São Paulo já não é mais um colégio construído por jesuítas que pediam por carta velas velhas de navios para fazer roupas com que vestissem os seus discípulos indígenas. De indígenas, no centro da cidade, ainda existem nomes de antigos rios que correram abertos pela região, como o Anhangabaú e o Tamanduateí.
A vila jesuítica de Nóbrega e Anchieta deu lugar à terra dos "homens bons", como o português que sequestrou uma freira em Portugal, acabou degredado no Brasil e virou vereador. Os "homens bons", a elite da época, eram os que podiam votar e ser votados e fazer guerras entre eles mesmos. Famosa ficou a rixa entre as famílias Pires e Camargo, que teve que ter intervenção do governador-geral do Brasil, Francisco Barreto de Menezes, para não colocar em risco a própria existência da vila.
Mas não só de testosterona vivia a Pauliceia. São Paulo foi uma cidade feminina. Com os bandeirantes paulistas entrando interior brasileiro adentro pelos caminhos fluviais e terrestres, desfazendo-se da linha de Tordesilhas, a cidade ficava nas mãos das mulheres, que, com seu trabalho, ervas e rezas, mantinham a povoação funcionando, os filhos sadios, e ainda mandavam nos homens. Famosa ficou a história da Guerra dos Emboabas, quando São Paulo perdeu as minas de ouro para um bando de baianos e aventureiros portugueses. As mulheres não quiseram saber, mandaram seus maridos voltarem e reconquistarem as minas. Perderam novamente. Moral da história: elas nem sempre têm razão, mas é melhor obedecer.
Por Paulo Rezzutti.
Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego
2 comentários:
Um ótimo escritor e um excelente texto.
Valeu pela visita!
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