Joviano Martins Soares Filho, nome de batismo do mineiro Belamorte, nasceu no dia 2 de Novembro de 1930 (dia de Finados) e antes de viver no Rio de Janeiro fez fama como poeta em Minas Gerais nos anos 60 pela obra de temática fúnebre, e também pelo estilo de vida peculiar – estava sempre vestido com uma capa negra, dormia em caixões e frequentava cemitérios.
No mundo dos vivos era barbeiro de profissão. Sua barbearia era como seu mausoléu, decorada com crânios, epitáfios e perfumada com cheiro de velas. Mas foi seu antigo trabalho em uma livraria, onde devorava clássicos da literatura, que o fez poeta. Também foi músico da Polícia Militar, onde conseguiu contato com o então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, que o encorajou a publicar o primeiro livro de poesias. Belamorte ganhou notoriedade depois da publicação de seu livro “Rosas Do Meu Altar, em 1955 – hoje raridade.
Como um personagem hamletiano, um Bela Lugosi que escrevia como os poetas malditos, alguns o achavam louco, outros reconheciam seu valor. Mas era impossível não perceber sua presença pelas ruas e não se impressionar com sua personalidade. Era uma figura enigmática para muitos, visto como excêntrico por alguns, mas assustador para outros.
Quando descoberto pela mídia, que o comparou a Augusto dos Anjos e que buscavam semelhanças com o Zé do Caixão, Belamorte refutou: — Não desmereço o cineasta, mas não sou um personagem. A minha relação com a morte é sincera.
Nesta época, tornou-se um ídolo marginal ao aparecer em programas de TV ao lado do médium Chico Xavier e do diretor Zé do Caixão. Casou-se com a modelo italiana Gillida Bettoni, que adotou os mesmos hábitos do marido, tornando-se a “Condessa Belamorte”. Mas o casamento não durou muito tempo, e, antes de mudar-se definitivamente para o Rio de Janeiro, onde tinha uma tia, no início dos anos 80, Belamorte casou-se outras vezes.
Depois de uma certa fama, e nenhum dinheiro, veio tentar a vida no Rio, deixando para trás cinco filhos. Só voltou a publicar novo livro em 1985, “Tonico Tinhoso – O Afilhado Do Diabo”, lançado num cemitério, em 1985, mas depois se manteve com a aposentadoria da Polícia Militar.
Viveu por 48 anos numa casa simples na “Travessa da Paz”, na comunidade Vila Kennedy, Bangu. O poeta continuou com os hábitos lúgubres dos anos 60: vestia-se de preto dos pés à cabeça, inúmeras citações coladas na parede da casa exaltando a morte, crânios decoravam as estantes repletas de livros de Allan Poe e Baudelaire entre dicionários de alemão. Não dormia mais num caixão, mas em um sarcófago.
A página final de Belamorte foi trágica. Ele faleceu em 15/02/2013, aos 83 anos, vítima de uma isquemia cerebral. Foi encontrado morto por uma filha de 12 anos, enquanto dormia em seu sarcófago.
Fotos:
Luiz Alfredo (Jornal O Cruzeiro, 1961/1962)
Guito Moreto (Revista O Globo, 2011)
Texto e Pesquisa: Rio Secreto (por Rafael Guimarães)
Colorização: Rio Secreto.
8 comentários:
* Portugal
Sem dúvida, uma pessoa fora do comum, muito original e mórbido.
Interessante que ele era Policial Militar e, conseguiu combinar o seu estilo de vida com a hierarquia militar.
Que História intrigante!
Não sei porque, também tenho um olhar diferente para o cemitério. Lá além de restos mortais existe varias história de viva.
Interessante.
Merece um filme !!
História interessante. Salta aos olhos quando lemos histórias assim, que são fora do comum pra maioria das pessoas, mas que na verdade é relativo, pois criamos um padrão de vida em que o que não se encaixa nesse padrão, soa como estranho. Até porque a morte é a única certeza da vida. Belo registro.
Excentricidade ao extremo, mas parece que é como sentia-se bem e sem prejudicar ninguém!
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