Afinal, porque Madureira numa cidade da Baixada?
O nome Madureira nada tem a ver com o bairro carioca, ele tem origem na Fazenda de Madureira, que no século XVIII era o Engenho do Madureira, que recebeu esse nome por pertencer ao Capitão Inácio de Madureira Machado.
Não se sabe ao certo o ano da criação do engenho, mas na virada do século XVII para o XVIII, o capitão já aparece como dono do Engenho de N. S. da Conceição e S. Francisco, localizado em Maxambomba, como testifica um registro de 1708, onde o capitão aparece como fiador:
"Escritura de fiança e obrigação que faz o Capitão Inácio de Madureira Machado por Dona Dorotéia da Fonseca, viúva de José de Barcelos Machado, para ser tutora dos bens de seu filho – O fiador hipoteca um engenho que possui, de fazer açúcar, de invocação Nossa Senhora da Conceição e São Francisco, sito em Maxambomba, com todos os seus pertences" (1° Ofício de Notas, disponível no Arquivo Nacional)
Talvez esse seja o nome primitivo do engenho que depois ficou conhecido como o famoso Engenho do Madureira.
Observe que noutra escritura, já em 1774, aparece como Engenho de Madureira:
"Escritura de venda de terras. Que fazem Francisco de Massa Torres e sua Mulher Dona Páscoa de Andrade que vivem de suas lavouras a Manoel Luis de Oliveira. Sito na paragem chamada Madureira, freguesia de Santo Antonio de Jacutinga, de uma banda partem com o engenho de Madureira e da outra com o capitão Mor Manoel Pereira Ramos correndo fundos para o Gericinó até o Tinguá. Tem como procedência herança de seu avô o capitão Inácio de Madureira Machado e de seu tio José de Barcelos e de sua mãe Dona Inês de Andrada. Situação sem foro ou pensão alguma, benfeitoria livre e desembargada..." (1° Ofício de Notas, disponível no Arquivo Nacional)
Pelo que se entende nesse registro, parte das terras vizinhas deixadas como herança pelo Capitão Inácio de Madureira Machado estavam sendo negociadas, mas o Engenho de Madureida se mantinha vizinho, até porque após a morte do capitão, o engenho aparece como propriedade de seu filho João Inácio de Madureira em outro registro de 1735. As terras eram extensas, confrontando com o Engenho de Maxambomba (atual centro de Nova Iguaçu), Engenho da Poçe (atual bairro da Posse), e seguia em direção ao Engenho do Piranga e Engenho de Cabuçu e a localidade depois chamada Morgadio de Marapicu, na Freguesia de mesmo nome, onde Manoel Pereira Ramos possuiu o Engenho de N. S. de Guadalupe, que outrora foi do Marquês de Abrantes, sendo depois chamado de Engenho de Marapicu.
Segundo os historiadores José Matoso Maia Forte e Magalhães Correa, o direito dos herdeiros de Madureira foram adquiridos pelo contratante da pesca de baleia, o famoso Brás de Pina. Nesse período se iniciou uma grande contenda com D. Helena, esposa herdeira e sucessora de Manoel Pereira Ramos em Marapicu. O litígio era a respeito de limites de terras e só terminou quando o Morgadio de Marapicu passou para a administração do desembargador Francisco de Lemos, que fez um acordo com Brás de Pina.
No século XIX a Fazenda de Madureira se torna propriedade do Comenador Francisco José Soares, ilustre iguaçuano, também dono de outras fazendas, como Morro Agudo, Tinguá, São José e etc. O comendador veio a dar nome ao bairro Comendador Soares. A família Soares e Melo teve muitos personagens importantes desde a Velha até a Nova Iguaçu, como os também comendadores Bernardino José de Souza e Melo e Manoel José de Souza e Melo. Além do ex-prefeito Alberto José Soares de Souza e Melo, o médico José Baroni Soares e etc. Há muitos outros e não caberia aqui. Alguns dão nome a ruas do município. No esporte a família Soares teve o grande jockey e treinador Ernani Soares, filho de Hortencia Soares e um dos maiores da história deste esporte.
Vale lembrar que Francisco Luiz Soares de Souza e Melo, neto do Comendador Soares, deixou em testamento todas as fazendas para a Santa Casa de Misericórdia. A área delas totalizavam 745 alqueires e embora tivesse sido legada a Santa Casa, os herdeiros teriam o usufruto das terras até a morte. Essas terras foram retalhadas em chácaras, que na primeira metade do século XX, auge da citricultura em Nova Iguaçu, foram usadas para o cultivo de laranja. Muitos produtores e negociantes se estabeleceram nas terras e pagavam pelo uso útil com o arrendando das mesmas. Essas chácaras deram origem a pequenas novas fazendas, como a Fazenda do Tatú Gamella, de Antonio de Oliveira, que deu origem ao caminho de mesmo nome, que leva a Serra de Madureira. Haviam muitos fruticultores locais, com seus belos pomares, como Carmine P. Montoura, Alberto Cocozza, Antonio Joaquim, Rodrigo de Oliveira Carvalho, Hipollyto Paquelet, Tomano Rogério, Antonio Vaz Teixeira, Antonio Martins Bertola, Enéas Sylvestre dos Santos, Joaquim Ribeiro Guimarães, viúva César, José Eurico Dias Martins e etc. Sendo muitos italianos e portugueses entre eles. As laranjas eram em sua maior parte exportadas.
Sobre a primitiva sede da Fazenda de Madureira, ela era imensa e ficava encravada num platô na encosta da serra. Alguns relatos antigos falam de um casarão com 14 janelas de frente. A construção existiu até por volta da década de 30, quando começou a se arruinar. Que pena!
Segue acima uma imagem do casarão, que apesar da baixa qualidade da foto, é uma preciosidade. Essa imagem é rara e inédita!
Ficava bem próximo a Estrada de Madureira e uma tentativa de prospecção arqueológica quando estive no local, foi desencorajada pela presença de diversas inscrições e mensagens de facções criminosas nos muros das ruas de acesso.
Já a Estrada de Madureira, que drenava a grande produção da vizinha Freguesia de Marapicu e depois a grande produção de laranjas, permanece até hoje, apesar da mudança de nome, pois o poder público não atinou para importância histórica deste antigo caminho.
Com o histórico nome, só nos restou a Serra de Madureira, que é o lado iguaçuano do maciço do Gericinó.
*Texto e pesquisa de Hugo Delphim, publicados na Página O belo e histórico Rio de Janeiro.
*As fontes de pesquisa se encontram citadas no próprio texto.
Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego
17 comentários:
Belo texto. Parabéns! Persista nos mostrando a História que segue acontecendo próxima de nós.
Parabéns pelo belíssimo trabalho ele resgata a história adormecida e que precisa ser lembrada.
Gostei muito desta história pois morava na região quando criança e rapaz --- conto um pouco do que senti em meu blog .
Prezado Luiz Claudio B. Portugal
Fico muito honrado pela visita e pelo comentário postado.
Temos sempre que resgatar toda essa história dos nossos bairros e cidades.
Um forte abraço!
Unknown, Show!
Agradeço pela visita a este blog!
Prezado Gurgel Curitiba
Agradeço pela citação do meu blog na postagem do seu blog. Foi muito bom saber que você viveu neste histórico local de Nova Iguaçu. Volte sempre aqui, afinal estamos na blogosfera.
Um forte abraço para o amigo!
Adorei o texto e as informações.
Só fiquei na dúvida sobre em qual bairro da atualidade ficava o casarão da fazenda.
Prezado Elias Paulo
Sobre a primitiva sede da Fazenda de Madureira, ela era imensa e ficava encravada num platô na encosta da serra. Ela ficava próxima onde é hoje o Jardim Alvorada. Não muito distante do centro de Nova Iguaçu. Um forte abraço e agradeço pela visita!
Sou morador do bairro Jardim Guandu e tive o prazer de na minha adolescência ir a um casamento nesta antiga fazenda, parabéns pelo documentário.
Prezado. Excelente contribuição historiográfica para Nova Iguaçu. Tenho apenas uma dúvida. Se maxambomba é uma corruptela de machine pump, veículo de transporte (sem cobertura) sobre trilhos para carga ou passageiro, anterior à Maria fumaça como explicariamos isso no século 18 se a Estrada Dom Pedro II só chegou à Bola de Iguassu na metade do século 19? Parabéns pelo trabalho. Cuidem-se todos.
Desculpe os erros de digitação.
Realmente uma ótima publicação. Vivi minha infância na região. Entre 1967 a 1981... Casas Novas
amei conhecer a historia de marapicu pois vivo neste lugar ha mais de 40 anos.
Parabéns adorei saber moro aqui
...e a serra de Madureira era arborizada nesse período?
Que lindo fiz curso de paraquedista na Serra de Madureira
Parabéns pela postagem
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