domingo, agosto 16, 2020

Novo Mundo: a impressionante história real de Chalaça


Francisco Gomes da Silva, por Simplício Rodrigues de Sá, séc. 19. O Chalaça (Rômulo Estrela) em Novo Mundo: Fotos: Wikipedia Commons e TV Globo.

Muito mais do que um simples alcoviteiro Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, foi um homem de vida extraordinária. Amigo íntimo de d. Pedro I testemunhou em primeira mão importantes acontecimentos históricos. A seguir saiba o que é real e ficção na trama da Globo.

Conhecido como Chalaça Francisco Gomes da Silva nasceu em Lisboa em 22 de setembro de 1791. Sua origem é insólita. Ele era filho do Visconde de Vila Nova da Rainha e uma de suas criadas, uma jovem chamada Maria da Conceição Alves.

Aos 8 anos de idade Chalaça foi enviado para o seminário de Santarém, com a finalidade de se tornar padre. Nessa época um amigo de seu pai chamado Antonio Gomes da Silva o registrou como seu filho e passou a tutelá-lo.

Chalaça recebeu uma excelente educação. Além de estudar matérias como filosofia e latim, ele também aprendeu a falar fluentemente francês, inglês, italiano e espanhol. Sendo assim sua fama de inculto não procede.

Em 1807 a vida de Chalaça mudou radicalmente. Aos 16 anos e prestes a ser ordenado sacerdote da Igreja Católica. Chalaça decidiu se juntar a frota que levaria a Família Real Portuguesa para o Brasil.

Detalhe de A Chegada de Dom João VI à Bahia por Candido Portinari, 1952. Foto: Google Arts & Culture.

Nesse período os exércitos de Napoleão Bonaparte, comandados pelo General Junot, estavam prestes a invadir Portugal. Não se sabe ao certo como Chalaça conseguiu um lugar nos navios.

Especula-se que ele tenha se aproveitado do caos que reinava no momento do embarque. Laurentino Gomes em seu livro 1808 afirma que “devido à pressa do embarque, a imensa maioria dos viajantes não foi registrada ou catalogada”.

Quando Chalaça chegou ao Rio de Janeiro, em março de 1808, deixou de lado todos os princípios que havia aprendido no seminário e passou a levar uma vida boemia.

Cogita-se a possibilidade de Chalaça ter conhecido o príncipe d. Pedro em algumas dessas ocasiões, mas o que sabemos com relativa certeza é que ele deixou a casa de seu pai adotivo e passou a trabalhar como barbeiro.

Paulo Rezzutti em seu livro D. Pedro: a história não contada afirma que "o cetro, a coroa e o espadim utilizados na aclamação de d. João VI, foram produzidos na oficina do pai adotivo de Chalaça, que era ourives."

Entre anos anos de 1820 e 1816, Chalaça trabalhou como criado em uma das residências da Família Real, mas acabou sendo expulso por ter engravidado uma governanta da fazenda de Santa Cruz.

Graças a intervenção de seu pai adotivo, Chalaça conseguiu voltar as boas graças de d. João VI e acabou sendo nomeado funcionário do Tesouro Real.

Em 1821 o jovem pretendia voltar com a Família Real para Portugal, o que desagradou profundamente d. Pedro, que havia sido nomeado regente na ausência do pai.

Chalaça se reaproximou de d. Pedro em meados de 1822. Em agosto deste ano acompanhou o príncipe regente a São Paulo, como membro de sua comitiva, como secretário particular.

Na ocasião d. Pedro visitava a cidade para apaziguar a tensão criada pela Bernada de Francisco Inácio. Além da guarda de honra e de Chalaça, d. Pedro estava acompanhando pelos seguintes homens:

O coronel Marcondes.
O padre Belchior.
O secretário Luís Saldanha da Gama, futuro marquês de Taubaté.
E os criados João Carlota e João Carvalho.

Após a proclamação da Independência Chalaça se tornou uma pessoa influente na corte e recebeu inúmeros favores do imperador. Ele foi nomeado tenente, capitão e acabou como coronel comandante em 1827.

Independência ou Morte de Pedro Américo, 1888. Cena da novela Novo Mundo. Fotos: Bol e TV Globo.

Ao contrário do que é mostrado na novela Novo Mundo. É altamente improvável a possibilidade de Chalaça ter mantido uma relação amorosa com Domitila de Castro Canto e Melo, a mais conhecida amante de d. Pedro I.

Tal história surgiu por meio do livro de ficção A Marquesa de Santos, escrito por Paulo Setúbal e publicado em 1925.

O contemporâneo de Chalaça Cipriano Barata, um liberal combativo que não simpatizava com o melhor amigo de d. Pedro. Afirmou que Chalaça e Domitila eram amantes e desejavam extorquir d. Pedro.

Antônio Menezes Vasconcelos de Drummond, aliado dos irmãos Andrada, que por sua vez, não simpatizavam com Domitila, também afirmou em suas memórias que Chalaça seria apaixonado pela marquesa.

Tendo isso em vista, o possível romance entre Chalaça e Domitila fica no campo da especulação e das intrigas palacianas. Tais afirmações devem ser vistas com cautela considerando a antipatia dos relatantes.

O romance entre Chalaça e Domitila nunca aconteceu na vida real. Foto: TV Globo.

Além de prestar serviços privados para d. Pedro I. Chalaça também atuou na área política. Conta-se que ele redigiu alguns discursos do monarca e o ajudou a escrever artigos da Constituição Portuguesa de 1824.

Em 1830 Chalaça partiu do Brasil rumo a Europa. A partir de então atuaria como embaixador plenipotenciário do Brasil nas Duas Sicílias e no Reino Unido.

Conta-se que ele foi exilado devido a influência do Marquês de Barbacena, dos irmãos Andrada e do chamado Partido Nativista, que não via com bons olhos a influência dos portugueses sobre o imperador no chamado Gabinete Secreto.

Chalaça se reencontrou com d. Pedro em Portugal no ano de 1833, quando o mesmo após abdicar da coroa brasileira, lutava em nome de sua filha pelo trono português, que havia sido usurpado pelo irmão, d. Miguel.

Após vencer a Guerra Civil d. Pedro contraiu tuberculose e faleceu em setembro de 1834, em Queluz. A partir de então Chalaça passaria a atuar como secretário de d. Amélia de Leuchtenberg, a viúva de d. Pedro.

Finalmente em 30 de dezembro de 1852, Francisco Gomes da Silva morreu em Lisboa, no Hotel Bragança, aos 61 anos, após protagonizar uma vida repleta de aventuras e intrigas.

De acordo com Otávio Tarquínio de Sousa em História dos fundadores do Império do Brasil: A vida de D. Pedro I – Tomo 2. "Chalaça era um homem talentoso e acima de tudo sabia servir ao seu senhor, não o contrariando jamais, solícito no desempenho de todas as incumbências, de todos os papéis, de todos os recados. Oficial de gabinete, secretário, escriba. E também espia, delator, alcoviteiro”.

Fontes:

GOMES, Laurentino. 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado. 1°. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 2010.

REZZUTTI, Paulo. D. Pedro: A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. 1° ed. São Paulo: Leya, 2015.

SOUSA, Otávio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do Brasil: A vida de D. Pedro I – Tomo 2. – Senado Federal V. 209-B: Brasília, 2015.

Originalmente postado no blograinhasmalditas

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

2 comentários:

ASTraveller disse...

blogwalking here from Malaysia. Regards! :)

Adinalzir disse...

Dear ASTraveller
Very grateful for the visit! Always visit my blog!