Um dos grandes exercícios de quem é apaixonado pela história do Rio de Janeiro é imaginar, com o pouco que resta da arquitetura do passado, como era exatamente a cidade antes dos seus primeiros registros fotográficos. O cinema e a TV já cansaram de tentar reproduzir cenários do século XIX, mas usando locações criadas especialmente para as produções ou rodando em Paraty.
Só que o cineasta Ricardo Nauemberg queria para o filme “O inventor de sonhos”, que estreia nas telonas em outubro, uma quase precisão histórica. Após uma profunda pesquisa em documentos de época, o Rio da chegada da Corte, em 1808, acabou ganhando vida em três dimensões: a equipe do filme conseguiu, por meio da computação gráfica, reconstituir as construções e dar movimento a personagens da cidade do chamado período joanino, que vai até 1821, quando dom João VI retorna a Portugal.
Para quem já assistiu ao trailer da produção, é como se as imagens e figuras presentes nos quadros de Jean-Baptiste Debret, Eduard Hildebrandt e Thomas Ender, que retrataram o Rio colonial, fossem, na verdade, criações para o cinema. Um detalhe curioso dos takes com efeitos especiais é que a cidade tem um tom ocre, que seria a cor que predominava no Rio. Todas as tomadas em 3D são em plano aberto, a partir do alto, e dão continuidade às cenas filmadas com atores nas ruas de Paraty. Até o personagem principal, o garoto Zé Trazimundo, um mulato interpretado pelo ator Icaro Silva, ganhou sua versão gráfica.
- Nosso primeiro passo foi o de pesquisa das pinturas, que acabou definindo depois as cores do filme. As pinturas daquela época são amareladas, porque você não tinha nas ruas do Rio calçamento: o sol batia na poeira e refletia amarelado. O Rio era dourado - explica Nauemberg. - O segundo passo foi a pesquisa dos mapas na Biblioteca Nacional. Havia o Morro da Carioca, o Morro do Castelo, muitas construções na área do Porto. São coisas que você não percebe quando assiste, mas que no filme foram tratadas com rigor.
De tão próxima ao Rio pintado pelos viajantes europeus, a produção virou também uma pesquisa sobre a pintura, como defende Nauemberg. “O inventor de sonhos” conta a saga de Trazimundo, uma espécie de Forrest Gump, pois transita por diferentes fatos históricos. O desembarque da família real, o funeral de dona Maria I, revoltas e conquistas de negros e abolicionistas servem como pano de fundo para a narrativa principal, que é a busca de Trazimundo por seu pai europeu, que ele acredita chegar com a Corte.
Os detalhes são uma marca do filme: mesmo os “figurantes digitais” ganharam roupas verdadeiramente da época no Rio, “meio puídas”, segundo o diretor. Nas cenas em computação gráfica, também não foi esquecida a sujeira que já tomava as ruas da cidade...
Um dos animadores, Roberto Maia, do Aevo Studio, lembra que para a chegada da Corte foi recriada digitalmente uma multidão de 30 mil figurantes:
- Há pessoas levando carroças e cavalos para o Porto, nobres, escravos correndo, outros carregando sacos com dificuldade, mulheres, crianças... Cada um aparece fazendo uma coisa diferente, com trejeitos diferentes.
Na cena inicial, da chegada dos portugueses, as caravelas das pinturas balançam no mar da Baía de Guanabara. A visão é a do Rio colonial, espremido entre morros, com as torres das igrejas e as casinhas brancas sujas de lama. O trabalho de computação gráfica foi desenvolvido por dez artistas.
Em www.oinventordesonhos.com, há informações sobre técnicas, personagens e histórias contadas no filme.
Em www.oinventordesonhos.com, há informações sobre técnicas, personagens e histórias contadas no filme.
Um comentário:
Oi, Professor
Já vi o filme e achei sensacional.
Bjos,
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