Pesquisadores da Fiocruz visitarão regiões desbravadas por sanitaristas entre os anos de 1911 a 1913.
Carlos Chagas (ao centro) na expedição à Amazõnia
Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) vão refazer os passos dos médicos Carlos Chagas, Arthur Neiva e Belisário Penna, que, entre os anos de 1911 e 1913, promoveram expedições científicas pelos sertões do Brasil. Se, no início do século passado, os sanitaristas identificaram o total abandono das áreas rurais, a ausência da atuação dos governos e um grave quadro de doenças endêmicas, agora as equipes do IOC, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz, voltarão aos locais para mostrar que a pobreza ainda é um problema persistente.
As expedições acontecerão a partir da metade deste ano, com previsão de término em 2014. A ação piloto foi promovida no fim de janeiro em Paudalho, cidade de Pernambuco com 51 mil habitantes, distante 37 quilômetros de Recife. O município, que recebeu a visita dos sanitaristas há cem anos, ainda luta contra doenças vinculadas à pobreza, como esquistossomose, tuberculose e as provocadas por vermes. As expedições estarão integradas às ações do programa do governo federal Brasil Sem Miséria.
Os registros fotográficos e os documentos produzidos pelo trabalho de Chagas, Neiva e Penna mostraram, na época, um Brasil até então desconhecido para a grande maioria da população urbana, concentrada no litoral. De acordo com o pesquisador da Fiocruz Jaime Benchimol, as expedições dos médicos acabaram com a "fantasia" de que as cidades litorâneas eram insalubres, enquanto o campo oferecia qualidade de vida.
- Até então, as políticas públicas para a Saúde estavam voltadas para as epidemias que aconteciam nas cidades e, com as expedições, descobriram as doenças endêmicas do campo, a maioria relacionada à pobreza. Foi nesse período que surgiram o Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, que mostrou como vivia o homem do campo, e a defesa do saneamento básico também para o campo.
Na época, foi realizado um mapeamento da fauna e da flora brasileiras e de relatos de como vivia a população. O trabalho dos sanitaristas também forçou a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública. Historiadores afirmam que, com as expedições, ainda foi possível acelerar a ocupação do interior brasileiro. Os sanitaristas percorreram mais de sete mil quilômetros e visitaram localidades da Bahia, Pernambuco, Piauí e Goiás.
Diretora do IOC e coordenadora das novas expedições, a médica Tânia Araújo Jorge explica que as viagens serão feitas em três etapas. Na primeira, prevista para a metade deste ano, as equipes da Fiocruz passarão pelas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Segundo a médica, os estados nordestinos reúnem 59% do público alvo do Brasil Sem Miséria. Durante essa fase, as pesquisas e o trabalho com a população vão se concentrar em cidades de Pernambuco.
Já no Sudeste, os grupos promoverão idas ao Vale do Jequitinhonha, região de Minas Gerais com bolsões de pobreza, e ao complexo de favelas de Manguinhos, no Rio de Janeiro. No Centro-Oeste, serão visitadas áreas do Distrito Federal. Bahia, Ceará, Piauí e estados que integram a Amazônia farão parte das segunda e terceira etapas.
- Começamos o trabalho piloto em Paudalho por ter sido a primeira cidade a protocolar propostas ao programa Brasil Sem Miséria. Por outro lado, identificamos problemas crônicos, como falta de saneamento e doenças negligenciadas. Nossa equipe é multidisciplinar, e a ideia é promover atividades integradas e parcerias com os gestores e governos locais - explica a pesquisadora fluminense.
Com 51,6% das famílias vivendo com até dois salários mínimos, Paudalho pretende erradicar doenças ligadas à pobreza até 2015. A cidade é conhecida em Pernambuco pela forte atuação de movimentos que defendem a reforma agrária.
Ao ser indagada se muita coisa mudou 100 anos após as expedições científicas de Chagas, Neiva e Penna, Tânia Araújo Jorge diz que o trabalho de erradicação da pobreza avançou, mas ainda existem 16,2 milhões de pessoas nessa situação.
- Um mapeamento foi realizado no início do século passado. Hoje, o diagnóstico já está feito, mas as expedições têm como meta acelerar ações de combate à pobreza, que devem ser integradas a questões como renda e educação - detalha.
As expedições reunirão pesquisadores da Fiocruz das unidades do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal, e outros que atuam em parceria com universidades federais e estaduais.
Texto de Marcelo Remígio
Fonte: O Globo, 19 de fevereiro de 2012.
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Texto de Marcelo Remígio
Fonte: O Globo, 19 de fevereiro de 2012.
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6 comentários:
Parabém pelo retorno às publicações, professor Adinalzir.Sempre acesso o seu excelente blog.
A Fiocruz ao longo dos anos tem contribuído de forma decisiva para a história sanitarista do país.
Saudações históricas,
Prof. Lima Júnior
Admiro muito essa Fundação, e será uma boa se caso vierem a fazer a mesma rota da época que os Sanitaristas que participaram da expedição.
Muito boa a matéria.
Abraço
Prezado José Mendes Pereira
Fico grato pela visita. Muito em breve estarei postando outros temas por lá. Abraços!
Prezado José Lima Dias Júnior
Seus comentários sempre precisos ajudam e muito a contribuir para o sucesso do Saiba História. Muito obrigado pela visita!
Prezado amigo Lucidreira
Desde de sua criação, a Fiocruz vem oferecendo importantes contribuições para o desenvolvimento científico brasileiro e mundial. Entre elas, destaca-se a descoberta da doença de Chagas, em 1909. Um grande abraço e valeu pela visita!
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