quinta-feira, dezembro 24, 2020

Temiminós, Tamoios, Goitacazes, Moromomins e Jesuítas. Os primeiros habitantes de Itaboraí



Após a derrota dos franceses na Baía de Guanabara em 1567, os portugueses fundaram aldeias para seus aliados indígenas, que tinham a função primária de posições defensivas contra ataques de corsários franceses. Além da fundação da Aldeia de São Lourenço em Niterói do chefe índio temiminó Araribóia, em 1573, o Governador  do Rio de Janeiro Salvador Corrêa de Sá concedeu mais terras aos chefes índios temiminós, principal tribo aliada dos portugueses na região, estes índios somavam mais de 5 mil, dez vezes mais que a população portuguesa no Morro do Castelo de cerca de 400. Em 1578, os caciques Vasco Fernandes, Antônio da França e Fernão Álvares solicitaram ao Rei de Portugal mais terras a serem povoadas por seu povo com a ajuda espiritual dos padres Jesuítas.

Em 1583 foi concedida pelo governador da capitania uma larga sesmaria a 19 quilômetros do Rio Macacu, batizada de Aldeia de São Barnabé pelos jesuítas. Além dos temiminós, habitavam na aldeia, índios goitacazes, tamoios e moromomins que passaram a se misturar entre si, rompendo as antigas rivalidades tribais.

Foi a Aldeia de São Barnabé uma das primeiras que os Padres Jesuítas estabeleceram além da Cidade do Rio e Janeiro, chegando a receber a visita do Padre José de Anchieta em 1583. A atual Igreja de São Barnabé em Itambi foi construída aos índios da aldeia pelo Padre José Vasconcellos.

Após a fundação da primeira aldeia do atual município de Itaboraí, chegaram os primeiros colonos portugueses a região em 1612, que construíram os primeiro engenhos de açúcar e anos depois inauguraram a Capela de São João Batista. Finalmente em 1696, foi fundada a Freguesia de São João Batista de Itaboraí, data oficial da fundação do Município. Os índios da Aldeia de São Barnabé interagiam constantemente com os portugueses, que passavam a trabalhar nos engenhos e participar de incursões militares contra contrabandistas de pau brasil. 

Os índios aldeados se tornaram a principal força militar dos portugueses na região. Em 1615 foi solicitado 400 dos índios de São Barnabé liderados por Armador de Sousa, filho de Araribóia para combater os traficantes de pau brasil holandeses em Cabo Frio na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Após a vitória contra os holandeses o Governador Constantino Menelau ordenou a construção da Fortaleza de Santo Inácio e fundou a Cidade de Santa Helena do Cabo Frio, a sétima mais antiga do Brasil.

No Século XVII, a Aldeia de São Barnabé se tornou a mais populosa do Rio de Janeiro, habitada por milhares de índios aldeados, sempre recebia novos contingentes de goitacazes das regiões conquistadas pelos portugueses.

A população da Aldeia passa a diminuir a partir do Século XVIII com o fim dos conflitos com os goitacazes e com a crescente miscigenacão entre índios aldeados, brancos e negros da Freguesia São João Batista de Itaboraí. Após a expulsão dos jesuítas em 1759 a histórica Igreja da Aldeia entra em completo abandono e muitos aldeados passam a viver entre os brancos na freguesia vizinha, iniciando o processo do fim da Aldeia que foi incorporada a Vila de São João Batista de Itaboraí no século XIX. Em 1872 autoridades locais avaliaram que já não viviam mais índios aldeados na região, pois todos já haviam se misturado com a população de Itaboraí. 

Fonte: Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Por Maria Regina Celestino de Almeida.

Compartilhado de A Terra de Santa Cruz.

Postado neste blog por Adinalzir Pereira Lamego

11 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Certamente que, depois da expulsão dos jesuítas, veio o golpe final nos índios que foi a expansão da cafeicultura ocupando as terras da região. Assim os índios foram se extinguindo no RJ. Um verdadeiro genocídio!

Adinalzir disse...

Prezado Rodrigo Phanardzis
Muito bem lembrado, a cafeicultura ajudou a contribuir para o genocídio dos índios no RJ.
A partir daí chegamos ao estágio atual com a ocupação das terras pelos colonos. Mais vez te agradeço pela contribuição valiosa de sempre. Um forte abraço!

Unknown disse...

Os Jesuitas foram os pioneitos no longo processo de extermínio do indígenas. A miscigenação nas novas aldeias construídas com o objetivo de fornecer braços para o trabalho e para as guerras dos portugueses...

Unknown disse...

🤔 Gostei do conteúdo e dos comentários 😁❤️

Getiba disse...

Prof. Adinalzir, onde encontrar um livro sobre isso?

Adinalzir disse...

Prezado Getiba
Acredito que esse tipo de literatura você possa encontrar em boa quantidade na Estante Virtual. E em outras grandes editoras da internet, como a Livraria da Travessa e a Siciliano.
Muito obrigado pela visita e volte sempre!

Adinalzir disse...

Prezado Unknown
Concordo plenamente. Fico feliz que tenha gostado da postagem. Volte sempre a este blog!

Patty disse...

Não se conta a história do extermínio dos índios na escola.
Obrigados a lutar em batalhas que não lhe pertenciam, escravizados, ou expulsos de suas terras pra dar lugar a monocultura.

Embora, interessante, o artigo comete o erro de romantizar o desaparecimento dos índios da região.

josue de oliveira disse...

Acho que os historiadores deveriam cavar na história e pesquisar mais para se esclarecer se de fato, ou até que ponto os “Goytacazes se mesclaram bom os Tamoios; sabe-se que os Tamoios viviam até na região de Cabo Frio; resta saber se esses Índios de Cabo Frio eram Tamoios de pura raça ou missigenados com os Goytacazes

josue de oliveira disse...

A minha avó era cabocla natural de “Cabo Frio” , o que me faz acreditar que um dos pais dela era um(uma) índio “TAMOYO”.

Tupinambá. disse...

Já começa ruim, quando fala da "derrota dos franceses", quando na verdade o que houve foi o massacre dos tupinambá pelos portugueses para roubarem de nós as terras onde hoje fica o litoral do estado do RJ, e a cidade do Rio. Entre outras cidades coloniais. Entendam que nos tamoyo/tupinambá não desaparecemos. Estamos aqui. E compreendam também que a colonização eurocêntricas não acabou em 1822. Ela existe até hoje. E é feita pelo estado colonialista chamado pelos brancos de brasil. Não somos brasileiros, não somos desflorestadores. Somos tupinambá, está nossa terra não se chama brasil, o nome da nossa terra é PINDORAMA.