sábado, fevereiro 19, 2022

Os Engenhos de São Matheus, Cabral e Bananal - A origem de Nilópolis - RJ

 A ORIGEM:

A região que compreende os lados leste e sudeste das fraldas do Maciço do Gericinó começam a ser povoadas por volta de 1600, quando Manuel Gomes e seu genro Diogo de Montarroio compram parte das terras de Gonçalo de Aguiar, fundando ali um engenho de açúcar. Em 1603 pedem confirmação das terras através de uma carta de sesmaria. Anteriormente essa região fez parte da antiga sesmaria de Brás Cubas, cujas as terras se tornaram devolutas.

O engenho de Manuel Gomes e Diogo de Montarroio se chamou Engenho de São Diogo e se localizava próximo a face sudeste do maciço. Diogo de Montarroio teve como genro João Álvares Pereira, casado com sua filha Isabel de Montarroio. Então, posteriormente, João Álvares Pereira se torna dono das terras supracitadas.


O ENGENHO DE SÃO MATHEUS:

Na primeira metade do século XVII, João Álvares Pereira era dono vastas terras e de dois engenhos de açúcar nos arredores da Serra do Gericinó, um chamado Engenho de São Lázaro, comprado de Dom Gaspar Coutinho Bragança, em localidade ainda desconhecida, e outro chamado ENGENHO DE SÃO MATHEUS, que se tornou a famosa Fazenda de São Matheus, a origem de Nilópolis, que existiu por cerca três séculos, até ser extinta no início do século XX. Foi ele o construtor da Capela de São Matheus, de 1637, sendo a maior preciosidade histórica da município.


POSTERIORES DESMEMBRAMENTOS:

Após sua morte, o grande latifúndio de João Álvares Pereira, que compreendia não só a área do atual município de Nilópolis, mas também de parte do Centro de Nova Iguaçu, de Mesquita e do atual campo de instrução do Gericinó, foi dividido entre seus herdeiros. A parte que coube a Luiz Álvares Pereira foi vendida a Pedro de Souza Pereira, o moço, Provedor da Fazenda Real, sendo a origem dos Engenhos da Maxambomba (atual Centro e bairro California de Nova Iguaçu) e da Cachoeira (Mesquita); a parte de Baltazar Álvares Pereira foi vendida a Inácio de Andrade Souto Maior, que é a origem do Engenho do Gericinó. O herdeiro homônimo João Álvares Pereira recebeu terras em Inhaúma. Brites de Lemos, esposa do governador Agostinho Barbalho Bezerra, também líder da Revolta da Cachaça, recebe terras próximas a Marapicu. Sua outra filha, Merência de Barcelos fica com a parte do Engenho de São Matheus, sua casa de vivenda e demais benfeitorias. Desta forma, o Engenho de São Matheus, de 1637, é anterior aos engenhos vizinhos mencionados, sendo as terras de seu fundador a origem dos mesmos. 

Em 1700, já com idade avançada, Merência renuncia seus bens e passa a propriedade do Engenho de São Matheus aos seus três genros, Domingos Machado Homem, Capitão Manoel Freire Alemão de Cisneiros e Capitão João Pereira Barreto. Nos anos seguintes Domingos Machado Homem se torna o único dono do Engenho de São Matheus.

Domingos Machado Homem foi casado com Joana de Barcelos, filha de João Fernandes Pedra e Merencia de Barcelos. Do casal nasceu sete filhos, dentre eles o Padre Matheus Machado Homem, Ana Azedias de Machado, casada com Bartholomeu Cabral de Melo e Francisca Machado de Azedias, casada com o capitão Fernão (Fernando) Cabral de Melo. 


SURGE O ENGENHO DO CABRAL E FAZENDA DO CAMINHO DA CACHOEIRA:

Após a morte de Domingos Machado Homem, o Engenho de São Matheus se torna propriedade de seu filho, o Padre Matheus Machado Homem. A viúva Joana de Barcelos vende parte das terras ao genro Bartholomeu Cabral de Melo, surgindo o ENGENHO DO CABRAL, que é a origem do bairro Cabral de Nilópolis. Esse engenho se localizava entre o Engenho do Gericinó e o Engenho de São Matheus. Ao norte fazia divisa com o Engenho d'Água, do Coronel Matias de Castro Morais, que recebeu esse engenho como dote, por ser genro de José de Andrade Souto Maior, dono do Engenho do Gericinó. Nessa época o Engenho do Cabral também fazia divisa com o Engenho de Nazareth de João de Andrade Rego (atual Anchieta), com o Engenho de São Bernardo do Coronel Manoel Martins Quaresma (atual Parque Anchieta) e com o Engenho de N. S. da Piedade, também chamado Engenho Novo, propriedade do Capitão Francisco Moreira da Costa (parte da atual área militar, na altura de Realengo). A última casa senhorial desse engenho, já na época da chamada Fazenda do Cabral, se localizava próximo ao Rio Sarapuí, onde até hoje existe a Colina do Cabral, dentro do campo de instrução do Gericinó, em área inacessível (ver mapa em anexo).

Outra parte do Engenho de São Matheus que fazia divisa com o Engenho d'Água foi vendida ao genro Fernão (Fernando) Cabral de Melo. Essa parte se chamou FAZENDA DO CAMINHO DA CACHOEIRA e ficava próxima a localidade chamada Cachoeira Pequena. Essa fazenda também fazia divisa com o Engenho da Cachoeira (atual Mesquita) do Doutor Manoel Correia Vasques.

SURGE O ENGENHO DO BANANAL:

Passado alguns anos, o capitão Bartholomeu Cabral de Melo falece e parte do Engenho do Cabral é arrematada pelo Capitão Ayres Pinto Camelo de Miranda no juízo dos órfãos, surgindo o ENGENHO DO BANANAL. A sede desse engenho se localizava em parte do atual Parque Natural do Gericinó e se estendia até onde hoje é o bairro Cabral de Nilópolis (ver mapa em anexo). Em pesquisa de campo no local da antiga casa senhorial do Engenho do Cabral foi possível encontrar vestígios de vidraças quebradas, encontradas em local totalmente ermo (ver fotos em anexo). Eram vidros planos, não boleados como garrafas e talvez se trate do que sobrou das janelas após a demolição da edificação. Se faz necessário uma pesquisa arqueológica mais profunda no local.


Sobre o Engenho do Bananal, segue transcrição paleográfica de trecho de um registro de 1725 (ver original em anexo):

"Diz o Cap.m Ayres Pinto Camelo de Miranda que elle hé senhor e possuidor de hu Engº de fazer asucar na fregª de S. João Baptista de Mirity cito no lugar chamado Bananal o qual houve por remattação q fez do juizo de orphãos desta Cid.e como consta na pr.a sertidão junta q compreende de seiscentas braças de testada com sertão (...) Cap.m Bartholomeu Cabral de Melo por compra q fez ao Pe. Matheus Machado Homé como procurador bastante de sua may Joana de Barcelos..." (Acervo do Arquivo Nacional)

A REGIÃO NO SÉCULOS XVIII, XIX e XX:

Após a morte do Padre Matheus Machado Homem o Engenho de São Matheus se torna propriedade de seus sobrinhos, Ambrósio de Souza Coutinho e o testamenteiro Padre Francisco de Souza Coutinho. Em meados do século XIX a Fazenda é vendida ao Visconde de Bonfim e no início do século XX se torna propriedade de João Alves Mirandela. 

Na segunda metade do século XIX, a Fazenda do Cabral pertencia a D. Francisca Clara Cabral da Gama e no início do século XX a Pedro Machado da Gama. Após novo desmembramento, surge a Fazenda da Tatajuba, que logo foi desapropriada para uso do Minisério da Guerra, junto com a Fazenda do Gericinó e o Engenho Novo. A Fazenda do Cabral foi desapropriada nos anos seguintes, em 1920, quando era propriedade do Almirante Gabriel Ferreira da Cruz e sua mulher D. Luiza Francisca de Oliveira, além  de Francilia Iguassú dos Reis Pacheco e herdeiras de Francisco Soares da Silva Iguassú.

A Fazenda do Bananal também é desmembrada na virada do século XIX para o XX, surgindo a Fazenda do Pindobal, que também foi propriedade do Almirante Gabriel Ferreira da Cruz. Ambas foram as últimas a serem desapropriadas para uso do Ministério da Guerra. Todas essas fazendas, além de parte da Fazenda do Gericinó, ficavam dentro dos limites do atual município de Nilópolis, mas em área não urbanizada, dentro dos limites do atual Parque Natural do Gericinó e da área militar. 

Vale ressaltar que a área urbanizada de Nilópolis compreende as terras da Fazenda de São Matheus e, nos últimos anos, pequena parte da Fazenda do Bananal (bairro Cabral), que anteriormente também foi parte da Fazenda do Cabral. A Fazenda da Tatajuba, desmembrada da Fazenda do Cabral, fazia divisa com a Fazenda de São Matheus na linha divisória que ia do antigo Marco do Vai e Vem em direção a Pedra da Contenda. Essa linha fica onde hoje é o muro que divide parte do parque do município de Nilópolis.

Nas imagens acima se encontra mais um pouco dessa história!

*Texto e pesquisa de Hugo Delphim, publicados na Página O belo e histórico Rio de Janeiro.

*Fontes: Antigos registros de cartórios e ofícios de notas, pertencentes ao Acervo do Arquivo Nacional.

2 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Parabéns por manter viva e divulgar uma tão antiga história de ocupação dessa vasta área da Baixada cujo passado rural hoje parece desconhecido pelas atuais gerações mais jovens.

Adinalzir disse...

Muito obrigado, Rodrigo Phanardzis
Seu comentário é sempre um grande incentivo!