Em tempos de grandes conglomerados alimentícios, os processos pelos quais a carne passa até chegar aos supermercados muitas vezes são ignorados por nós, consumidores. Mas até o início do séc. XX, o abate de animais era bastante conhecido pelos cariocas.
Inaugurado em 1/08/1853, o Matadouro de São Cristóvão foi criado para substituir um mais antigo – o de Santa Luzia, nas proximidades do Morro do Castelo. A justificativa para a mudança era a de que o cheiro insuportável e as “imundícies” geradas pelos abates causavam desconforto em quem circulava pelo centro urbano da cidade.
Em 1845 a Câmara Municipal adquiriu a antiga Chácara do Curtume, em um mangue parcialmente aterrado nas imediações de São Cristóvão e, no ano seguinte, as obras do Matadouro tiveram início. As dificuldades com o terreno pantanoso fizeram com que fosse inaugurado apenas 7 anos depois.
Com grande estrutura, o local contava com casa administrativa, curral e casas de abate. As carnes verdes (como eram chamadas as mais frescas) eram vendidas no tendal e, a partir da inauguração da Estrada de Ferro D. Pedro II (1858), na estação São Diogo —, que funcionava como entreposto de gêneros alimentícios e outras mercadorias.
Em seu auge, o Matadouro de São Cristóvão chegou a abater até 200 cabeças de gado por dia. A importância do local era tamanha que o largo onde foi instalado ganhou o nome de Largo do Matadouro. Foi só após a instituição da República que se tornou a Praça da Bandeira. Mas o mau cheiro e a sujeira produzidos pelo local continuaram a ser um incômodo para a população. Havia denúncias de péssimas condições de transporte e abate do gado, além das reclamações sobre os rejeitos jogados no mar ou enterrados no mangue. Por conta das águas paradas e da lama, era comum esses restos retornarem à superfície.
Fazendo jus à longa trajetória de levar os incômodos para longe dos olhos da “boa sociedade” carioca, em 1881 o poder municipal resolveu instalar outro Matadouro em Santa Cruz, desativando o de São Cristóvão. Seu único vestígio é o pórtico neoclássico – obra atribuída a José Maria Jacinto Rabelo, tombada pelo patrimônio estadual em 2001 e hoje parte da Escola Nacional de Circo.
Esse texto foi elaborado por Mayara Vasconcelos @vasconcelosmaah, professora de artes e responsável pelo @saosebastiaodoriodejaneiro
Referências:
COSTA, Edite Moraes. Do boi só não se aproveita o berro! O comércio das carnes verdes e a transformação socioeconômica da Imperial Fazenda de Santa Cruz com a construção do Matadouro Industrial (1870-1890). Dissertação de mestrado, UFRRJ, 2017.
MOTA, Isabela e PAMPLONA, Patrícia. Vestígios da paisagem carioca: 50 lugares desaparecidos do Rio de Janeiro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2019.
http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/detalhar/298#:~:text=O%20matadouro%20foi%20constru%C3%ADdo%20a,s%C3%B3%20foi%20inaugurado%20em%201853.
http://indicio-de-ocio.blogspot.com/2017/07/de-largo-do-matadouro-para-praca-da.html?m=1
https://youtu.be/Mh0pf1SzPz4
https://www.ipatrimonio.org/rio-de-janeiro-portico-do-antigo-matadouro-publico/
Fonte de Consulta: @riomemorias e @saosebastiaodoriodejaneiro
2 comentários:
por que a ironia de boa sociedade? todo mundo sente cheiro.
Com certeza, meu camarada!
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