quarta-feira, outubro 10, 2018

A filha de Brás Cubas

Por André Luis Mansur


Um dos conquistadores da cidade do Rio de Janeiro que receberam terras em Guaratiba foi Manuel Veloso Espinha, que também lutara em 1575 contra os tamoios e franceses que se refugiaram em Cabo Frio. Nomeado Oficial da Câmara em 1584, antes disso, em 1579, ele recebeu, junto com a esposa, Jerônima Cubas, uma sesmaria em Guaratiba. Esta Jerônima era filha ilegítima de Brás Cubas, capitão-mor de São Vicente e um famoso personagem da História do Brasil, que entraria para a ficção pelas mãos de um homônimo seu criado por Machado de Assis em “Memórias póstumas de Brás Cubas”.

A sesmaria compreendia 52 km2, entre os rios Guandu e Guaratiba, além de uma ilha e todas as “águas entradas e saídas”, conforme está na carta de doação. Seus dois filhos, Jerônimo e Manuel, herdaram as terras e Jerônimo, já casado com Beatriz Álvares Gago, repassou em 1629 parte delas aos carmelitas. Em troca, eles teriam de pagar algumas dívidas acumuladas por eles, protegerem três enjeitados, rezarem missas pelos doadores e lhes darem sepultura na capela de Nossa Senhora do Desterro, erguida à beira da praia por Jerônimo e sua esposa e que ainda existe, embora tenha sido reconstruída e bastante alterada.


Após a doação de Jerônimo, os carmelitas ainda receberiam, em 1669, outra porção de terras, desta vez do governador do Rio de Janeiro, Pedro Mascarenhas. Estas terras reunidas formaram a Fazenda da Pedra, estabelecida em 1770 e cujo convento, que ficava atrás da capela de Nossa Senhora do Desterro, foi demolido em 1953 para ser construído o loteamento Vila Mar. O convento mantinha total controle sobre a administração da fazenda e sua produção. A Fazenda da Pedra tinha engenho de açúcar, criação de bois e cavalos, além de plantação de mandioca, milho e legumes e era bastante extensa, atingindo os limites de propriedades na área de Campo Grande (Magarça, Cachamorra, Inhoaíba) e da Fazenda de Santa Cruz. Já antes do século 20, boa parte dela já estava vendida, dando origem mais tarde a localidades como a de Santa Clara.

André Luis Mansur é escritor e jornalista.

2 comentários:

Unknown disse...

Uma viagem no tempo impressionante.

Adinalzir disse...

Valeu! Agradeço seu comentário.