Sobre essa fazenda, originalmente chamada Engenho de Nossa Senhora da Ajuda, já escrevemos minuciosamente aqui na página, com vasta pesquisa documental e acervo de mapas e imagens da casa senhorial. Ela foi demolida criminosamente pelo Ministério da Agricultura, na primeira metade do séc. XX.
Faltava uma imagem da capela, a qual tomei conhecimento há alguns anos, por meio da pesquisadora Conceição Araújo, que gentilmente cedeu para este breve artigo.
Do mesmo período é a demolição da capela e sobre ambas edificações, escreveu o memorialista Brasil Gerson nos anos seguintes:
"...ao serem demolidas para sua ampliação a casa grande da fazenda antiga e sua capelinha de grossas paredes, alguns operários que nela trabalhavam, encontraram uma garrafa e dentro dela um manuscrito de vetusta idade, com a notícia de que a 60 braças precisamente, na direção em que ela estava, um precioso tesouro havia de achar-se (...) Autorizados pelo diretor, organizaram-se em companhia para sua exploração, é claro que por demais difícil, pois do principal, que era a posição da garrafa misteriosa dentro das paredes, disto tinham se esquecido no emocionante instante do seu encontro (...) E necessitou-se atribuir valor histórico a mais de uma árvore imensa nos arredores, para que ela não caísse nas escavações, enfraquecendo seus alicerces..."
Essa capela era muito antiga, do início do séc. XVII, assim como a fazenda. Segue trecho de um registro de 1652, que cita ambas:
"Escritura de doação de um engenho que fazem Jorge de Souza Coutinho e sua mulher Maria de Galegos a seus filhos Inácio de Souza Coutinho e Francisco de Souza Coutinho - um engenho trapiche de duas moendas, de invocação de Nossa Senhora da Ajuda, onde chamam Guquipereri, com 65 bois, entre machos e novilhos, com casas de caldeiras com duas caldeiras, cobres, casa de purgar, com todas as formas, com casas de vivenda e de negros, com uma IGREJA com um dos sinos..." (1º Of. Notas, no Arq. Nacional)
Segundo o sábio cronista José Vieira Fazenda, posteriormente a fazenda se tornou propriedade de Cristóvão Lopes Leitão, que foi juiz do Rio de Janeiro e procurador da câmara. Homem da nobreza, teve como um de seus filhos o Frei Cristóvão de Cristo, abade do Rio de Janeiro. Outro dos seus filhos foi Cristóvão de Leitão, que por sua vez teve um filho chamado Francisco Viegas Leitão.
Diversos registros do séc. XVIII citam Francisco Viegas Leitão, neto de Cristóvão Lopes Leitão, como proprietário da mesma fazenda e, após sua morte, sua viúva Ângela de Mendonça como proprietária. Por este motivo a fazenda também se chamou Quinta do Viegas e o saco que se formava na Baía de Ganabara, entre a fazenda e a Ilha do Raimundo, se chamou Gamboa (ou saco) do Viegas.
Segue trecho, 1768, de um dos registros mencionados:
"Escritura de venda de uma fazenda que faz o reverendo padre Francisco Fonseca Barreto, como testamenteiro de Ângela de Mendonça, a Antonio Pereira da Costa - fazenda chamada de Nossa Senhora da Ajuda do Porto (...) com 800 braças de testada e o sertão que lhe pertencer, com casas cobertas de telha e CAPELA, sita ao pé de Nossa Senhora da Penha, freguesia de Irajá, partindo de uma banda com terras de Brás de Pina..." (2° Of. Notas, no Arq. Nacional)
Para não se alongar, não citaremos dados dos séculos posteriores e não falaremos sobre os demais proprietários da fazenda. Os registros citados até aqui são suficientes para valorizar a riqueza história da região, por onde caminhou a nobreza da terra. Contudo, este local tão carregado de história não foi preservado e tais edificações históricas foram demolidas após a instalação da Sociedade Nacional de Agricultura, onde hoje se localizada a Fazendinha da Penha, nos fundos do I.A.P.I. da Penha.
Agora só nos resta contar essa história! Então se você ama e valoriza a história do subúrbio carioca, compartilhe!
*Texto e pesquisa de Hugo Delphim, membro do IHGNI, publicados na Página O belo e histórico Rio de Janeiro.
*Imagem pertencente ao acervo da pesquisadora Conceição Araújo, gentilmente cedida para este artigo, restaurada e colorizada por Hugo Delphim.
2 comentários:
Um conhecimento fantástico!
Valeu seu comentário pois muitos viveram na Penha e tiveram conhecimentor histórico. Parabéns.
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