quarta-feira, outubro 17, 2018

A violência invade as escolas



Dia do professor, dia de todos nós. Nós, que, em sala de aula ou fora dela, queremos dar nossa contribuição para o vasto desafio que é valorizar a educação em nosso país.  Dia de homenagear colegas que, na Bahia ou no Rio de Janeiro, foram vítima desse mal maior, a violência em sala de aula. Anos atrás, tive um encontro com professores que davam aulas em áreas de risco. Balas perdidas, invasão de escolas por bandidos para esconder armas, presença policial que atemorizava os alunos, professores ameaçados por milicianos e traficantes, enfim, encontrei colegas banhando num caldo de violência, capaz de azedar qualquer vontade de ensinar ou de aprender.

Cabe perguntar se a violência na escola é um fenômeno novo. Quando ela era mais fechada, mais autoritária ou mais certa de seus próprios valores, a coisa era diferente? Não. Outrora reinava uma brutalidade sem limites. E isso, pois se acreditava que a infância era uma forma de selvageria em estado bruto, que era necessário corrigir. A visão pessimista da criança ensejava formas pedagógicas brutais. A palmatória era inseparável do professor que, não poucas vezes, convidava o bom aluno a castigar o mau, incentivando o sadismo entre os pequenos. Basta ler as memórias de Zélia Gattai, mulher de Jorge Amado ou de Pedro Nava, para constatar que não faltavam castigos físicos: da régua atirada com pontaria na testa do aluno à bolas de cera, presas com elástico, capazes de arrancar-lhes chumaços de cabelo, do castigo de pé, horas a olhar a parede ao de joelhos, sobre milho. Em resposta, os alunos não eram menos violentos. O bullying sempre existiu e a antiga piscina do colégio Pedro II, poderia contar as histórias de afogamentos de pequenos, por grandes, ou dos alunos mais gordinhos ou portadores de óculos, pelos atletas. O que aprendemos com essas histórias é que a punição jamais fez desaparecer a violência nas escolas.

Os anos 60 e 70 do século XX trouxeram uma lenta mutação na representação sobre a infância. Era o começo do fim da brutalidade do educador. E a criança, antes selvagem, passou a ser considerado um ser inocente. Se antes tinha que obedecer, doravante tinha que ser amada e ensinada a trilhar o caminho do saber e da razão. A escola e a sala de aula se pacificavam. Mas, tudo mudou. Hoje, vivemos um clima de insegurança sem precedentes e nos tornamos o quinto país mais violento do mundo. A violência não se exerce mais com a palmatória, mas com armas de fogo, drogas, insultos e ataques nas redes sociais. A violência desorganizou brutalmente um sistema coletivo e social – a escola – se traduzindo por uma perda de integridade que pode ser física, material ou psicológica – a de alunos e professores. A violência da rua invadiu a escola. E não há dúvidas que, quanto mais violento o bairro, maior a desigualdade de riscos para alunos e professores. É preciso urgentemente corrigir a desigualdade, para dar espaço à educação
Mas não são sós as áreas mais sensíveis que contém problemas. Nas escolas ditas de elite, amparados por pais irresponsáveis, muitos alunos fazem guerra verbal ao professor. Agressões verbais, injúrias, piadas de mau gosto se multiplicam, pois o salário “quem paga é o papai”! Ou o que dizer da mamãe que faz escândalo, pois seu filhinho não é o melhor da classe? Tal discurso por parte dos familiares, só demonstra uma profunda ruptura ideológica, uma crise de valores.

Por tudo isso, a sala de aula se desmoraliza lentamente. As turmas parecem ingovernáveis. Conscientes das tensões, os alunos recusam a autoridade do professor, acusado injustamente de abuso de poder. A sua identidade profissional é colocada na berlinda. Sua imagem se degrada. A missão que lhe é confiada, de ensinar, parece irrealizável. As normas de civilidade vão sendo abandonadas. Em revanche, acusa-se, justamente, a família do aluno que não lhe dá limites e que o empurra para a escola adestrar. Na ótica de pais que não colaboram com a escola, o filho só têm direitos. Nenhum dever. Esquecem tais pais que a escola é lugar de aprender. Pois, educação se adquire em casa. Estamos voltando a noção de que a criança é um selvagem?

Para acabar com a divisão entre “eles” e “nós, ou seja, alunos e professores, vítimas e algozes, bons e maus, vale lembrar as palavras de Pierre Bourdieu: a sociedade precisa responsabilizar-se pela educação. Na raiz da palavra “responsabilidade” está a palavra espondere, em latim: esposar. A sociedade precisar casar com a ideia de que a educação é fundamental. Casar e se fundir a ela. 

Precisa, portanto, se unir à escola e ao professor numa parceria construtiva, constante e amiga. Como em todo casamento é preciso respeitar, confiar, a por que não amar? Amar a escola. Afinal, é muitas vezes aí que se aprender a sonhar com um mundo melhor. E só a educação nos levará a ele.

Referência Bibliográfica:

PRIORE, Mary del. “Histórias da Gente Brasileira: Império” (vol.2), editora LeYa, 2016.

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

4 comentários:

Jonathan Pôrto disse...

É reflexo das mentiras do que tem sido feito desde 1985, essa galera da anistia ampla geral e irrestrita esculhambando a sociedade e com a educação pública!! Mas dia 28 de Outubro retomaremos o rumo novamente com Jair Bolsonaro 17 Presidente !!

Eduardo Marculino disse...

Parabéns pelo Blog....abraços

Adinalzir disse...

Prezado Jonathan Porto

Que seja o lado A ou o lado B. Sem ódio e preconceitos. Assim espero.
Forte abraço e comente sempre por aqui.

Adinalzir disse...

Prezado Eduardo Marculino

Volte sempre e muito obrigado pela visita e comentário.