pontos de comércio nas proximidades das igrejas mais importantes. A Estrada de Ferro Rio D'Douro foi criada para transportar trabalhadores e materiais para a primeira grande obra de abastecimento de água encanada do Brasil: oriunda dos mananciais da Serra de Tinguá, em Nova Iguaçu, destinava-se a abastecer a crescente demanda nos chafarizes e caixas d' água da Cidade.
O grande número de trabalhadores empregados na obra foi determinante para a ocupação da área. Gradativamente, passaram a construir barracos em terrenos localizados nas proximidades das paradas dos trens, dando origem a pequenas aglomerações. Os loteamentos criados pela fragmentação das chácaras e fazendas fizeram surgir, ao longo da Linha Auxiliar e da Rio D'Ouro, localidades conhecidas atualmente como Vicente de Carvalho, Triagem e Colégio, entre outras. Já a Estrada de Ferro Leopoldina favoreceu a ocupação de alguns dos bairros mais tradicionais da Região, como Irajá e Penha.
Entre 1870 e 1890, a Cidade começa a receber crescente contingente de população constituída por escravos livres e imigrantes, devido principalmente à crise na produção cafeeira. O processo de loteamento se intensifica, sobretudo nas terras do entorno das linhas férreas. São loteamentos promovidos por particulares, sem a intermediação do Estado, incentivados pela presença das concessionárias de serviços públicos, como transporte coletivo e iluminação, dois dos grandes vetores da expansão urbana da Cidade.
Com a reforma urbana promovida pelo prefeito Pereira Passos resultando na demolição de inúmeros cortiços no Centro, no começo do século XX, um grande contingente de pessoas se desloca para os subúrbios, gerando um processo de urbanização que se instala de forma decisiva na Região. A intervenção de Passos acentua uma estratificação social sem precedentes na história da Cidade, separando definitivamente as áreas mais privilegiadas - Centro, Zona Sul e Tijuca - dos subúrbios.
Parte da população expulsa passa a ocupar os morros próximos à área central e aos bairros mais nobres, desmatando encostas e construindo sobre terrenos precários barracos de madeira cobertos por telhas de zinco, originando as favelas. Outra parte segue para os subúrbios. O desenvolvimento da Cidade explicita-se em forças divergentes, expondo agudos contrastes sociais: de um lado, há um acentuado crescimento organizado dos bairros mais ricos; do outro, uma ocupação desordenada dos morros e dos bairros proletários.
Entre seus primeiros proprietários está o padre Antonio Martins Loureiro, que recebeu uma grande porção das terras em 02 de abril de 1613. Mas foi o jesuíta Gaspar da Costa, primeiro donatário da Região, que ergueu a então Capela Barroca de Irajá, no período compreendido entre abril e dezembro de 1613.
Em 1625, a Sesmaria de Irajá ou, como era chamada na época, o Campo de Irajá, cobrindo uma vasta área que ia desde os bairros que hoje pertencem à Região Centro até os da Região Campo Grande, foi reconhecido como pertencente à Câmara Municipal.
Em dezembro de 1644, o filho de Gaspar da Costa iniciou as transformações necessárias à Capela Barroca de Irajá, criando a Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, confirmada por alvará de D. João IV em 10 de fevereiro de 1647, tornando-se seu primeiro vigário.
Irajá, que em tupi-guarani significa o mel brota ou se produz, foi a primeira grande região produtora da Cidade. Possuía um clima agradável, sítios de beleza incomum e como se situava numa planície, era propícia ao plantio de cana-de-açúcar e à criação de gado. O desmatamento foi o ponto de partida da atividade produtiva, para atender à construção das edificações coloniais e para o posterior cultivo da cana-de-açúcar. Com o passar do tempo, a Região revelou-se uma grande fonte abastecedora da Cidade - de frutas, hortaliças, aguardente e produtos básicos para construção, estes oriundos de suas olarias e caieiras.
Menos de cem anos depois da fundação da Cidade, foi instituída como Freguesia, tornando-se a segunda da Cidade e a maior de todas em extensão de terra, dando mostras da importância que já tinha para a administração do governo colonial. Embora o Rio de Janeiro ainda não passasse de um pequeno núcleo urbano, o território da Freguesia de Irajá estendia-se de São Cristóvão à Santa Cruz. Os terrenos de Jacarepaguá, Campo Grande e Engenho Velho pertenceram ao território da Freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá até 1792.
O prédio da Igreja de N. S. da Apresentação tinha originalmente sete altares. Entretanto, sofreu modificações no século XVIII, ganhando suas feições atuais. Era a Matriz de toda a zona rural carioca. Essa igreja e a do Santuário Mariano de Nossa Senhora da Penha de França, do século XIX, conhecida como Igreja da Penha, são as construções com maior peso histórico, pois foi a partir delas que a Região se desenvolveu e se consolidou com características puramente urbanas.
Existem também amplas referências a respeito das velhas fortificações que defenderam a Fazenda Irajá, em pontos estrategicamente situados de modo a evitar possíveis incursões de índios, escravos de outras terras ou aventureiros e estrangeiros que ali surgissem em busca de conquista fáceis. Na Penha, um desses fortes se mantinha alerta diante das possíveis surpresas vindas do mar.
Em Campinho e Jacarepaguá, fortificações guardavam as estradas que vinham de Guaratiba, onde mais tarde o francês Duclerc conseguiu desembarcar, invadindo a Cidade de surpresa no início do século XVIII. Fracassando em sua incursão, ele foi sucedido por Duguay-Trouin, que invadiu a Cidade trazendo inúmeros navios e considerável poder de fogo.
Ambos defrontaram-se com um herói nacional, Bento de Amaral, brasileiro que repeliu vitoriosamente a invasão do primeiro - Jean François Duclerc, corsário francês que, à frente de uma expedição, atacou o Rio de Janeiro em 1710, conseguindo penetrar na Cidade. Encontrou, porém, corajosa e determinada resistência da parte dos estudantes e paisanos armados, capitaneados pelo professor Bento de Amaral, terminando por refugiar-se no trapiche [armazém onde eram guardadas mercadorias desembarcadas ou para embarque, junto ao cais] da Cidade, onde foi encurralado e obrigado a render-se.
Todavia, Bento de Amaral não obteve o mesmo êxito no ano seguinte, sucumbindo no combate contra as poderosas forças de Duguay-Trouin, que em 1711 invadiu o Rio de Janeiro com 17 navios e 5.764 marinheiros e soldados. Em 1970, quando das escavações para a construção da Usina de Reciclagem, em área localizada na XIV Região Administrativa de Irajá, foram descobertos dois canhões utilizados no século XVIII para guarnecer a retaguarda da Cidade, após as invasões francesas.
No século XVIII, a área já possuía grande número de fazendas, e entre 1775 e 1779, o Campo de Irajá abrigava 13 engenhos de açúcar. A Região era grande produtora de aguardente, frutas e hortaliças, além de tijolos e telhas produzidos pelas olarias. Abastecia a Cidade através do Portinho de Irajá, na foz do então navegável rio do mesmo nome, pelo canal do rio Meriti e por inúmeros canais secundários que levavam à Baía de Guanabara.
Irajá nunca produziu café, apenas cana-de-açúcar e produtos hortigranjeiros como banana, laranja, manga, amora, couve, alface, agrião, chicória, cebolinha, entre outros. Também possuía, ao longo da atual avenida Monsenhor Félix, inúmeras árvores de pau-brasil. Essa foi, portanto, a sua primeira vocação: produtora de gêneros alimentícios e materiais de construção para o abastecimento da Cidade e simultaneamente, o centro do transporte e escoamento da produção da Região.
A partir de 1661, pouco depois de se institucionalizar como Freguesia, Irajá começou a ser desmembrada, dando origem a inúmeras freguesias rurais que, mais tarde, antes mesmo da divisão em distritos de 1867, se transformaram em bairros: Jacarepaguá, desmembrado em 06 de março de 1661; Campo Grande, desmembrado em 1673; Inhaúma, em 27 de janeiro de 1743, e Engenho Velho, em 1795. Muito mais tarde, já no século XX, Realengo e Anchieta, em 1926, e Penha, Pavuna e Piedade, em 1932. Mais recentemente, Vista Alegre, bairro atualmente integrado à Região. Desse modo, a Região Irajá pode ser considerada o berço dos subúrbios cariocas.
Com a proclamação da Independência do Brasil, em 1822, os rumores de uma esquadra partindo de Lisboa com destino ao Brasil fizeram recear ataques contra o Rio de Janeiro. Confiante quanto às defesas da barra, o governo tinha entretanto viva a memória do desembarque de Duclerc em 1710 em Guaratiba, ponto de vital importância logística por sua proximidade com a fazenda de Santa Cruz.
Aconselhado a proceder à fortificação dos pontos de comunicação entre a Corte e o litoral sul, o Imperador realizou inúmeras obras de defesa nas praias, estendendo-se as mesmas de Copacabana à Ilha de São Sebastião, sendo a principal o Forte de Nossa Senhora da Glória do Campinho, armado com nove canhões e em excelente posição no chamado Desfiladeiro de Irajá, pois dominava, com o auxílio de baterias nas montanhas fronteiras, a estrada da Pavuna e a junção de Santa Cruz e de Jacarepaguá, caminho direto de Guaratiba. O forte e suas baterias auxiliares só foram desativados em 1831.
No século XIX, a área começou a se modificar. Os núcleos sub-urbanos, que desde o século XVI se formavam no entorno das igrejas e nas proximidades das fazendas, começaram a se adensar, devido principalmente ao comércio de mercadorias, que utilizava as vias fluvial e marítima e, posteriormente, as estradas de ferro. O processo de urbanização ampliou-se, firmando-se nos subúrbios cariocas com a promulgação da Lei de Terras de 1850, que permitia a aquisição de pequenos lotes por parte dos posseiros, possibilitando o fracionamento das grandes fazendas coloniais.
Em 1867 foi concretizada uma divisão, muito contestada na época, visando criar melhores condições de administração dos povoados que iam surgindo. Conforme dados de então, a população total da Freguesia de Irajá somava 4.500 indivíduos: "1200 nacionais de sexo masculino de todas as idades; 1000 do sexo feminino de todas as idades; 1700 escravos e 600 estrangeiros". Vinte e três anos depois, em 1890, a Freguesia já contava com aproximadamente 14.000 habitantes.
Historicamente, a Região Irajá foi marcada por três épocas distintas. A primeira -tipicamente rural - vai do século XVI até princípios do século XIX, quando é o primeiro celeiro abastecedor de produtos agrícolas da Cidade, tendo como vetor de crescimento o transporte por via fluvial e marítima. A segunda - marcada pela formação de núcleos sub-urbanos - vai do início até meados do século XIX, em função das igrejas e dos locais de comércio surgidos por força da intensificação do transporte das mercadorias. Na terceira - quando assume feições urbanas - vai da segunda metade do século XIX em diante, tendo como vetor o transporte ferroviário, principalmente as estradas auxiliares Rio D'Ouro e Northern, posteriormente incorporadas à malha ferroviária da Central do Brasil.
Com a implantação das linhas das estradas de ferro Northern, em 1886, e Rio D'Ouro, na época da Proclamação da República, braços estendidos do eixo principal da atual Central do Brasil, os núcleos sub-urbanos ganham população e formam-se pontos de comércio nas proximidades das igrejas mais importantes. A Estrada de Ferro Rio D'Douro foi criada para transportar trabalhadores e materiais para a primeira grande obra de abastecimento de água encanada do Brasil: oriunda dos mananciais da Serra de Tinguá, em Nova Iguaçu, destinava-se a abastecer a crescente demanda nos chafarizes e caixas d' água da Cidade.
O grande número de trabalhadores empregados na obra foi determinante para a ocupação da área. Gradativamente, passaram a construir barracos em terrenos localizados nas proximidades das paradas dos trens, dando origem a pequenas aglomerações. Os loteamentos criados pela fragmentação das chácaras e fazendas fizeram surgir, ao longo da Linha Auxiliar e da Rio D'Ouro, localidades conhecidas atualmente como Vicente de Carvalho, Triagem e Colégio, entre outras. Já a Estrada de Ferro Leopoldina favoreceu a ocupação de alguns dos bairros mais tradicionais da Região, como Irajá e Penha.
Entre 1870 e 1890, a Cidade começa a receber crescente contingente de população constituída por escravos livres e imigrantes, devido principalmente à crise na produção cafeeira. O processo de loteamento se intensifica, sobretudo nas terras do entorno das linhas férreas. São loteamentos promovidos por particulares, sem a intermediação do Estado, incentivados pela presença das concessionárias de serviços públicos, como transporte coletivo e iluminação, dois dos grandes vetores da expansão urbana da Cidade.
Com a reforma urbana promovida pelo prefeito Pereira Passos resultando na demolição de inúmeros cortiços no Centro, no começo do século XX, um grande contingente de pessoas se desloca para os subúrbios, gerando um processo de urbanização que se instala de forma decisiva na Região. A intervenção de Passos acentua uma estratificação social sem precedentes na história da Cidade, separando definitivamente as áreas mais privilegiadas - Centro, Zona Sul e Tijuca - dos subúrbios.
Parte da população expulsa passa a ocupar os morros próximos à área central e aos bairros mais nobres, desmatando encostas e construindo sobre terrenos precários barracos de madeira cobertos por telhas de zinco, originando as favelas. Outra parte segue para os subúrbios. O desenvolvimento da Cidade explicita-se em forças divergentes, expondo agudos contrastes sociais: de um lado, há um acentuado crescimento organizado dos bairros mais ricos; do outro, uma ocupação desordenada dos morros e dos bairros proletários.
Entre 1906 e 1920, a Região apresenta o maior incremento demográfico da Cidade: 263%. No século XX, a atual Região Irajá é marcada por grande número de novos loteamentos, principalmente na década de 20. A eclosão da Primeira Guerra Mundial acentua o processo de industrialização dos subúrbios cariocas, garantindo a urbanização dos núcleos ocupados ao longo das ferrovias. Na década seguinte, ocorre a ocupação efetiva no eixo da Avenida Monsenhor Félix até o Largo da Freguesia de Irajá.
Entre 1940/50, a expansão mantém-se lenta porém contínua, acompanhando uma progressiva melhoria nas vias de acesso. Durante o Estado Novo, com a abertura da Avenida Brasil, a ocupação segue o trajeto da extensa via. A partir da década de 60, o crescimento urbano intensifica-se, em função da onda de industrialização, acentuando-se também um processo de favelização, principalmente no eixo da Avenida Brasil. A política habitacional do governador Carlos Lacerda, nessa década, passa a concentrar grande número de conjuntos habitacionais na área. A região abriga hoje o maior número de moradias desse tipo na Cidade.
Na década de 70, o desenvolvimento é contínuo e, a partir de 1980, a Região apresenta crescimento vertiginoso sob todos os aspectos. Bairros como Vila da Penha e Colégio despertam o interesse de inúmeras empresas imobiliárias, que promovem atualmente um crescente número de novos empreendimentos, lançando ali novas unidades residenciais: o primeiro bairro recebeu 129 unidades, no ano passado, e o segundo, 192 até março deste ano, conforme dados divulgados pelo Sindicato das Indústrias de Construção Civil - Sinduscon-Rio/Detec. Considerada o berço dos subúrbios cariocas, a Região Irajá cresce, conhece o próprio potencial e identifica, cada vez mais, sua vocação.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
Abreu, Mauricio de Almeida, Evolução Urbana do Rio de Janeiro.
Brasil, Gerson, História das Ruas do Rio de Janeiro.
Coroacy, Vivaldo, Memórias da Cidade do Rio de Janeiro.
Delta Larousse, Grande Enciclopédia.
Macedo, Joaquim Manuel de, Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro.
Pesquisa realizada na Internet sobre a história dos bairros.
Na década de 70, o desenvolvimento é contínuo e, a partir de 1980, a Região apresenta crescimento vertiginoso sob todos os aspectos. Bairros como Vila da Penha e Colégio despertam o interesse de inúmeras empresas imobiliárias, que promovem atualmente um crescente número de novos empreendimentos, lançando ali novas unidades residenciais: o primeiro bairro recebeu 129 unidades, no ano passado, e o segundo, 192 até março deste ano, conforme dados divulgados pelo Sindicato das Indústrias de Construção Civil - Sinduscon-Rio/Detec. Considerada o berço dos subúrbios cariocas, a Região Irajá cresce, conhece o próprio potencial e identifica, cada vez mais, sua vocação.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
Abreu, Mauricio de Almeida, Evolução Urbana do Rio de Janeiro.
Brasil, Gerson, História das Ruas do Rio de Janeiro.
Coroacy, Vivaldo, Memórias da Cidade do Rio de Janeiro.
Delta Larousse, Grande Enciclopédia.
Macedo, Joaquim Manuel de, Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro.
Pesquisa realizada na Internet sobre a história dos bairros.
24 comentários:
Parabéns pelo trabalho de pesquisa. Gostei demais das informações, em especial, a origem do nome de Irajá, "Mel Que Brota".
Valeu pelos elogios. Se quiser saber mais sobre Irajá acesse: http://agrocon.sites.uol.com.br
Está ótimo... mas acho que faltou coisas como as famílias tradicionais que é de total inportância para a atualidade... obrigado pela atenção.
Dê uma olhada nesse site: http://agrocon.sites.uol.com.br/familia.htm
Não tem de que, Renan
Eu é que agradeço a sua visita e o seu valioso comentário.
Quanto ao agrocon. sites.uol, eu já conhecia e realmente é muito bom, pois faz uma extensa pesquisa histórica e minuciosa sobre o bairro de Irajá.
Abraços,
E verdade. essa região de Irajá tem muita história pra contar e a favelização está degradando o entorno.Mas ainda resta a atmosfera calma do lugar.
Prezado Charle Stone
Fico muito grato com a sua visita. Realmente a favelização e o crescimento populacional desenfreado de qualquer bairro descaracteriza brutalmente a sua história. É por isso que é preciso cada vez mais investir em conhecimento e educação.
Um grande abraço!
Bom dia, primeiramente parabens pelo belo trabalho de pesquisa, e se for de seu interesse tenho algumas fotos antigas, 2 do bonde de Iraja e uma da estação de trem de Iraja quando estava em conbstrução. E também tenho outras várias da construção do Recreio dos Bandeirantes ( Av Sernambetiba)As do Recreio tenho como passar por e-mail para o Sr. Já as dos Irajá são 3 quadros enormes de fotos tiradas pelo meu avô que era um comerciante conhecido no Bairro.caso aja algum interesse me passe um e-mail apquintanilha@hotmail.com .
Um grande abraço Ana Paula Quintanilha
Prezada Lua (Ana Paula Quintanilha)
Confesso que fiquei muito interessado por todas as fotos. Quando você quiser, pode me enviar. Não sei se você já conhece, mas se quiser saber mais sobre a história de Irajá. Acesse o site: http://agrocon.sites.uol.com.br/
Pode até ser que exista lá alguma referência ao trabalho do seu avô.
Aguardo sua resposta e desde já agradeço sua visita.
Abraços! :)
Caro Professor
Só tenho a lhe agradecer pela matéria extremamente rica sobre o bairro.
Apesar de não morar mais em Itajá, nasci lá e tenho um enorme carinho por aquele lugar.
Sou de família tradicional de lá, e com inúmeros parentes na localidade sabemos de muitas coisas que aconteceram por lá.
Inúmeros "" causos "" que marcaram minha infância para sempre.
Muitíssimo obrigado.
J. Carlos Bethlem
Muitíssimo obrigado
Prezado J. Carlos
Não tem o que agradecer. Estou aqui para divulgar a cultura e o conhecimento. Se quiser saber mais detalhes sobre a história do Irajá. Acesse e confira: http://agrocon.sites.uol.com.br/
Um grande abraço!
estou muito surpresa com a Historia do meu bairro IRAJA eu não sabia que era tão linda
muito obrigado
Jane Gaspar Martins.
Prezada Jane Gaspar Martins
Muito me honra a sua visita e comentário. Volte sempre que precisar. Abraços!
Já conhecia algumas características de Irajá, contadas por minha mãe. Sua pesquisa é rica em detalhes e me deixa surpresa em saber que o bairro onde nasci e me criei foi tão importante assim. Muito bom.
Somente faltou acrescentar a obra do Metrô em 1982 ,cuja estação foi reinaugurada em 1998 após reforma ,facilitou o transporte dos moradores.
amigo parabens por tudo o que voce esta fazendo em nome da historia...
Prezado prof. Adenalzir. Como membro do Histituto Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá (IHGBI), faço convite para visitar nosso Revista Resenha Diigital do IHGBI. Verifique nossos artigos, pesquisas e conquistas. Abraço.
Prezado professor, acho que faltou mencionar a tribo indígena nativa da região, pois veio dela a origem do nome do bairro em tupi. Entretanto parabenizo-o pelo belo trabalho.
Nasci lá, na Cisplatina em abril de 45. Aos 5 anos fui morar em Colégio na Estrada do Barro Vermelho e hoje estou aqui no Espírito Santo. Meus pais e minha irmã estão "dormindo" no cemitério do Irajá.Minhas melhores recordações são do tempo em que eu brincava com meus irmãos e irmãs sobre dois encanamentos que para mim na época me pareciam enormes e que atravessavam uma das ruas de lá. Saudades...
Excelente artigo, me ajudou muito. Moro no Irajá e estou fazendo uma pesquisa sobre o bairro na faculdade, mas a ajuda não foi só pra isso, adorei saber, com detalhes, a história do lugar. Um abraço.
Estou fazendo pesquisa para o TCC da minha pós e adorei o artigo. Porém não consegui acesso a matéria sobre Irajá no site http://agrocon.sites.uol.com.br/
O caminho para matéria mudou?
Muito interessante este blog, que estou explorando aos poucos
Boa tarde sou um grande amigo da família Brown do bairro de Irajá gostaria de poder entrar com a família em contatos e Deus para fazer contar as histórias na família Brown
Achei MARAVILHOSO E TBM QUERIA SABER SOBRE OS TARNSPORTE DE IRAJA COMO BONDE TRE E OS PRIMEIRO ONIBUS DE IRAJA
Muito bom
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