domingo, junho 30, 2019

Ponte dos Jesuítas



Capítulo sobre a Ponte dos Jesuítas, que está no livro Fragmentos do Rio Antigo, de André Luís Mansur Baptista e Ronaldo Morais, páginas 20, 21, 22 e 23. As fotos foram tiradas por Ronaldo Morais em 1984.

A PONTE DOS JESUÍTAS

Construída em 1752, a Ponte dos Jesuítas é um dos mais importantes e bem preservados símbolos da arquitetura colonial do Rio de Janeiro. Também conhecida como Ponte do Guandu, ela não é uma ponte comum, e sim uma ponte-comporta, já que através dos seus arcos era usada para regular a passagem das águas do Rio Guandu, que hoje não passam mais por ali, e também desviá-las para o Rio Itaguaí através de um canal artificial. Com 50 metros de extensão e seis de largura, ela também servia como passagem dos tropeiros que circulavam pelo chamado "sertão carioca", levando mantimentos e outros produtos pelas muitas fazendas da região.

Seu piso é formado por sólidas lajes, no calçamento conhecido como pé de moleque, muito usado em Paraty e o terror dos saltos altos das mulheres. Os quatro arcos, revestidos internamente com pedra, eram chamados de "óculos", e os padres, por meio de comportas de madeira, faziam a regulagem das águas para evitar enchentes que destruíam as plantações, matavam o rebanho e inundavam as casas. Feita de cantaria e construída na administração do padre Pedro Fernandes, grande empreendedor da fazenda, a ponte é ornamentada por oito colunas de granito com capitéis (parte superior de uma coluna ou pilastra) em forma de pinhas portuguesas. Na parte central, entre belas esculturas barrocas, há um bloco em mármore lioz, onde se vê um brasão com o símbolo da Companhia de Jesus (IHS) e a data de 1752, além da seguinte inscrição em latim, com a respectiva tradução:

Flecte genu, tanto sub nomine, flecte viator
Hic etiam reflua flectitur amnis agua

Dobra o joelho sob tão grande nome, viajante
Aqui também se dobra o rio em água refluente

A ponte fez parte do amplo trabalho dos jesuítas de controle das águas, drenagem e irrigação da ampla área da Fazenda de Santa Cruz, repleta de pântanos e terrenos alagadiços em geral, sempre sujeitos a inundações. Dois padres foram mandados para estudar na Holanda, que enfrentava os mesmos problemas, para aprender os procedimentos corretos. Foram feitos mapas hidrográficos por toda a região, e os vales, morros e elevações em geral, foram estudados. Os jesuítas concluíram que os leitos dos rios deveriam ser contidos nos pontos de inundação, com as pontes-comportas, aberturas de valas e canais para o escoamento das águas, solucionando o problema de enchentes e secas e tornando a Fazenda de Santa Cruz uma das mais produtivas do Brasil.

Com a canalização do Guandu, cujas águas abastecem a população da cidade, a ponte perdeu sua função original, mantendo, no entanto, a importância histórica e arquitetônica, tanto que seu tombamento foi um dos primeiros do país, em 1938, quando o governo de Getúlio Vargas criou a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje o mais importante Instituto de Preservação do Patrimônio, mais conhecido como Iphan. Infelizmente, a ponte sofreu degradação de pessoas que quiseram tirar partes de sua estrutura para algum tipo de obra, inclusive com a derrubada de duas colunas, mas os constantes trabalhos de recuperação e a conscientização da população local estão dando a este importante monumento da cidade o seu real valor. A Ponte dos Jesuítas fica na Estrada do Curtume, em Santa Cruz, ao lado da Ponte Lindolfo Collor .

Texto de André Luís Mansur Baptista
Fotos de Ronaldo de Morais

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

Um comentário:

Wellington dos Santos Silva disse...

O bairro de Santa Cruz tem muita história para contar!