quinta-feira, outubro 02, 2025

A Importância dos Jesuítas na História do Brasil

"Os Jesuítas tiveram papel essencial na colonização do Brasil, estando presentes desde o início da colonização, atuando na catequização dos povos nativos, bem como auxiliando na comunicação entre indígenas e colonos. Esses religiosos são considerados os primeiros professores do Brasil.

Essa ordem religiosa foi criada em 1534 no Papado de Paulo III, tendo como fundador Santo Inácio de Loyola, surgiu como um dos instrumentos da Igreja Católica contra o Protestantismo, a evangelização dos povos pagãos, utilizando como estratégias as ações missionárias na Europa, Ásia e Américas.

Em 1759, havia no Brasil 590 jesuítas (sendo 316 sacerdotes), e eram registrados em duas circunscrições administrativas: a Província do Brasil e a Vice Província do Maranhão administravam 17 colégios e 10 seminários que administravam em 12 municípios, desde Belém do Pará até Paranaguá, além de 55 missões entre os nativos, num total de 131 casas religiosas com dezenas de milhares de alunos que recebiam educação gratuita até o nível superior e dispunham das maiores bibliotecas do Brasil. 

Os Jesuítas no Brasil eram os maiores proprietários rurais de todas as Américas, com milhões de metros quadrados de área total em fazendas que eram as mais prósperas de toda esta terra, com cerca de 2 milhões de cabeças de gado introduzindo no Brasil o cultivo da Cana de Açúcar, do Café, da Erva Mate, e das especiarias.

Nas palavras de Pedro Calmon: "O Jesuita representa, em nossa história, pelo menos dois entre os mais poderosos fatores do nosso espírito nacional. 

Sem o seu esforço pela defesa da terra, e sem a sua mediação entre as duas raças que se encontravam em tão grande disparidade de cultura - não se saberia dizer se a nossa história teria tomado o rumo e a orientação que tomou e portanto se o Brasil seria hoje o que é.

A nação brasileira começou a amoldar-se com os capitães generais, com a vocação missionária da Casa de Bragança, mas quem lhe soprou o primeiro hálito de vida foi o missionário Jesuíta, o inexausto integracionista [...] que aproximou índios e portugueses, integrando-os na bela obra que é a nação brasileira, cujo batismo foi um ato de suas mãos.

Em Portugal, a Companhia de Jesus surgiu com o apoio de Dom João III, aconselhado pelo diretor do Colégio de Santa Bárbara em Paris, Diogo de Gouveia. Diogo lhe recomendou que os jesuítas comparecessem nas terras portuguesas, visando a evangelização de suas colônias na América, África e Ásia; para eles os jesuítas sendo pessoas que possuíam instrução, utilizariam disso para educar e converter os povos nativos. Além desses pontos, havia uma preocupação sobre outros países como a França, de tomarem as posses de Portugal, por isso os jesuítas também atuariam cuidando das terras conquistadas e protegendo das invasões francesas e holandesas.

Os aldeamentos Jesuítas foram as bases para o surgimento de algumas cidades no Brasil, como a cidade de São Paulo. Muitas outras foram fundadas ou tiveram sua origem ligada à presença dos jesuítas, como Rio de Janeiro , Salvador e Belém. Disse Saint-Hilaire: que no Brasil em 1822 ainda se admirava o progresso das propriedades e ação civilizacional dos jesuitas. No Brasil pertencem aos Jesuítas as primeiras estradas calçadas, as primeiras pontes, os cais, munidos de guindastes, as máquinas para a elevação de volumes nas barreiras, a organização das forças econômicas, com a habil combinação da lavoura, da industria agrícola e do comércio marítimo e terrestre.

Representam os jesuitas, no século XVII e pelo primeiro quartel do XVIII, o que a iniciativa privada tinha de mais lucido e engenhoso nas colonias tropicais; foram, devéras, os primeiros colonos que se ajudaram da ciência e exploraram tecnicamente as riquezas do solo; e déram aos demais moradores os tipos para o seu trabalho racional que no século XVIII quase em nada se parecia, com o trabalho primitivo e indígena, do século XVI. Os jesuitas eram, nos diversos climas, produtores de couros e peles (Piauí), de cacau (Pará), de açúcar (Maranhão e Bahia, Recife e Rio de Janeiro), de algodão (Guiará, etc.), de erva-mate (Paranaguá e Missões); e tinham engenhos-modelos, um sistema de cooperação com os homens do campo, com a sua distribuição movimentada pelo entendimento entre os colégios de todo o mundo, e conduzida pelo genio mercantil, que os ilustrou no século XVII.

Foi o Estado do Brasil; para florescer, que teve a seu serviço o genio inventivo do jesuita. "Quase nenhuma arte, exceto as necessárias... que os irmãos não saibam como fazer", disséra Anchieta.

O missionário jesuíta construiu os edificios, sistematizou as culturas, já em 1694 conseguia exportar o tabaco, a erva e o açucar, produzido em 22 aldeias; criou as pequenas industrias, fiando as fibras indígenas, como fizéra Anchieta; aperfeiçoou os instrumentos agrarios e socializou a produção. No Brasil, a ação deles se exerceu em todos os campos da economia tropical. Começaram por introduzir as plantas exóticas, que completassem e corrigissem a flora nativa: os colégios de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, foram os grandes viveiros de todas as arvores de frutos e arbustos preciosos da Europa e do Oriente. Nobrega, Anchieta e Cardim, descreveram os primeiros trabalhos de aclimação daquelas especies, que seriam a maior riqueza da terra, tais como a cana d'açucar, as laranjeiras, outras "árvores, de Espanha"... A derrocada do imperio português na India favoreceu-lhe os planos; projetou Antonio Vieira a transformar o Brasil em outro Ceilão, com a canela, o cravo, a pimenta, para que nada se perdesse, com a perda do Oriente.

Em 1759, depois de dois séculos dedicados ao ensino missionário em Portugal, no Brasil e no Oriente, os jesuítas foram expulsos do império português, causa da desarticulação da educação brasileira e da economia, pois foram fechados os mais prósperos Colégios e Fazendas da América Portuguesa."

Fonte: História da Civilização Brasileira. Pedro Calmon. Ano 1957.

Repostado do @brasilis_regnum

segunda-feira, setembro 29, 2025

Povoamento da Região Serrana Fluminense - Origens

O livro de Vinícius Maia Cardoso investiga a ocupação do Sertão do Macacu (RJ) no século 18, indo além da figura de Mão de Luva para explorar a diversidade de personagens e conflitos que marcaram a região.

Sertão do Macacu, “Pouco Conhecido, Montuoso e Emboscado”, obra que o historiador Vinícius Maia Cardoso nos presenteia para conhecermos os primórdios da ocupação da região serrana na capitania fluminense. Atualmente compreende os municípios de Bom Jardim, Cachoeiras de Macacu, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Nova Friburgo, Santa Maria Madalena, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião do Alto, Sapucaia, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Moraes. Normalmente faz-se a associação desta ocupação a Manuel Henriques, o famoso Mão de Luva. No entanto, como já existem algumas obras sobre Manuel Henriques, como a recente publicação “Mão de Luva e as Novas Minas de Cantagalo” organizado por Sheila de Castro Faria e Anderson de Oliveira, o historiador procurou outro enfoque, ditado notadamente pelas fontes.

Floresta virgem na margem do Rio Paraíba, 1835, Jean Baptiste Debret. Acervo Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Vinícius Cardoso abre espaço para outros atores históricos numa rede de relacionamentos que envolve indígenas aldeados e “selvagens”, vice-reis, superintendentes, capitães-mores, clérigos, mineradores, lavradores, tropeiros, negociantes, ferreiros, carpinteiros, marceneiros, vendeiros, oleiros, arreadores, práticos do sertão, cartógrafos, escravizados, negros libertos, brancos pobres, mulatos, pardos, mulheres, entre outros. Até mesmo os rios ganham importância como o Macacu, Guapiaçu, Caceribu, Rio Grande dos Índios Macabu, Rio Macaé, Paraíba do Sul, entre outros. Com relação a presença indígena, Cardoso mapeou os aldeamentos e por isto conhecemos as etnias que circulavam neste sertão como os Puri, Coroado, Orosó, Xopotó, Boroco, Guarulhos, Tamasari, Macabu e Toby. Alguns eram nômades não aldeados que se deslocavam na divisa do sertão com Minas Gerais e outros vinham das aldeias de Ipuca, do aldeamento São José d’El Rei (Vila de Macacu) e do litoral, na região dos lagos.

Indígenas Puris, por Prinz Von Wied,1821. Acervo BN.

Esta instigante história tem início quando em 21 de maio de 1763, Maurício José Portugal, morador nas Cachoeiras de Macacu, informou a existência de ouro no Sertão do Macacu. Teve ciência através de um indígena que lhe trouxera amostras de pepitas de ouro. Solicitou licença para explorar as jazidas auríferas e foi autorizado por agentes da administração colonial, destoando das ordens do Rei D. João V, que proibia minerar em novos descobrimentos. O vice-rei Conde da Cunha cancelou a autorização de Maurício Portugal e mandou “arrasar” todas as fazendas no Sertão do Macacu obrigando os que estavam afazendados a se retirarem. Iniciou-se uma campanha militar para prender os contrabandistas e ocupar a região.

Além de Mão de Luva, outros contrabandistas foram perseguidos pelas tropas militares, a exemplo de Domingos de Souza Castilhos e os irmãos Joaquim e Dionísio Lopes. A conquista do Sertão do Macacu tem início em 1763, quando era vice-rei Dom Antônio Álvares da Cunha, o Conde da Cunha. Sucederam-lhe os vice-reis Conde Azambuja, Marquês de Lavradio e a fase de ocupação do sertão ocorreu na gestão do vice-rei Dom Luís de Vasconcelos e Souza. 

A vila de Santo Antônio de Sá (hoje Itaboraí e municípios próximos), criada em 05 de agosto de 1697, tem grande importância na conquista do Sertão do Macacu. Esta vila e suas freguesias eram produtoras de farinha de mandioca, arroz, feijão e milho que abasteciam as tropas na conquista do sertão. O caminho da subida da Serra dos Órgãos, que dava acesso ao sertão estava abandonado desde que o Conde da Cunha mandara arrasar as fazendas. O tenente-coronel Manoel Soares Coimbra mandou abrir picada na mata fechada para alcançar a Fazenda do Cônego Antônio Lopes Xavier fazendo uso de um “prático do sertão”, o padre Francisco da Silva Pereira. O clérigo de 68 anos, quando jovem, andara por aquela região até o Rio Paraíba, reduzindo indígenas em aldeamentos. Ele sabia onde estavam estabelecidos os contrabandistas.

Caminho ao Sertão do Macacu em 1839, por Steinmann. Acervo BN.

Na medida em que a tropa avançava foram sendo estabelecidos registros, guardas, paióis e ranchos. Incorporavam à tropa indígenas assimilados para combater os “selvagens”. Não parecia ser difícil cooptá-los. Em carta do tenente-coronel Manoel Soares Coimbra ao vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, este reportou que um indígena lhe informara que sua aldeia recebia “mau tratamento e violências” da gente das Minas, e que “ocupados do temor, e receio” andavam vagando pelo sertão vivendo de frutas e caça. Eram mimoseados pelo tenente-coronel com machados, facões, enxadas, miçangas, chapéus, canivetes, facas de cabo, tesourinhas, barretes, baetas, fitas, anéis, brincos e aguardente.

Vale da Serra do Mar, 1834, Jean Baptiste Debret. Acervo BN.

Presos os contrabandistas, no arraial de Cantagalo, ponto extremo da ocupação do Sertão do Macacu, o vice-rei estabeleceu uma estrutura administrativa para o controle da mineração e pagamento de impostos. Toda pessoa que pretendesse minerar deveria apresentar requerimento na Secretaria de Estado para entrar no concurso dos pretendentes às terras minerais. Em Cantagalo, o vice-rei concedeu datas de terras para a exploração aurífera e igualmente sesmarias aos interessados em cultivar alimentos como mandioca (para a farinha), milho, feijão, arroz e na criação de porcos. Apenas os que tivessem condições financeiras de explorar o garimpo ou se afazendar eram beneficiados com terras.

Nas Novas Minas do Sertão de Cantagalo, além da cobrança do quinto do ouro, os registros (que seriam os pedágios de hoje) constituíam outra fonte de renda. Foram instalados desde a vila de Santo Antônio de Sá, cobrando taxas de passagem dos tropeiros sobre a circulação de mercadorias e escravizados. No entanto, a despesa com a ocupação era maior que a receita e paulatinamente a estrutura administrativa do governo colonial foi sendo desmontada. Cantagalo, primeiro município formado no sertão terá um colossal progresso, sendo durante décadas um dos mais importantes produtores de café do Vale do Paraíba. Mas o livro termina nos primórdios da ocupação, pois o recorte temporal é no período de 1786 a 1790.  

Vinícius Maia Cardoso utilizando as fontes “Correspondências e documentos relativos às Novas Minas de Macacu”, da Biblioteca Nacional, deixa uma inestimável contribuição para a historiografia do Sertão do Macacu. Soube explorar tão bem a documentação, que nos presenteia com uma deliciosa relação de ervas e remédios que nossos antepassados utilizavam para cura de enfermidades, como raiz da aipo, alcasuz, cascas de romãs, bazalicão, raiz de funcho, era terrestre, flor de sabugo, maçãs de ciprestes, aguardente de cana, peitoral, rezina de batata, emplasto emoliente, mercúrio doce, rolos de cera, aquilão gomado, óleo de amêndoas doces, vinagre, açúcar, etc. Leitura indispensável, o livro pode ser adquirido pela Paco editorial ou pela Amazon.  

Texto de Janaína Botelho 23 Set 2025.

Repostado do https://www.historianovafriburgo.com.br/

sábado, setembro 13, 2025

Conheça a história da Fortaleza de Jacarepaguá que até o Google Maps esqueceu

Fortaleza que permanece como um monumento à estratégia militar, à posteridade e a uma manutenção que hoje se esforça em manter as suas ruínas discretas.

Em plena Grajaú–Jacarepaguá repousam as ruínas da Fortaleza de Jacarepaguá, também conhecida como Fortaleza da Garganta da Serra do Matheus, Fortim dos Três Rios ou a Fortaleza da Batalha que Nunca Aconteceu. Erguida na virada do século XVIII para o XIX com a missão nada modesta de defender a Zona Oeste carioca de invasores piratas, franceses e holandeses, ela agora, se dedica, novamente heroica, a lutar contra o esquecimento oficial.

Mesmo tombada, primeiro de forma provisória em 1978, depois definitivamente em 1983, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), a fortaleza vive o drama de um patrimônio histórico que teve seus momentos de glória, e alguns holofotes… exceto os da mídia, da conservação e, até mesmo de visitantes.

Em termos oficiais, sua missão foi impecavelmente cumprida, considerando que, até hoje, ninguém nunca invadiu o Rio pela Barra. Mas os ingratos vão dizer que as razões são mais geográficas do que militares. No século XIX a Barra era inacessível pelo mar, devido as ondas fortes e bancos de areia imprevisíveis. Fora que depois de pisar em terra ainda era um estirão até o centro da cidade cruzando manguezais e lagoas. Resumindo: era muito mais fácil entrar pela Baía de Guanabara.

Ironias geográficas à parte, a Fortaleza de Jacarepaguá permanece como um monumento à estratégia militar, à posteridade e a uma manutenção que hoje se esforça em manter as ruínas discretas, talvez por vergonha do seu estado de abandono.

História

A fortaleza surgiu quando, o então vice-rei, Marquês do Lavradio, decidiu que a cidade precisava de uma muralha extra para conter invasões vindas do “despretensioso” litoral oeste — ou sudoeste, na boboca definição atual.

Cortejando os dramas militares da época, seu deslumbrante trabalho defensivo foi evitar que alguém invadisse o Rio a partir da Barra da Tijuca. Trabalho este facilitado pelo fato de que a temida invasão jamais foi sequer tentada. Hoje, sua história é contada mais por pedras desgastadas do que por relatos heroicos, como se a memória histórica da cidade estivesse em férias permanentes.

E como a história dos planos de saúde: você paga torcendo para não usar. Um forte que dedicou sua vida a uma proteção que nunca precisou ser protegida, uma defesa que jamais teve oportunidade de mostrar seus reflexos em enfrentar inimigos reais. Só os imaginários.

O Vice-Rei que erguia fortes para fantasmas

Era 1769 e o Rio recebia um novo vice-rei, o Marquês do Lavradio, aristocrata de sangue azul que sofria de uma preocupação constante: evitar que a cidade fosse novamente saqueada como em 1711, quando o francês René Duguay-Trouin levou ouro, açúcar e a autoestima da colônia. Lavradio decidiu que o Brasil precisava de muralhas — mesmo que contra inimigos que nunca apareceriam.

No pacote de obra que deixou como legado, além de aquedutos e melhorias urbanas, surgiu um discreto fortim na Garganta da Serra do Mateus, passagem estratégica entre a cidade e o sertão carioca (Jacarepaguá e Barra).  Ali, em 1775, canhões foram assentados com a esperança de deter piratas e invasores que jamais deram as caras. O resultado? Uma fortaleza que nunca disparou em batalha, mas que serviu como símbolo da paranoia defensiva de um período.

O Marquês de Lavradio ficou na história como um governante eficiente, reformador, mas também como o patrono involuntário de um monumento ao exagero militar. Afinal, construir uma fortaleza inteira para guardar a entrada de um caminho de terra por onde nem os bandidos da época se animavam a passar é, no mínimo, uma peça de humor involuntário da engenharia colonial. Hoje, suas ruínas cobertas de mato são o testemunho silencioso de um vice-rei que via fantasmas de corsários em cada curva da serra.

Localização

Ele fica na vertente norte da serra por onde passa a Estrada Grajaú–Jacarepaguá — o tipo de endereço ideal para se esconder algo e continuar chamando isso de “patrimônio urbano”. Um local estratégico para os olhos que, na maioria das vezes, preferem olhar para outro lado.

Para chegar até as ruínas é preciso parar, ou descer do buzão, próximo ao salão de festas Espaço Zurique e procurar as indicações para a Trilha da Garganta do Matheus. A caminhada em si não é longa, coisa de 15 a 25 minutos, mas o desnível é acentuado, o que pode cansar o aventureiro menos preparado.

Ou seja, um lugar perfeito para defesa. Ninguém vai conseguir atacar o Rio se nem se lembra de olhar para aquela serra. Um enclave patrimonial que se esconde descontraidamente em plena rota de trânsito.

Tombamento e reconhecimento histórico

O Inepac reservou o luxo de um tombamento provisório em 14 de dezembro de 1978 e, após uma surra de burocracia, firmou o tombamento definitivo em 26 de janeiro de 1983. Mas nem só de decretos se faz um monumento reconhecido.

Decreto mais decreto a menos, essa fortaleza agora existe legalmente _ e muito pouco além disso. Ficou linda no papel, enquanto na vida real continua gentilmente à espera de uma restauração que não aparece nem em campanha eleitoral de vereador da região.

Atual situação

Hoje, as ruínas nos observam com uma paciência silenciosa: tombadas, porém esquecidas; reconhecidas por lei, mas ignoradas na prática. Suas pedras resistem ao descaso cotidiano, mas ainda sonham com uma restauração — ou, quem sabe, uma intervenção que o transforme em mais do que um cartão postal invisível. 

Esse traçado final é um suave lamento: ali jaz uma fortaleza cujo maior feito atual é estar bem distante da chegada de obras de reabilitação ou de algum tipo de visibilidade que não seja o abandono erudito.

Texto de Jan Theóphilo.

Repostado do https://agendadopoder.com.br/