Sou de uma geração que sabia ler, porque aprendeu na escola. Não direi que ela era risonha e franca, mas seus resultados nos acompanham até hoje. Dali veio o gosto pela leitura, porque ali se adquiriu o amor ao livro, para a vida inteira.
O ensino da língua cobria algumas preciosas etapas: cópia, ditado, leitura, interpretação, composição, dissertação. E não se tinha, como hoje, instrumental didático e auxiliar renovável ano a ano: tudo acontecia no quadro negro, nos álbuns de figuras, no caderno e na fala.
Por favor, não estou dizendo que o que era bom deva ser eternizado, quem sou eu para negar a dinâmica da sociedade e suas transformações ...
Hoje fala-se em educação em toda reunião, chegando, algumas pessoas, a declarar - alto e bom som - que nela está a salvação de todas as mazelas do país. Eu ouço e me lembro da escola que ensinava a ler, a analisar, a compreender o texto. E fico comparando o mundo de escritas que nos envolve - livros, revistas, internet, jornais - com o pouco que se tinha. Em compensação, lia-se, compreendia-se o que estava escrito.
Infelizmente, nestes tempos sombrios, há gente que não entende o que se diz mesmo em conversas informais, tampouco compreende o que se escreve. Triste destino da escrita: gasto de tinta e de papel e pouco entendimento. Há quem não se corresponda (adeus cartas...bilhetes), pouco fale, raramente leia e quando o faz, utiliza uma "interpretação" pessoal, enviesada ou seja, pincelando tudo com as tintas de seu pré-julgamento, quando não "visto" através da luneta ideológica que só tem uma direção e uma meta: enquadrar tudo e todos no seu "mundo".
Assim como o jornalista tem que ser fiel ao fato e imparcial no seu ver e no seu divulgar, aquele que ler tem que se ater ao texto. Há quem, também, à falta de leitura - falta de prática neste campo - e habituado ao mundo da "oferta e da procura", onde tudo tem seu preço ou motivo de existir-acredita e julga que todos escrevem por "encomenda", pago por deus-sabe-quem" ou seja, pena mercenária.
Leitura é um exercício contínuo, onde dois entes se encontram frente-a-frente: o leitor e o texto. Não há intermediário. O texto - a se impor compreenda-me ou eu te devoro" e o leitor, "a ter que se despir de seu invólucro e penetrar no que está à sua frente, sem intermediários ou "pressões" endógenas ou exógenas...
Quem penetra no mundo da leitura e nele mergulha, não sairá o mesmo: ficarão nele e para sempre, a insaciedade, o desejo, a necessidade de voltar ao leito das letras unidas entre si, mas carentes dele (leitor) o único que dá sentido, movimento e ao que elas lançam à sua frente. Só o leitor desnuda o texto. Que o faça com respeito e unção. É o mínimo que pede aquele que o escreveu. Não se atribua a ele o que está na mente e no coração de quem o lê.
Autora: Adísia Sá, é jornalista. Escreve semanalmente para o jornal O Povo.
O ensino da língua cobria algumas preciosas etapas: cópia, ditado, leitura, interpretação, composição, dissertação. E não se tinha, como hoje, instrumental didático e auxiliar renovável ano a ano: tudo acontecia no quadro negro, nos álbuns de figuras, no caderno e na fala.
Por favor, não estou dizendo que o que era bom deva ser eternizado, quem sou eu para negar a dinâmica da sociedade e suas transformações ...
Hoje fala-se em educação em toda reunião, chegando, algumas pessoas, a declarar - alto e bom som - que nela está a salvação de todas as mazelas do país. Eu ouço e me lembro da escola que ensinava a ler, a analisar, a compreender o texto. E fico comparando o mundo de escritas que nos envolve - livros, revistas, internet, jornais - com o pouco que se tinha. Em compensação, lia-se, compreendia-se o que estava escrito.
Infelizmente, nestes tempos sombrios, há gente que não entende o que se diz mesmo em conversas informais, tampouco compreende o que se escreve. Triste destino da escrita: gasto de tinta e de papel e pouco entendimento. Há quem não se corresponda (adeus cartas...bilhetes), pouco fale, raramente leia e quando o faz, utiliza uma "interpretação" pessoal, enviesada ou seja, pincelando tudo com as tintas de seu pré-julgamento, quando não "visto" através da luneta ideológica que só tem uma direção e uma meta: enquadrar tudo e todos no seu "mundo".
Assim como o jornalista tem que ser fiel ao fato e imparcial no seu ver e no seu divulgar, aquele que ler tem que se ater ao texto. Há quem, também, à falta de leitura - falta de prática neste campo - e habituado ao mundo da "oferta e da procura", onde tudo tem seu preço ou motivo de existir-acredita e julga que todos escrevem por "encomenda", pago por deus-sabe-quem" ou seja, pena mercenária.
Leitura é um exercício contínuo, onde dois entes se encontram frente-a-frente: o leitor e o texto. Não há intermediário. O texto - a se impor compreenda-me ou eu te devoro" e o leitor, "a ter que se despir de seu invólucro e penetrar no que está à sua frente, sem intermediários ou "pressões" endógenas ou exógenas...
Quem penetra no mundo da leitura e nele mergulha, não sairá o mesmo: ficarão nele e para sempre, a insaciedade, o desejo, a necessidade de voltar ao leito das letras unidas entre si, mas carentes dele (leitor) o único que dá sentido, movimento e ao que elas lançam à sua frente. Só o leitor desnuda o texto. Que o faça com respeito e unção. É o mínimo que pede aquele que o escreveu. Não se atribua a ele o que está na mente e no coração de quem o lê.
Autora: Adísia Sá, é jornalista. Escreve semanalmente para o jornal O Povo.
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