No Brasil colônia, as diferenças sociais eram tão profundas que erguiam barreiras, até mesmo, na casa de Deus. Escravos e pessoas mais pobres, a chamada "gente comum do povo", nem sempre tinham acesso aos templos, sobretudo em ocasiões especiais, como as missas mandadas celebrar pelas famílias de posses. Contudo, o bom brasileiro tenta dar um jeitinho em tudo, e a Igreja de Bom Jesus da Coluna, na Ilha do Fundão, é prova disso. O templo foi erguido pelos franciscanos entre 1705 e 1712 e ainda mantém suas portas originais, nas quais chama a atenção este pequeno orifício, cortado de maneira irregular. De acordo com o capitão do Exército e diácono Gilson Perim, um dos encarregados do Santuário Militar de Bom Jesus da Coluna, era por ele que o pessoal do lado de fora acompanhava, ao menos um pouquinho, os ofícios religiosos que eram celebrados a portas fechadas.
D.João VI e a Família Imperial participaram de muitas missas aqui, e sua presença devia atrair uma multidão de curiosos à porta do templo. Os sacerdotes da época toleravam a prática, que mantinha o populacho a distância conveniente. A bem da verdade, o furo é tão pequeno que não dá para ver muita coisa além do altar, e assim mesmo, de longe. Como os padres conduziam a liturgia de costas para o público e, ainda por cima, em latim, a estratégia para burlar a segregação não devia dar lá muito resultado. Foi somente a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965) que as celebrações passaram a ser realizadas no idioma local, beneficiando a fé de mais de 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo. Ao mesmo tempo, aumentou a conscientização em torno da mensagem inclusiva do Evangelho, e hoje o buraquinho na porta da igreja é só uma curiosidade histórica - ainda bem.
Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego
2 comentários:
Sim, ainda bem! A Igreja Católica vem se reformando lentamente, mas de forma definitiva. Chega de tempos sombrios e elitistas.
Valeu Jane Darkê
Que suas palavras sejam bem vindas.
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