domingo, maio 26, 2019

O governador que não era corrupto

Por André Luis Mansur


Luís Vahia Monteiro foi empossado governador da capitania do Rio de Janeiro em 10 de maio de 1724, sucedendo a Aires de Saldanha. Coronel de infantaria em Portugal, ele vinha para deixar seu nome registrado na História do Brasil apenas por ser honesto e rigorosíssimo no cumprimento da Lei. A simpatia com que foi recebido pelas autoridades logo se transformou em desconfiança quando começou a contrariar interesses dos vereadores. Durante seus sete anos de governo, receberia o ódio dos poderosos e a confiança da população.

Luís Vahia Monteiro restaurou as fortificações da cidade, abalada pelas invasões francesas de 1710 e 1711, organizou a arrecadação e o emprego eficiente dos recursos da Fazenda Real e realizou uma devassa no transporte de ouro de Minas Gerais ao Rio de Janeiro.

Mas o que fez realmente o governador cair nas graças do povo foi a sua posição diante da crescente insegurança nas ruas. Luís Vahia Monteiro "tomou imediatas providências no sentido de livrar a cidade da malta de malandros, desordeiros e jogadores, não poupando os que, de qualquer forma, perturbavam a vida social e o sossego dos lares. Com os ladrões então era de severidade implacável" (O Rio de Janeiro no tempo do Onça, Alexandre Passos).

Consta também que era extremamente severo com os poderosos, incluindo aí vereadores, jesuítas, ouvidor, juiz de fora, o que lhe valeu um grande desgaste, pois "não raro as autoridades contavam com as boas graças dos protetores da metrópole" (O Rio de Janeiro no tempo do Onça, Alexandre Passos).

Como a onça era o animal mais temido na época, principalmente por causa dos ataques aos bandeirantes e aos que se aventuravam nas florestas em busca do ouro nas Minas Gerais, este foi o apelido de Luís Vahia Monteiro, tal o medo que bandidos de toda espécie, de poderosos a pé-rapados, tinham dele. Daí veio a expressão "No tempo do Onca", uma das mais conhecidas do imaginário popular e que até hoje, quase três séculos depois, ainda é citada.

Perseguido politicamente, Luís Vahia Monteiro acabou afastado do poder pela Câmara em 1732, já em estado de saúde precário, sofrendo de constantes crises epiléticas. Foi substituído pelo mestre de campo Manuel de Freitas da Fonseca e morreu no mesmo ano.

Sua frase escrita numa carta ao rei D. João V entraria para a História como uma confissão de honestidade: "Senhor, nesta terra todos roubam. Só eu não roubo."

André Luis Mansur é jornalista e escritor.
Imagem - Luís Vahia Monteiro em foto de óleo original existente na sacristia da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (RJ).

3 comentários:

José Eduardo disse...

Gostei. Mais um tijolinho na construção da história do Rio. Parabéns Mestre!

Adinalzir disse...

José Eduardo! Meu querido aluno do Instituto Venturo!
Fico muito honrado com a sua visita.
Estamos juntos na construção dessa história carioca.
Um grande abraço!

Adinalzir disse...

Amigo CEU

Infelizmente aqui no Brasil padecemos dos mesmos problemas.
A roubalheira está por todos os cantos!