sábado, junho 29, 2024

Um relato das festas de São João no Brasil Império


"Para as festas de São João eram múltiplos os costumados começos. Recebiam-se convites dos grandes senhores, dos fazendeiros riquíssimos, da burguesia abastada e do proletário arranjado. No Rio de Janeiro, havia lugares em que se festejava o Batista do modo mais estrondoso e fidalgo. Em Inhauma, em Paquetá, em Campo Grande, na ilha do Governador, etc., o mastro plantado com a boneca, enfeitado com espigas de milho, laranjas e mais frutas, indicava o festejo no sítio, as proximidades do dia.

Nos arrabaldes, as chácaras e palacetes, com o mesmo sinal, chamavam a atenção dos vizinhos que propalavam indiscretos os nomes dos donos, comentando a lista, às vezes imaginária, dos convidados.


Antecipadamente, viam-se nas ruas pretos de ganho com cestos carregados de foguetes e fogos de todo gênero, de canas e batatas-doces, de caras e milhos verdes, de galinhas, ovos e perus; de tudo, enfim, que dizia respeito à folia da noite e aos lautos jantares e ceias que então se davam.

Os fazendeiros despendiam largas somas, vestiam de novo a escravatura, matavam reses em obséquio aos convidados da corte. Em casa da Baronesa de Sorocaba, do Barão de Meriti, e do Marquês de Abrantes, preludiam-se os regozijos da noite de sábado no palácio de São Cristóvão, as princesas recomendavam às suas companheiras de infância que comparecessem bem cedo; em vários pontos da cidade, os pais de família dispunham da lenha para as fogueiras, colocavam sobre a mesa os livros de sorte, encordoavam-se os violões para os descates (cantorias).

As rodinhas, as pistolas, os foguetes, buscapés, chuveiros, rojões, girassóis, traques de sete touros, bombas, e uma diversidade enfadonha de fogos. De par com tudo isto, as donas de casa atropelavam as escravas, arrumando as provisões, ralando o milho verde e o coco para a canjica, fazendo os deliciosos bolos de São João.

Em louvor a São João, plantava-se um alho: se amanhecia grelado, obtinha-se o que se desejava. Nessas ocasiões confraternizavam-se os coronéis e tenente-coronéis do lugar, todas as forças dos partidos, desde o mais influente chefe eleitoral da Formiga até o mestre-escola de Vassouras"

E as fogueiras do terreiro vomitavam grossas labaredas; as máquinas sumiam-se na noite ou desfaziam-se em gotas de fogo; e as girândolas, as bombas, as roqueiras estrugiam aos - Viva São João! - cujos ecos iam morrer na floresta."

Fonte: Festas e Tradições Populares no Brasil. Por Mello Moraes Filho, 1895.

Pesquisa feita por https://www.instagram.com/brazil_imperial/

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Um comentário:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Interessante como as celebrações juninas da época imperial eram fartas e vibrantes! O texto faz lembrar a expressão das festejos no Nordeste brasileiro até hoje resistentes. Lembro dos meus dias de criança quando havia mais diversão do que na atualidade.; Aliás, há quarenta anos atrás, o brasileiro era mais animado. Além das atividades nas escolas, lembro das noite de São João na vizinhança (minha avó materna e bisavó moravam numa casa de vila no Grajaú) assim como em locais de convívio comunitário quer fossem religiosos ou não. Hoje já não se vê tantos enfeites de rua, algumas brincadeiras estão em extinção, as prefeituras organizam eventos com a contratação de cantores que tocam músicas que nada têm a ver com a cultura, e ainda existe a demonização das festas caipiras que evangélicos mais radicais promovem como se fosse "coisa do capeta" ou "pecado". O Brasil imperial, apesar de suas contradições e da hedionda escravidão que vigorou até o penúltimo ano do segundo reinado, era muito mais festeiro. Afinal, não havia TV e muito menos a intoxicação digital da internet...