segunda-feira, junho 18, 2018

Longe, longe demais

Por Flávio Brandão (*)

Esta história se passou no começo dos anos 1960 e conta a história do genioso Silvério, sua esposa, e como eles chegaram ao lugar mais distante do Rio de Janeiro.

Silvério era um homem honesto e trabalhador, de seus vinte e poucos anos, bem casado, há um ano, e que amava sua esposa, já grávida, de seu primogênito. Ambos eram moradores de Copacabana, na zona sul carioca,

O mesmo possuía um botequim, na rua Domingos Ferreira, em um ponto muito movimentado, aonde ele podia conversar, com seus conterrâneos do nordeste, enquanto ele ganhava uma boa féria diária, o suficiente, para levar uma vida sem apertos, com Noêmia, sua mulher.

Apesar de ter um bom coração, Silvério tinha um grave defeito. Era genioso, que só ele.

O casal era feliz, pois, sua esposa, era uma companheira dedicada, e muito paciente, com o marrento, mas ao mesmo tempo, apaixonado marido.

Mas, a família de Silvério, incluindo os pais, irmãos, tios, primos e primas, não tinham a mesma paciência, com o Silvério, que, com todos implicava. e todos se afastaram, por brigas banais entre si.

Já perto dos nove meses, de gestação de sua companheira, Silvério tomou uma destemperada decisão, dizendo: - Mulher, vamos arrumar as malas, que estamos partindo hoje! Já vendi o bar e desfiz o aluguel de nosso apartamento! Não aguento mais meus parentes, e quero me mudar, para bem longe deles!!

Sem querer contestar o marido, Noêmia, ajudou a juntar os seus pertences, colocaram tudo na sua Rural Willys, anos 60 e foram embora..
Uma hora depois, enjoada da viagem devido ao seu estado, e já na Avenida Brasil, a esposa perguntou: - Amor, para aonde vamos? E a resposta foi surpreendente: - Ainda não sei, mas de uma coisa tenho certeza. É para o lugar mais longe dos meus parentes, possível! No final do Rio de Janeiro!

- Mas aonde? Replicou Noêmia. E a resposta foi mais inusitada ainda! Ainda não sei..Mas ouvir falar de um lugar chamado Campo Grande, que é na Zona Rural do Rio, aonde ainda podemos respirar um pouco de ar puro.

Ao chegar em Campo Grande, Silvério resolveu confirmar com um transeunte, perguntando: - Moço, aqui é o final do Rio de Janeiro? Após a resposta negativa, o transeunte resolveu orientar: O senhor pode seguir reto pela avenida, e vai dar no último bairro daqui, que é Santa Cruz.

Então, tome viagem novamente, com o determinado Silvério e sua esposa, já quase botando os bofes para fora, devido ao sacolejo da viagem.

Chegando em Santa Cruz, o casal, perguntou a uma senhorinha, que transitava na calçada; - Senhora, aqui é o final do Rio de Janeiro? Decepcionada, com a resposta, Noêmia, que não aguentava mais teve que ouvir: - Não, meus filhos.. O final do Rio de Janeiro, é Sepetiba.

Sem nunca ter pisado os pés em Sepetiba, e guiado por informações, foram pela Estrada de Sepetiba, e ao seu final avistaram um acolhedor Coreto.

Viraram a esquerda, e se depararam, com uma linda praia, de águas calmas, aonde as famílias se bronzeavam,outros pescavam, enquanto alguns passavam uma lama em seus braços e pernas, para aproveitar suas propriedades curativas...

Uma comunhão de pensamentos ocorreu, quando ambos, disseram ao mesmo tempo: - É aqui! Paixão a primeira vista!

Rapidamente, correram ao primeiro corretor que encontraram e fecharam negócio, comprando uma bela casa, perto da praia. E logo após, tiveram que procurar as pressas, uma parteira para cuidar do nascimento de seu filho.

A criança, nasceu com saúde, e o casal, ali foi feliz.

Silvério e Noêmia, estão vivos até hoje, octogenários, e curtindo seus bisnetos, neste aprazível e apaixonante lugar, longe, longe demais...

Flávio Brandão é escritor e pesquisador e escreve às quartas-feiras na página Santa Paciência (*)

Postado por Adinalzir Pereira Lamego

2 comentários:

Daniele Dutra disse...

Sepetiba e suas histórias. Achei super legal.

Adinalzir disse...

Valeu Daniele Dutra!
Agradeço sua visita.
Abraço!