quinta-feira, junho 15, 2023

As memórias de Vovó Teresa


Neste 13 de maio que passou, em lugar da lei de 1888 e seus desdobramentos, resolvemos falar sobre uma personagem histórica que não participou das Conferências Abolicionistas ou dos grandes debates políticos, como José do Patrocínio e André Rebouças. Não ficou famosa, mas deveria.

O post de hoje é uma homenagem às memórias de Maria Teresa Bento da Silva, a vovó Teresa.

Maria Teresa nasceu em 1859 na Fazenda Santa Teresa, propriedade de João Gomes Ribeiro de Avelar - o Visconde do Paraíba - no atual município de Avelar. Filha e neta de escravizados, teria nascido livre mas permaneceu na fazenda dos escravizadores de seus pais até os 15 anos.

Por volta de 1874, fugiu para o Rio e fez parte da geração de famílias negras que migraram do mundo rural e se estabeleceram nos morros e serras cariocas, introduzindo costumes e tradições que seriam reinventados no espaço urbano, tais como o Jongo do Vale do Paraíba — que ajudou a difundir no Morro da Serrinha, em Madureira, onde se instalou.

Além do Jongo, vovó Teresa também foi importante para a criação da Escola de Samba Império Serrano, formada por famílias negras de estivadores e trabalhadores do porto nos anos 1940.

Seu filho Antônio dos Santos (1911-1997), que ficaria conhecido como Mestre Fuleiro, se destacou como diretor de harmonia da agremiação.

Tendo vivido por quase 120 anos, vovó Teresa atravessou diferentes períodos da história.

Faleceu em 1975, depois de viver os horrores da escravidão na própria pele, ver o fim do império, a abolição, o advento da República e passar pelos 2 regimes ditatoriais do século XX.

Entretanto, o pouco que sabemos sobre essa personagem, está em uma entrevista concedida ao músico Spirito Santo e ao grupo Vissungo em 1973, na quadra da Escola de Samba Arranco de Engenho de Dentro.

Na entrevista (que virou filme em 2013), vovó Teresa fala sobre como o Jongo se transformou ao longo do tempo, relembra cantos e histórias de seus avós africanos e dá conta de registrar suas memórias sobre a vida no cativeiro.

Seu relato, de fundamental importância para a história brasileira, está transcrito no blog do Spirito Santo e o filme está disponível no YouTube.

Os Links e as Referências estão disponíveis para consulta na lista abaixo: 

GOMES, F., SCHWARCZ, L. e LAURIANO, J. Enciclopédia negra brasileira. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

Transcrição da entrevista a Spirito Santo: 

https://spiritosanto.wordpress.com/2014/09/03/a-roca-de-teresa-revisitada/

Filme: “A roça de Teresa”:

https://www.youtube.com/watch?v=hZpQifoIhyY&ab_channel=Funda%C3%A7%C3%A3oCulturalPalmares

Imagem e Frame : filme “A roça de Teresa”, de Spirito Santo - disponível no YouTube

Um comentário:

Gervásio Pimentel disse...

Muito bom esse registro histórico!