Dotado de um talento artístico que se manifestou desde a infância, Mestre Saul é um destaque da região, na pintura e na escultura, e conta aqui um pouquinho de sua caminhada sofrida e vitoriosa.
Ainda garoto, ali pelos 7 ou 8 anos, Saul da Silva Pinheiro fazia música batucando em latas de graxa, desenhava com lascas de carvão e repetia em pensamento um desejo: “Quando crescer eu quero ser artista. Famoso, de valor”. Corria a década de 40, e a infância difícil do menino criado em meio a quatro irmãs, com mãe costureira e separada de um PM atormentado por problemas mentais, não dava indicativos de que o sonho se realizaria. Hoje ele é o Mestre Saul, artista plástico com quadros e esculturas espalhados por todo canto do Brasil — incluindo um busto de Zumbi dos Palmares numa praça de Brasília — mas mantendo forte vínculo com a Zona Oeste do Rio, onde nasceu e voltou a morar depois de “andar por aí”.
A arte sempre foi um dom. E era com facilidade que ele conseguia tirar som de qualquer objeto, captar novos ritmos ou mesmo inventar instrumentos musicais, assim como desenhar, pintar e esculpir. “Na escola, eu me sentava na última fila, pra ninguém me incomodar. E ficava lá, desenhando…”, conta Mestre Saul. A admiração e o amor que tinha pelo pai quase o fizeram seguir a carreira militar, mas a consciência do quanto a brutalidade da profissão teve parte nos problemas psicológicos do PM bastou para matar a ideia, embora seu alvo fossem as bandas militares.
Nos anos 50, Saul estudou pintura com o professor Daniel Diniz da Fonseca em Campo Grande — na União Rural de Belas Artes (Urba) — e mais tarde aprendeu escultura na Escola Nacional de Belas Artes. Sempre cavando a oportunidade: “Eu passava pela Urba e admirava aquele professor de boina, com suas cartolinas nas mãos. Um dia perdi a timidez, entrei e perguntei se podia estudar lá. Ele disse: traz bloco de desenho e lápis amanhã. Foi assim que eu comecei a estudar arte”, lembra Mestre Saul, que anos mais tarde aplicou a mesma estratégia na Escola Nacional de Belas Artes.
Conseguir viver da arte, porém, não foi fácil. Ele encarou todo tipo de trabalho para se sustentar (vendedor, ourives, gráfico), enquanto continuava pintando, esculpindo e tocando os ritmos cubanos que o seduziam. Integrou a orquestra Ivo Fontes e seus Melódicos, tocou com o saxofonista Booker Pittman, viveu a boemia ao lado de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves… Boemia que hoje lembra com nostalgia, mas também com certa amargura: “Eu bebia demais, e olhando para trás vejo que perdi muito por causa disso”.
Mestre Saul trabalhou na Editora Bloch (primeiro na linha de produção da gráfica, depois restaurando negativos de fotos para a Revista Manchete), transferiu-se para a Abril, em São Paulo, e viveu longo período em Embu das Artes, onde exerceu mais intensamente as atividades de pintor e escultor. Voltou ao Rio nos anos 70, teve ateliê próprio, deu aula de arte em muitas escolas e enveredou por outras carreiras como a de cenógrafo e carnavalesco. Sempre fazendo arte.
Quando pergunto quantos quadros e esculturas assinou, o mestre faz um gesto de “impossível saber”, mas garante que foram centenas. Presenteados ou vendidos por quantias muitas vezes simbólicas: “Nunca fui vendedor de arte, tinha prazer de fazer quando a pessoa pedia. Sou muito mais artista do que comerciante”. Aos 76 anos, o veterano artista vive hoje numa modesta casa em Guaratiba, onde continua pintando: prepara uma série de quadros sobre a história de Campo Grande e Santa Cruz, para uma exposição.
E a fama que tanto buscava? “Fui saber agora que sou famoso. Por onde eu passo, todo mundo me conhece. Acho que só agora vi tudo o que já fiz”, filosofa o artista, admirando um retrato que pintou do botânico Freire Alemão. E revela mais um desejo: quem sabe, um dia, reunir em exposição parte de sua obra que está espalhada por aí, em casas, prédios, coleções particulares?
A arte sempre foi um dom. E era com facilidade que ele conseguia tirar som de qualquer objeto, captar novos ritmos ou mesmo inventar instrumentos musicais, assim como desenhar, pintar e esculpir. “Na escola, eu me sentava na última fila, pra ninguém me incomodar. E ficava lá, desenhando…”, conta Mestre Saul. A admiração e o amor que tinha pelo pai quase o fizeram seguir a carreira militar, mas a consciência do quanto a brutalidade da profissão teve parte nos problemas psicológicos do PM bastou para matar a ideia, embora seu alvo fossem as bandas militares.
Nos anos 50, Saul estudou pintura com o professor Daniel Diniz da Fonseca em Campo Grande — na União Rural de Belas Artes (Urba) — e mais tarde aprendeu escultura na Escola Nacional de Belas Artes. Sempre cavando a oportunidade: “Eu passava pela Urba e admirava aquele professor de boina, com suas cartolinas nas mãos. Um dia perdi a timidez, entrei e perguntei se podia estudar lá. Ele disse: traz bloco de desenho e lápis amanhã. Foi assim que eu comecei a estudar arte”, lembra Mestre Saul, que anos mais tarde aplicou a mesma estratégia na Escola Nacional de Belas Artes.
Conseguir viver da arte, porém, não foi fácil. Ele encarou todo tipo de trabalho para se sustentar (vendedor, ourives, gráfico), enquanto continuava pintando, esculpindo e tocando os ritmos cubanos que o seduziam. Integrou a orquestra Ivo Fontes e seus Melódicos, tocou com o saxofonista Booker Pittman, viveu a boemia ao lado de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves… Boemia que hoje lembra com nostalgia, mas também com certa amargura: “Eu bebia demais, e olhando para trás vejo que perdi muito por causa disso”.
Mestre Saul trabalhou na Editora Bloch (primeiro na linha de produção da gráfica, depois restaurando negativos de fotos para a Revista Manchete), transferiu-se para a Abril, em São Paulo, e viveu longo período em Embu das Artes, onde exerceu mais intensamente as atividades de pintor e escultor. Voltou ao Rio nos anos 70, teve ateliê próprio, deu aula de arte em muitas escolas e enveredou por outras carreiras como a de cenógrafo e carnavalesco. Sempre fazendo arte.
Quando pergunto quantos quadros e esculturas assinou, o mestre faz um gesto de “impossível saber”, mas garante que foram centenas. Presenteados ou vendidos por quantias muitas vezes simbólicas: “Nunca fui vendedor de arte, tinha prazer de fazer quando a pessoa pedia. Sou muito mais artista do que comerciante”. Aos 76 anos, o veterano artista vive hoje numa modesta casa em Guaratiba, onde continua pintando: prepara uma série de quadros sobre a história de Campo Grande e Santa Cruz, para uma exposição.
E a fama que tanto buscava? “Fui saber agora que sou famoso. Por onde eu passo, todo mundo me conhece. Acho que só agora vi tudo o que já fiz”, filosofa o artista, admirando um retrato que pintou do botânico Freire Alemão. E revela mais um desejo: quem sabe, um dia, reunir em exposição parte de sua obra que está espalhada por aí, em casas, prédios, coleções particulares?
Texto de Tania Neves
emfoco@feuc.br
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Fonte:
http://www.feuc.br/revista/index.php/2014/06/por-onde-eu-passo-todo-mundo-me-conhece/
3 comentários:
O grande Mestre Saul. Um artista como poucos!
Grato pela visita Ricardo Bragança!
Amo!❤💋
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