sexta-feira, outubro 23, 2020

Mulheres que fizeram e fazem diferença na História de Santa Cruz


Isabel do Brasil

O bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, tem inúmeras ruas que prestam homenagens às mulheres famosas. Há também várias escolas com a designação que nos remetem à história do Brasil, do Rio de Janeiro e também ao nosso bairro.

Há, por exemplo, uma Escola Municipal Princesa Isabel e uma Avenida Isabel, obviamente celebrando a memória da Princesa, filha de Pedro Segundo com dona Tereza Cristina, que, como Regente, assinou a Lei Áurea.

Outros nomes e designações, nem sempre são reconhecidos de imediato, sendo preciso fazer algum tipo de pesquisa para ficarmos sabem de quem se trata.

É o caso de Haydea Vianna Fiúza de Castro, que designa uma escola localizada na entrada da Favela do Aço, entre os bairros de Paciência e de Santa Cruz.

Quando nos referimos às designações de escolas, quase sempre são nomes de professoras, sendo que quase todas deram aula em Santa Cruz ou nos bairros vizinhos.

Adalgiza Nery

Meralina de Castro, Sílvia de Araújo Toledo, Clara Lúcia de Souza, Dione Freitas Felisberto de Carvalho, Maria Santiago, Leila Mehl Menezes de Matos, Lourdes de Lima Rocha, Flávia dos Santos Soares, Zulmira Telles da Costa, Adalgiza Nery, Sonia Mota Molisani, Zélia Carolina da Silva Pinho, Maria de Jesus Oliveira, Eulália Rodrigues de Oliveira Vieira, Emilinha Borba, Vera Lúcia Chaves da Costa, Marlene da Silva Cardoso, Tia Dolores, Daniela Perez, Djanira Maria Ramos, Marcolina, Leuza Marins Novaes, Irinéa dos Santos Paiva, Míriam Pires, Meriluce de Oliveira Müller, Larissa dos Santos Atanazio, Maria Luiza Jobim de Queiroz, Carmen Fraga de Araújo. Rosele Nicolau Jorge Coutinho, Raquel Kelly Lanera, Elisabeth Papera, Rosa Maria Alves de Oliveira, Renée Biscaia Raposo, Inaiá Wanderley Carmo, Solange Inácia de Sá de Lacerda, Kátia Miranda Santos, Maria Rosangela Oliveira “Tia Negrinha”, Lilia Chaves da Costa, Thamiris de Andrade da Silva Santos, Maria Mesquita de Siqueira, Narcisa Amália, Leocádia Torres, Bertha Lutz, Ana Neri, Deborah Mendes de Moraes, Emma D’Ávila de Camillis, Maria Helena Sampaio Marques, Elisa Joaquina Daltro Peixoto, Myrthes Wenzel, Tatiana Chagas Memória, Josepha Ferreira da Costa, Samira Pires Ribeiro e Luiza Maria Moreira do Nascimento, foram os nomes que localizei na cartela com a lista de todas as escolas da 10ª Coordenadoria Regional de Educação que abrange os bairros de Santa Cruz, Paciência, Sepetiba, Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Ilha de Guaratiba, Jesuítas, Areia Branca, etc.

Bertha Lutz

Das mais de cinquenta escolas acima listadas, é possível ver que nem todas foram professoras e também que nem todos os nomes indicam personalidades que tiveram algum tipo de relação específica com a nossa região. É o caso, por exemplo, da Emilinha Borba, cantora famosa; Ana Neri, enfermeira voluntária e heroína na Guerra do Paraguai e Bertha Lutz, bióloga, política e ativista feminina.

O mesmo ocorre com os nomes de ruas e outros logradouros públicos. Há designações bastante evidentes, como a citada Avenida Isabel, ruas Tereza Cristina e Dona Januária, nomes que prestam homenagem às personagens da nossa realeza, e outros quase desconhecidos, como as ruas Auristela, Fernanda e Avenida Carmen, atual Avenida Engenheiro Gastão Rangel.

Mas há também nomes com forte relação histórica que, infelizmente, não são conhecidos devidamente, faltando maior disseminação e visibilidade. Citamos, por exemplo, as ruas Marquesa Ferreira e Professora Amélia Pinto das Chagas.

Dona Marquesa Ferreira foi casada com o primeiro ouvidor-mor do Rio de Janeiro, Cristóvão Monteiro, português que requereu à doação das terras de Santa Cruz, alegando ter participado e ajudado Estácio de Sá na expulsão dos franceses da cidade. Marquesa aqui é nome próprio e não título de nobreza, sendo ela, já viúva, quem de fato fez a doação das terras para os padres da Companhia de Jesus, os Jesuítas.

Quanto à professora Amélia Pinto das Chagas, além de se destacar como educadora, jornalista e palestrante, foi uma ativista feminina de grande atuação em Santa Cruz e em todo o Rio de Janeiro, defendendo vigorosamente os direitos da mulher, na década de 1930, inclusive participando de todos os movimentos que clamavam pelo direito do voto feminino.

Amélia Pinto das Chagas deu aulas e foi diretora de várias escolas localizadas em Santa Cruz e na então chamada região do Triângulo Carioca, que compreendia também os bairros de Campo Grande e Guaratiba. Fundou e dirigiu jornais e museus escolares e escreveu em vários periódicos e revistas que circularam no antigo Distrito Federal, inclusive sobre futebol, considerando que naquela época, não era muito comum ver uma mulher fazendo comentários esportivos.

Um nome que não é citado, por absoluta falta de visibilidade histórica é da “Riúna”, uma variante do adjetivo “reiuno”, que significa, “o que é fornecido pelo estado, especialmente pelo exército, para uso dos soldados.”.

As “Riúnas” ou “Reiúnas” eram mulheres escravizadas, que trabalhavam nas piores condições de insalubridade, porque eram responsáveis pela limpeza das valas que circundavam os canais de irrigação.

Era um tipo de trabalho muito estafante, porque elas precisavam entrar no meio das valas para retirar o acúmulo de vegetação que provocava o assoreamento dos canais e dos rios, o que, consequentemente, causava enchentes, trazendo a mortandade do gado e destruição das plantações, com graves prejuízos econômicos para os administradores da Fazenda Real e Imperial de Santa Cruz, além da possibilidade de disseminação de doenças como a varíola e a malária entre a população local.

Era, portanto, um trabalho rústico importantíssimo, de certa forma simples, mas muito cansativo, que os homens não queriam fazer, porque ninguém dava o valor merecido. Muitas pessoas evitavam manter contato e até fugiam das Riúnas, porque, em geral, elas saiam das valas irreconhecíveis pela sujeira da lama que se acumulava nos seus corpos.

No meu ponto de vista, de todas as mulheres que aparecem citadas como personagens importantes na História de Santa Cruz, foram as Riúnas, sem qualquer sombra de dúvida, as grandes heroínas anônimas, que ficaram relegadas à posteridade, sem jamais terem recebido qualquer tipo de homenagem.

Salve! Salve! Nossos aplausos e homenagens às Riúnas de Santa Cruz, pois foram elas que marcaram a diferença na História, com seu trabalho extenuante, de grande relevância para a população local e pelos gestos simples de altivez, de nobreza e de dignidade.

Por Sinvaldo do Nascimento Souza, professor.

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

6 comentários:

Unknown disse...

EVOÉ AS RIÚNAS DE SANTA CRUZ!

Jonathan Pôrto disse...

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Jonathan Pôrto disse...

Muito bom !! ÓTIMA PESQUISA !! Pra quem acha que Santa Cruz é depósito de gente é pq sua ignorância e incapacidade de pesquisar a torna assim, ríspida sobre o local que vive !! Ñ busca conhecimento !!

Adinalzir disse...

Valeu Unknown!
Riúnas de Santa Cruz, uma história que não pode ser esquecida.
Muito obrigado pela visita e comentário!

Adinalzir disse...

Prezado Jonathan Pôrto
Seus comentários são sempre excelentes e contributivos.
Muito obrigado pela visita!

Unknown disse...

Obrigado professor Adinalzir! Desconhecia o termo "riunas" e seu significado. Importante informação ao povo desligado da região em causa e ao carioca.