"Os Jesuítas tiveram papel essencial na colonização do Brasil, estando presentes desde o início da colonização, atuando na catequização dos povos nativos, bem como auxiliando na comunicação entre indígenas e colonos. Esses religiosos são considerados os primeiros professores do Brasil.
Essa ordem religiosa foi criada em 1534 no Papado de Paulo III, tendo como fundador Santo Inácio de Loyola, surgiu como um dos instrumentos da Igreja Católica contra o Protestantismo, a evangelização dos povos pagãos, utilizando como estratégias as ações missionárias na Europa, Ásia e Américas.
Em 1759, havia no Brasil 590 jesuítas (sendo 316 sacerdotes), e eram registrados em duas circunscrições administrativas: a Província do Brasil e a Vice Província do Maranhão administravam 17 colégios e 10 seminários que administravam em 12 municípios, desde Belém do Pará até Paranaguá, além de 55 missões entre os nativos, num total de 131 casas religiosas com dezenas de milhares de alunos que recebiam educação gratuita até o nível superior e dispunham das maiores bibliotecas do Brasil.
Os Jesuítas no Brasil eram os maiores proprietários rurais de todas as Américas, com milhões de metros quadrados de área total em fazendas que eram as mais prósperas de toda esta terra, com cerca de 2 milhões de cabeças de gado introduzindo no Brasil o cultivo da Cana de Açúcar, do Café, da Erva Mate, e das especiarias.
Nas palavras de Pedro Calmon: "O Jesuita representa, em nossa história, pelo menos dois entre os mais poderosos fatores do nosso espírito nacional.
Sem o seu esforço pela defesa da terra, e sem a sua mediação entre as duas raças que se encontravam em tão grande disparidade de cultura - não se saberia dizer se a nossa história teria tomado o rumo e a orientação que tomou e portanto se o Brasil seria hoje o que é.
A nação brasileira começou a amoldar-se com os capitães generais, com a vocação missionária da Casa de Bragança, mas quem lhe soprou o primeiro hálito de vida foi o missionário Jesuíta, o inexausto integracionista [...] que aproximou índios e portugueses, integrando-os na bela obra que é a nação brasileira, cujo batismo foi um ato de suas mãos.
Em Portugal, a Companhia de Jesus surgiu com o apoio de Dom João III, aconselhado pelo diretor do Colégio de Santa Bárbara em Paris, Diogo de Gouveia. Diogo lhe recomendou que os jesuítas comparecessem nas terras portuguesas, visando a evangelização de suas colônias na América, África e Ásia; para eles os jesuítas sendo pessoas que possuíam instrução, utilizariam disso para educar e converter os povos nativos. Além desses pontos, havia uma preocupação sobre outros países como a França, de tomarem as posses de Portugal, por isso os jesuítas também atuariam cuidando das terras conquistadas e protegendo das invasões francesas e holandesas.
Os aldeamentos Jesuítas foram as bases para o surgimento de algumas cidades no Brasil, como a cidade de São Paulo. Muitas outras foram fundadas ou tiveram sua origem ligada à presença dos jesuítas, como Rio de Janeiro , Salvador e Belém. Disse Saint-Hilaire: que no Brasil em 1822 ainda se admirava o progresso das propriedades e ação civilizacional dos jesuitas. No Brasil pertencem aos Jesuítas as primeiras estradas calçadas, as primeiras pontes, os cais, munidos de guindastes, as máquinas para a elevação de volumes nas barreiras, a organização das forças econômicas, com a habil combinação da lavoura, da industria agrícola e do comércio marítimo e terrestre.
Representam os jesuitas, no século XVII e pelo primeiro quartel do XVIII, o que a iniciativa privada tinha de mais lucido e engenhoso nas colonias tropicais; foram, devéras, os primeiros colonos que se ajudaram da ciência e exploraram tecnicamente as riquezas do solo; e déram aos demais moradores os tipos para o seu trabalho racional que no século XVIII quase em nada se parecia, com o trabalho primitivo e indígena, do século XVI. Os jesuitas eram, nos diversos climas, produtores de couros e peles (Piauí), de cacau (Pará), de açúcar (Maranhão e Bahia, Recife e Rio de Janeiro), de algodão (Guiará, etc.), de erva-mate (Paranaguá e Missões); e tinham engenhos-modelos, um sistema de cooperação com os homens do campo, com a sua distribuição movimentada pelo entendimento entre os colégios de todo o mundo, e conduzida pelo genio mercantil, que os ilustrou no século XVII.
Foi o Estado do Brasil; para florescer, que teve a seu serviço o genio inventivo do jesuita. "Quase nenhuma arte, exceto as necessárias... que os irmãos não saibam como fazer", disséra Anchieta.
O missionário jesuíta construiu os edificios, sistematizou as culturas, já em 1694 conseguia exportar o tabaco, a erva e o açucar, produzido em 22 aldeias; criou as pequenas industrias, fiando as fibras indígenas, como fizéra Anchieta; aperfeiçoou os instrumentos agrarios e socializou a produção. No Brasil, a ação deles se exerceu em todos os campos da economia tropical. Começaram por introduzir as plantas exóticas, que completassem e corrigissem a flora nativa: os colégios de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, foram os grandes viveiros de todas as arvores de frutos e arbustos preciosos da Europa e do Oriente. Nobrega, Anchieta e Cardim, descreveram os primeiros trabalhos de aclimação daquelas especies, que seriam a maior riqueza da terra, tais como a cana d'açucar, as laranjeiras, outras "árvores, de Espanha"... A derrocada do imperio português na India favoreceu-lhe os planos; projetou Antonio Vieira a transformar o Brasil em outro Ceilão, com a canela, o cravo, a pimenta, para que nada se perdesse, com a perda do Oriente.
Em 1759, depois de dois séculos dedicados ao ensino missionário em Portugal, no Brasil e no Oriente, os jesuítas foram expulsos do império português, causa da desarticulação da educação brasileira e da economia, pois foram fechados os mais prósperos Colégios e Fazendas da América Portuguesa."
Fonte: História da Civilização Brasileira. Pedro Calmon. Ano 1957.
Repostado do @brasilis_regnum
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