quarta-feira, novembro 20, 2024

Ainda Estou Aqui: Conheça a história real por trás do filme

Eunice Paiva: Realidade e ficção - Arquivo pessoal e Divulgação/Globoplay

Chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feirs, 7, o filme 'Ainda Estou Aqui'. Emocionante, narra a história real de Eunice Paiva, uma mulher que, durante 40 anos, buscou a verdade sobre o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva.

O longa-metragem recupera os horrores da ditadura militar brasileira. Quem assiste relembra o período sombrio da época, marcado pelo controle dos militares.

Com Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, a produção é baseada nas memórias de Marcelo Rubens Paiva sobre sua família, reunidas no livro de mesmo nome. Mãe de cinco filhos, a vida de Eunice vira do avesso quando o seu marido acaba sequestrado pela Polícia Militar e some sob o controle das autoridades. 

"Essa mulher se reinventa. E assim como o Brasil, através da Justiça e o Brasil através da Constituição e a Eunice através da advocacia, se reinventa e, através da justiça, ela faz o país reconhecer, 26 anos depois, que a família dela sofreu um atentado de estado", explicou Fernanda Torres ao Fantástico.

História real

A verdadeira Eunice, que nasceu em São Paulo, se tornou símbolo dos Anos de Chumbo. Fascinada por leitura, brigou com o próprio pai pelo direito de estudar e se destacou entre os familiares ao passar em primeiro lugar no vestibular de letras na Universidade Mackenzie, explica o portal Memórias da Ditadura.

Eunice ao lado do marido, o deputado Rubens Paiva - Arquivo pessoal

Durante anos, buscou informações sobre o paradeiro de seu companheiro. Conforme o portal Memórias da Ditadura, Rubens sumiu após ter sido preso, torturado e executado no DOI-CODI, no Rio de Janeiro, em 1971.

Ao lado da filha, Eliana, que tinha apenas 15 anos, Eunice também acabou no DOI-CODI e esteve presa durante 12 dias, enquanto a filha permaneceu no local por 24 horas. Liberada, a mulher exigiu que a verdade sobre o seu marido fosse revelada. 

Quando soube que o companheiro fora assassinado, lutou pelo reconhecimento do óbito e tentou descobrir o local de seu sepultamento. 

"A gente morava no Leblon. Meu pai era engenheiro, era diretor de uma empresa de engenharia. Ele ia muito à praia, jogava vôlei. Estavam todos voltando para casa, era um fim de semana e de repente aparece a polícia, à paisana, e o intima, quer levá-lo para depoimento. Assim era dito. Mas com gente armada dentro de casa. Meu pai tinha cinco filhos, eu não estava em casa naquele momento, mas meus irmãos estavam, minha mãe estava. Ele vestiu o terno, a gravata, e espertamente decidiu ir dirigindo o seu próprio carro. Minha mãe foi presa no dia seguinte, ficou dez dias, minha irmã de 15 anos também. Quando minha mãe foi solta e voltou para buscar o o carro, ela assinou um recibo, e ela tinha uma cópia desse recibo. Por muito tempo, essa foi a prova única que a gente teve de que ele tinha sido preso", disse Vera Paiva, filha de Eunice ao TUTAMÉIA em 2021.

Eunice e Rubens ao lado da família - Arquivo pessoal

Viúva, ela cursou Direito enquanto também cumpria o papel de ser mãe de cinco filhos. Quando formada, se tornou uma advogada focada em lutas sociais e políticas. Até a queda da ditadura, ele combateu o regime e atuou nos direitos dos indígenas.

Legado

Dedicada aos povos originários, Eunice também é um dos nomes por trás da fundação do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (IAM), que defendia os direitos dos indígenas, em 1987. No ano seguinte, atuou como consultora da Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela promulgação da Constituição Federal Brasileira.

Também foi uma das pessoas que culminaram na promulgação da lei que reconhece as mortes de pessoas que sumiram enquanto estavam envolvidas com atividades políticas durante a ditadura. 

Foi apenas em 1996, anos após a sua incansável luta por justiça, que conseguiu o atestado de óbito de seu marido. Lidando com o Alzheimer, ela faleceu em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo. Seu legado permanece. 

Por Thiago Lincolins.

Jornalista, formado pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduado em marketing digital através da Universidade Belas Artes. Ama escrever sobre personagens históricos, efemérides, arqueologia e entretenimento.

Publicado por: https://aventurasnahistoria.com.br/

sexta-feira, novembro 15, 2024

Breve histórico da Linha de Austin


A “Ligação Carlos Sampaio - Austin - Santa Cruz” foi uma ferrovia construída interligando três linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil, na época: a Linha Auxiliar (antiga Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil), a Linha do Centro e o ramal de Mangaratiba.

Mapa de azulejos na Escola Municipal Sarmiento, no bairro do Engenho Novo, mostrando a posição das estações da ferrovia - Imagem: Melekh

Esta ligação transversal funcionou plenamente entre 1929 e 1932 tendo como pontos de conexão as estações Carlos Sampaio (Linha Auxiliar), Austin (Linha do Centro) e Santa Cruz (Ramal de Mangaratiba), tendo 34 km de extensão. Parte de seu trajeto era paralelo à atual Avenida Abílio Augusto Távora e a antiga Rio-São Paulo, no qual na altura do KM 32 tivemos uma ponte metálica de 130 metros sobre o Rio Guandu. As obras desta ferrovia foram iniciadas em 1926 e concluídas em 1929. Esta linha funcionava às segundas, quartas e sextas.

Extinto leito ferroviário descoberto durante pesquisas, antes de chegar na Rodovia Presidente Dutra (que não existia na época) Imagem: Melekh 

Entre Austin e Santa Cruz tivemos em bitola larga as estações Cabuçu, Marapicu (projetada, mas aparentemente não concluída), Engenheiro Araripe e Engenheiro Heitor Lira, (idem, aparentemente projetada mas não concluída ou inaugurada). Oficialmente o objetivo deste ramal era escoar de forma mais rápida e eficaz os carregamentos bovinos até o Matadouro de Santa Cruz, sem a necessidade de conexão em Deodoro e o compartilhamento de tráfego entre trens de carga e outros que circulavam no trecho, além de dar assistência aos inúmeros pequenos produtores  de da outrora região de Maxambomba, depois renomeada para Nova Iguassú, por fim, e com as mudanças gramaticais, Nova Iguaçu, cidade esta que entre outros, era um grande pólo no cultivo de laranjas. 

Estação de Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem: Melekh

Estação de Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem: Melekh

Estação de Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem: Melekh

Há atualmente, inclusive, entre Paciência e Santa Cruz, o logradouro Estrada Linha de Austin.

Segundo inúmeras descrições da época, e confirmada por pesquisas, o objetivo principal da construção desta linha não era para melhorar o escoamento de produtos num tempo menor, além de não atrapalhar o tráfego das composições de passageiros, mas sim para valorizar  inúmeras propriedades da região, que eram de políticos e de pessoas influentes da época, que num forte lobby junto à Estrada de Ferro Central do Brasil, conseguiram colocar, mesmo que num curto período, esta linha férrea em atividade. Pode-se notar o quão efêmera foi esta ferrovia, funcionando por pouquíssimo tempo.

Estação de Artur Araripe, ainda de pé e atualmente utilizada como residência - Imagem: Melekh

Até o início da década de 1970 ainda era possível visualizar com clareza por onde a ferrovia passava, visto que curiosamente o trecho estava sendo preservado. Estudos posteriores projetavam uma reativação do trecho, o que seria interessante por ligar importantes ferrovias de forma transversal, mas infelizmente estes estudos não passaram de apenas uma proposta, não executada.

Próxima à rodovia BR-465 (antiga Rio-São Paulo) ainda resiste um pontilhão ferroviário - Imagem: Melekh

Em 2011, e talvez de forma inédita e única até hoje, foi realizada por membros do fórum TGVBR/Trilhos do Rio uma expedição de reconhecimento do trecho, em duas etapas. Importantes registros, como os vistos neste texto, foram produzidos e, atualmente, é bastante difícil realizar novamente esta atividade devido a ocupações que descaracterizaram o trecho, além da insegurança pública que aflige muitas regiões do Rio de janeiro, em geral.

Cabeceira de ponte na Estrada do Tinguí, em Campo Grande, por onde a ferrovia passava - Imagem: Melekh

Texto escrito em 12 de  de 2021 em horário desconhecido. 

Última atualização em 14 de novembro de 2024 às 20h20.

Imagem de capa: Estação Cabuçu, antiga Passa Vinte - Imagem Melekh (fugindo de um cachorro, por isso algumas imagens estão um pouco deslocadas)

Autor: Felippe Ribeiro

Graduado em Administração - MBA em Logística/Transporte - MBA em Finanças Empresariais - Especialista de Investimentos CEAr Ambima - Graduando em Ciências Contábeis (UFRJ). Experiência de 8 anos como Supervisor de Logística e hã 13 anos no mercado financeiro. Desde 2017 participa da AF Trilhos do Rio em debates e pesquisas sobre mobilidade urbana, além do foco em manter viva a preservação da história ferroviária.

Fonte: https://www.trilhosdorio.com.br/

quinta-feira, novembro 14, 2024

Quem foi Viegas? Nome da "Estrada do Viegas", no Rio da Prata

Manuel de Souza Viegas foi um colonizador do século XVIII, além da Estrada do Viegas o seu nome também é registrado na fazenda Viegas em senador Camará em um antigo casarão de 1725.


O seu nome é homenageado no morro, ao caminho, à estrada e, consequentemente, à fazenda no século XVIII. No ano de 1725, o espaço sofreu sua primeira alteração em relação a sua arquitetura original, com a construção da Capela de Nossa Senhora da Lapa.


Datada do século XVIII, a obra arquitetônica pertencente ao período colonial, é um dos marcos do início do processo de estruturação urbana na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ela fica localizada numa elevação isolada que tem, ao Sul, a Serra do Viegas, e ao Sudoeste, a Serra do Lameirão, que formam o Maciço da Pedra Branca.

A fazenda se destacava pela sua produção semanal de 22 caixas de açúcar de 50 kg e 1.000 litros de aguardente, números expressivos de produção para a época. Em 1777, o Engenho da Lapa foi considerado o segundo engenho açucareiro mais importante da região na então freguesia de Campo Grande.

Atualmente a fazenda se encontra praticamente abandonada.

Publicado no www.instagram.com/riodapratacgnatureza/

Texto e imagens postados aqui pelo Saiba História.