sexta-feira, março 11, 2022

O homem de cor de maior prestígio do Brasil Império


Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876), Visconde de Inhomirim, foi um advogado, jornalista, diplomata, escritor e médico.

"Nascido no Rio de Janeiro em 1812, era filho ilegítimo de um padre Apolinário Torres Homem e de uma quitandeira chamada Maria Patrícia, uma mulher negra alforriada. Porém, a despeito dos preconceitos que certamente o vitimaram naquela época, ele conseguiria se impor socialmente, em grande parte devido à sua enorme capacidade de trabalho e inteligência.

Sales Torres Homem formou-se em medicina no Rio de Janeiro aos 20 anos de idade, e em direito em Paris aos 23. E também foi um dos principais jornalistas de seu tempo, além de, no início de sua vida pública, atuar no partido Liberal. Entretanto, acabou se radicalizando politicamente, o que o levou a participar, como rebelde, da Revolução Liberal de 1842, foi preso pelas forças legalistas e, algum tempo depois, deportado para a Europa e anistiado em 1844.

Em 1848 escreve um devastador panfleto contra a monarquia brasileira, intitulado “O libelo do povo”. Nele, dirige pesadíssimas críticas a todos os soberanos da dinastia de Bragança, bem como à casa real das Duas Sicílias, da qual descendia a Imperatriz Teresa Cristina, e profetiza a queda do Império (o que, de fato, acabaria acontecendo cerca de quatro décadas mais tarde).

Impressionado com as brilhantes reflexões que Torres Homem produzia acerca da situação financeira do Brasil, Dom Pedro II preferiu ignorar o passado revolucionário do talentoso economista, e utilizou a sua própria influência de soberano para fazer com que ele fosse indicado para assumir o novo ministério da fazenda, em 1858

Torres Homem foi dos homens mais influentes da economia brasileira da época, além de também vir a fazer parte do Conselho de Estado do Imperador, e de assumir a presidência do Banco do Brasil em 1866. Dessa forma, foi também o único homem de cor a comandar a economia brasileira

Também se tornaria um dos grandes precursores da campanha abolicionista no país, e um dos maiores responsáveis pela aprovação da lei do ventre livre, de 28 de setembro de 1871.

Por conta de sua postura na defesa dos negros durante as discussões da Lei do Ventre Livre no Senado do Império, recebeu do Imperador Pedro II, que tanto criticou, a Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo em 1871 e o título de título de Visconde de Inhomerim em 1872 - ironicamente, ele havia, no passado, também criticado o que ele chamou de "'nobreza achinelada', mal nascida e pobretona que vivia 'à fiuza do orçamento'"

O Visconde de Inhomirim, além de ter formação em Medicina e Direito, era poliglota, sabendo, além do português, francês, inglês e latim. Também pertenceu a várias Associações Científicas, foi membro do Instituto Histórico Brasileiro e membro do Instituto de França. Era casado com Isabel Alves Machado. A fazenda da família dela era banhada pelo rio Inhomirim, de onde veio seu nome nobre.

Torres Homem se preocupava muito com a aparência - segundo o próprio, era "preciso não deixar aos medíocres e tolos sequer essa superioridade: trajarem bem. As exterioridades têm inquestionável importância", se justificando com o fato de que seria muito mais difícil alguém atentar contra a vida de um homem bem vestido. Alfredo d'Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, descreveu Torres Homem como, apesar de um físico pouco atraente, uma figura elegante e de temperamento simpático e divertido. O padre João Manuel de Carvalho o descrevia de forma semelhante, com cara de poucos amigos, carrancudo, mas que ao se conversar com ele, era cordial e despretensioso, diferente do que se poderia achar ao vê-lo a distância."

Fonte: O Visconde de Inhomirim: o brilhante e famoso tio mulato de Carlos Alves e Augusto Glória/ Três Panfletários do Segundo Reinado. Academia Brasileira de Letras.

2 comentários:

Unknown disse...

É...a cada dia a nossa História do Brasil nos coloca diante de verdades nunca antes reveladas em livros didáticos como a participação aberta ou nos bastidores de personagens negros os quais tiveram importância dentro do senario político, econômico e social na nossa história.

Adinalzir disse...

Te agradeço pelo comentário!