terça-feira, maio 26, 2020

Conheça José Bonifácio, o patriarca da Independência


José Bonifácio de Andrada e Silva, por Benedito Calixto, 1902. Felipe Camargo como o Patriarca da Independência em Novo Mundo. (Fotos de Wikipedia Commons e TV Globo)

Com a recente chegada de José Bonifácio a trama Novo Mundo, novela reprisada pela Rede Globo na faixa das 18:00 horas, o Patriarca da Independência voltou a se tornar um tema recorrente nas conversas da população brasileira. Saiba tudo sobre o enigmático político brasileiro a seguir.

José Bonifácio de Andrada e Silva era natural da cidade de Santos, no litoral sul de São Paulo. Ele nasceu em 13 de junho de 1763, sendo o segundo dos dez filhos do coronel Bonifácio José Ribeiro de Andrada, proprietário do sítio Mongaguá, que deu origem à cidade que leva esse nome e de sua esposa Maria Bárbara da Silva.

A família de Bonifácio pertencia a aristocracia portuguesa e tinha uma fortuna considerável. Deste modo Bonifácio recebeu uma educação esmerada. Aos 14 anos ele mudou-se para São Paulo, a fim de progredir em seus estudos, e aos 20 anos partiu para a Europa e passou a estudar em Coimbra, a grande universidade lusitana.

Fachada da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde José Bonifácio estudou. (Foto de Wikipedia Commons)

Em 1788 Bonifácio se formou em Direito e em Filosofia, se destacando por ser um bom aluno. Durante esse período ele também desenvolveu um grande amor pela leitura e pela poesia. Dando prosseguimento à carreira acadêmica, Bonifácio especializou-se em matemática, mineralogia e história natural, entre outros ramos.

Bonifácio tinha uma insaciável sede por conhecimento e guiado por esta viajou à pesquisa e estudo por toda a Europa Ocidental, conhecendo inúmeros países, sob o patrocínio da coroa portuguesa, que reconhecia suas inúmeras qualidades.

Bonifácio acompanhou de perto os acontecimentos que envolveram a Revolução Francesa, um dos principais marcos do mundo moderno, pois, nesta época, vivia em Paris, onde também ministrava aulas, e prestava serviços a coroa portuguesa no tocante a extração de ouro e pedras preciosas nas minas brasileiras.

Quando Bonifácio regressou a Portugal o país era sacudido pelas exigências do imperador francês Napoleão, que exigia o rompimento imediato das relações diplomáticas e econômicas entre Portugal e a Inglaterra, a grande aliada do país ibérico, que era, por sua vez, era o grande objeto de conquista da França.

Devido ao fato de Portugal não ter se posicionado oficialmente uma invasão seguiu-se, sob o comando do General Junot. No período Bonifácio aliou-se ao Corpo de Voluntários Acadêmicos, no qual chegou ao posto de comandante demonstrando bravura, porém não foi possível evitar o inevitável.

Em 1819, com 56 anos, Bonifácio finalmente regressou a sua terra natal: o Brasil, que desde 1808 era sede da corte portuguesa. Em São Paulo, ao lado de seu irmão Martim Francisco, realizou pesquisas mineralógicas, mas acabou envolvendo com política organizando as eleições de 1821 e tomando parte no governo paulista.

D. Pedro I, por Benedito Calixto, 1902. Caio Castro como o imperador na novela Novo Mundo. (Fotos de Wikipedia Commons e TV Globo)

Porém, Bonifácio entraria definitivamente para a história por ser o redator de uma carta que pedia a permanecia do príncipe d. Pedro no Brasil, apesar das ordens das Cortes Portuguesas, que virtualmente governavam Portugal, após a eclosão da Revolução Liberal do Porto e o regresso de d. João VI.

A ascensão política de Bonifácio foi meteórica. Tudo aconteceu de maneira inesperada quando o velho estudioso acreditava já ter cumprido o seu destino. Após a Proclamação da Independência, em setembro de 1822, ele foi nomeado Ministro dos Negócios do Interior no Rio de Janeiro, após hesitar em assumir o cargo.

Três irmãos de Bonifácio também passaram a fazer parte do governo. Martim Francisco ocuparia o cargo de ministro da Fazenda, lançando mãos de medidas eficazes para recuperar o déficit econômico, enquanto Antônio Carlos, recém-saído da prisão por envolvimento com a Revolução Pernambucana de 1817, seria deputado nas cortes de Lisboa e na assembleia constituinte de 1822.

Bonifácio esteve à frente do ministério de D. Pedro I por escassos 18 mês, de janeiro de 1822 a julho de 1823, mas fez história e teve grande influência sobre o imperador. Bonifácio tinha idade para ser pai de D. Pedro e revelou-se um ótimo conselheiro.

Conta-se que o imperador saia da Quinta da Boa Vista montando a cavalo e dirigia-se à casa do ministro, situada no centro da cidade, sem a necessidade de marcar uma audiência quando estava em busca de algum conselho.

Narcisa (Márcia Cabrita) e José Bonifácio (Felipe Camrgo) em Novo Mundo. (Foto de TV Globo)

Segundo relatos contemporâneos Bonifácio adorava crianças. Conhecemos pelo menos duas crianças ilegítimas que foram frutos de seus amores. Uma nasceu em Paris e outra em Portugal. Em 1790 ele contraiu matrimônio com a irlandesa Narcisa Emília O’Leary com quem teve duas filhas Carlota Emília e Gabriela Frederica.

Homem sábio e visionário Bonifácio era um progressista nas ideias e nos planos para o Brasil. Defendia tópicos revolucionários como:

fim do tráfico negreiro e a abolição da escravatura;
integração dos ex-escravos a sociedade como cidadãos de pleno direito;
reforma agrária pela distribuição de terras improdutivas;
 estímulo à agricultura familiar;
tolerância política e religiosa.
reforma no sistema educacional possibilitando educação para todos;
criação de universidades;
maior  proteção e conservação das florestas;
e por fim tratamento respeitoso aos índios.
Se o seu programa de governo tivesse sido implantando e apoiado pela classe política de então podemos afirmar que o Brasil teria rompido a ordem social vigente há séculos e dando grandes saltos rumo ao progresso e a modernização criando uma sociedade mais igualitária.

Bonifácio foi exitoso ao organizar a ação militar contra as províncias que resistiram a aderir a independência como, por exemplo, a Bahia. Porém, fracassou num dos pontos que lhe eram mais caros: a abolição da escravatura.

Praticada desde os primórdios do século 16, data da chegada dos portugueses ao Brasil, a econômica brasileira fora dependente do tráfico negreiro durante os mais de três séculos da colonização. O sistema econômico baseava-se, em grande parte, na mão de obra cativa, de tal modo que a abolição da escravatura na Independência revelou-se impraticável.

Volta à cidade de um proprietário de chácara, por Jean-Baptiste Debret, 1822. (Foto de Palco, Arte, Cinema)

Porém, o que causou o rompimento entre José Bonifácio e d. Pedro I, e consequentemente a saída dos irmãos Andrada do governo, foi a anistia geral e o fim da devassa em São Paulo, e em outras províncias, que o imperador decretou em relação aos envolvidos com a Bernarda de Francisco Inácio.

A chamada Bernarda de Francisco Inácio acontece em São Paulo, em maio de 1822, e impediu, por meio de armas, que Martim Francisco assumisse o governo da província. Tratava-se de uma disputa entre facções políticas. De um lado havia a facção dos irmãos Andrada, e seus aliados; de outro, a facção liderada por Francisco Inácio de Sousa Queirós e João Carlos Augusto de Oeynhausen.

Sentindo-se afrontados os irmãos Andrada renunciaram aos seus cargos quando souberam dos decretos lavrados pelo imperador que libertavam os prisioneiros, anulavam as devassas (investigações), e os decretos de deportação. Anistia geral era o resultado.

Marquesa de Santos, por Francisco Pedro do Amaral, c. 1820-29. Agatha Moreira como Marquesa de Santos em Novo Mundo. (Fotos de Google Arts & Culture e TV Globo)

Os Andrada até mesmo chegaram a acusar a amante paulista do imperador, Domitila de Castro e Canto e Melo, de receber subornos dos revoltosos para convencer d. Pedro a conceder anistia aos seus conterrâneos, porém, nada foi comprovado, e muitos pesquisadores atualmente veem a queda de Bonifácio e seus irmãos como resultado de suas ações arbitrarias e autoritárias.

As coisas pioraram quando os Andrada, especialmente Martim Francisco, defendeu, subsequentemente, na Assembleia Constituinte, projetos de lei que propunham a expulsão e o confisco de bens de portugueses residentes no Brasil que não apoiaram a Independência da colônia, e a retirada dos direitos civis dos militares portugueses, e a deportação dos mesmos. Nesta ocasião o povo tomou a Assembleia para ouvir os discursos de Martim Francisco e Antônio Carlos.

Ao mesmo tempo os Andrada fundaram dos jornais intitulados O Tamaio e Sentinela da liberdade à beira mar da Praia Grande, que pregavam ideias nacionalistas e antilusitanas causando um grande alvoroço social. Sentindo uma tensão crescente no meio das tropas o imperador ordenou que elas fossem movidas para São Cristóvão tentando, assim evitar, um derramamento de sangue na cidade.

Diante da inércia da Assembleia, que apesar dos pedidos do novo ministro-chefe Francisco Vivela Barbosa, não tomava nenhuma atitude, e ademais, se delongava para aprovar os artigos da Constituição d. Pedro tomou uma atitude polêmica: ele ordenou que as tropas fechassem a Assembleia à força. O resultado foi a chamada Noite da Agonia, em 12 de novembro de 1823.

Sessão das Cortes de Lisboa, por Oscar Pereira da Silba, 1922. (Foto de Wikipedia Commons)

Preso e deportado para a França ao lado de seus dois irmãs, e demais políticos, José Bonifácio se converteria num áspero crítico de D. Pedro e seu governo. Lembrar-se-ia com amargura de Domitila de Castro e ficou ultrajado quando a mesma recebeu o título de marquesa de Santos, a sua cidade natal.

Bonifácio voltou do exílio seis anos mais tarde e reencontrou com D. Pedro, que não se deixou levar pelas magoas e embates políticos do passado. Antes de abdicar o trono brasileiro e também partir para a Europa, em abril de 1831, o imperador nomeou José Bonifácio tutor de seus filhos, entre eles o futuro D. Pedro II.

D. Leopoldina, interpretada brilhantemente por Letícia Colin, em Novo Mundo foi mãe de d. Pedro II, que é visto, ao lado, em tela de Arnaud Pallière aos 6 anos. (Fotos de TV Globo e Wikipedia Commons)

Porém, o velho cientista e político permaneceu pouco tempo no cargo. Apesar de ter prestado juramento diante do Senado e de ter sido aceito pela Assembleia em agosto do mesmo ano acabou sendo acusado de tramar a volta de d. Pedro. Foi retirado do cargo de tutor em dezembro.

Quando José Bonifácio morreu em seu sitio em Paquetá, na madrugada de 6 de abril de 1838, ele estava empobrecido e esquecido. Apesar de ter sido absolvido das acusações se recolhera em exílio voluntário. Estava desiludido com os rumos da política brasileira. Seus restos mortais estão hoje depositados no Panteão dos Andradas, monumento erguido em sua homenagem em Santos.

Está matéria foi escrita por Fernanda Flores, com base nas informações coletadas das fontes, que são citadas logo abaixo. A autora permite reprodução e tradução do texto desde que seja citada a fonte e a autoria.

Fontes:

CALMON, Pedro. História do Brasil. O Império. 1800-1889. Vol. 4. In: A Constituinte – Companhia Editora Nacional, 1947. cap. 13, p. 196-205.

REZZUTTI, Paulo. D. Pedro: a história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. 1° ed. Rio de Janeiro: LeYa, 2015.

GOMES, Laurentino. 1822. Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira Participações, 2010.

Originariamente postado em blograinhasmalditas.wordpress

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

2 comentários:

Mariana dos Santos disse...

Um excelente trabalho novelístico!

Adinalzir disse...

Que bom que você gostou, Mariana dos Santos
Grato pela visita e comentário!